No dia 16 de agosto, um dia após o encontro entre o presidente norte-americano Donald Trump e seu homólogo russo Vladimir Putin, o portal Brasil 247 publicou o escatológico artigo Putin e Trump compram tempo, mas quem paga é a Ucrânia, assinado pelo jornalista André Gattaz. No texto, Gattaz insinua mais do que explica; no entanto, suas insinuações são mais que suficientes para determinar sua posição em relação a um dos conflitos mais importantes dos últimos 80 anos.

O autor afirma que “a primeira impressão que fica do encontro é a forte influência que exerce Putin sobre Trump”. Continuando seu argumento, ele ainda diz que:

“’Tigrão’ para o público doméstico, Trump tornou-se ‘tchutchuca’ logo ao encontrar Putin, ainda na pista da base aérea estadunidense no Alasca, sem conseguir esconder a satisfação de estar ao lado do presidente russo. Para Trump. Vladimir Putin é como aquele tio que a gente admira e que quer ser igual quando crescer. A mesma impressão ficou durante o pronunciamento dos dois presidentes, em que Putin foi o primeiro a falar, rompendo a tradição diplomática de que o representante do país em que ocorre o encontro se pronuncie primeiro.”

Trata-se, na verdade, de uma intriga difundida largamente pelo Partido Democrata, rival de Trump. Essa intriga, criada com o objetivo de justificar uma perseguição policial a Trump, indica que o presidente norte-americano seria uma espécie de fantoche do presidente russo. Recentemente, documentos vieram à tona mostrando o envolvimento do ex-presidente democrata Barack Obama nesta campanha, em um escândalo que a imprensa burguesa tem feito esforço para omitir. Segundo tal campanha, Putin teria lançado mão dos agentes secretos do Estado russo para tentar manipular as eleições norte-americanas em favor do candidato republicano.

O maior problema da intriga não é a mentira, mas sim as conclusões políticas que partem dela. Ela ignora, em primeiro lugar, que não há máquina no mundo que mais manipule eleições e corrompa autoridades que o imperialismo norte-americano, cuja cúpula dirigente apoia o Partido Democrata. Foi o democrata Joe Biden, por exemplo, que organizou o cerco da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à Rússia, que articulou o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, que preparou a destruição do Iraque etc. Trata-se, portanto, de uma propaganda visando embelezar o papel que o imperialismo cumpre na luta de classes contemporânea.

Em segundo lugar, ao mesmo tempo em que a intriga omite o papel criminoso do imperialismo, ele tenta também atribuir esse papel ao governo russo. Afinal, a imprensa imperialista apresenta Vladimir Putin como “o czar do século XXI”, como uma grande ameaça à humanidade, ao ponto de impulsionar uma campanha de hostilidade ao povo russo em toda a Europa — campanha esta que os russos vem chamando de “russofobia”. Em resumo, a intriga tem o objetivo de dizer que aquele que reage militar, política ou diplomaticamente às agressões do imperialismo é uma ameaça à humanidade.

Essa conversa mole sobre a “influência de Putin” também vem do fato de que o articulista é incapaz de compreender o papel que o presidente norte-americano cumpre. Trump é parte interessada no fim da guerra, pois ele representa um setor da burguesia interna norte-americana que está perdendo muito dinheiro com a política externa levada adiante pelos setores mais belicistas da burguesia imperialista.

A segunda insinuação importante não é explicada no texto, mas aparece no próprio título: “quem paga é a Ucrânia”. Como assim? O que “a Ucrânia” perdeu com o encontro?

Primeiramente, é preciso definir o que seria a tal “Ucrânia”. Se isso significa o regime ucraniano, chefiado por Vladimir Zelensqui, pode-se dizer que, de certo modo, o encontro foi uma derrota parcial para a Ucrânia. Mas a derrota significa tão-somente que o presidente usurpador teria ficado um pouco mais isolado no cenário internacional, e não que ele terá que “pagar” algo.

O que faz mais sentido, no entanto, é que a tal “Ucrânia” se refira ao povo ucraniano. Se é isso que Gattaz quis dizer, trata-se de um argumento calhorda.

O povo ucraniano não é parte da guerra. A guerra é entre o imperialismo, que utiliza o Estado ucraniano, apoiado em milícias neonazistas, como instrumento de sua agressão, e os povos oprimidos de todo o mundo, que têm no Estado russo uma força de contenção à barbárie imperialista. O povo ucraniano, assim como o povo russo, são oprimidos pelo imperialismo e, neste sentido, já estão pagando muito caro pela guerra. A vitória da Rússia é a única maneira de fazer a luta dos povos avançar.

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Last Update: 17/08/2025