
A nova rodada de tarifas do governo Trump colocou o Brasil no alvo: 50% de sobretaxa sobre o café. Para cafeterias em Nova York, onde a margem de lucro já é apertada, o impacto pode ser devastador.
“Se essas tarifas se mantiverem, nosso negócio está em risco”, disse Antony Garrigues, sócio do Stone Street Cafe, em Manhattan, ao jornal britânico The Guardian. “Aqui os custos já são altíssimos, e isso pode inviabilizar nossa operação.”
O café da casa vem de mais de 35 países, incluindo o Brasil. Mas não é só o produtor brasileiro que enfrenta barreiras: Colômbia, Vietnã, Etiópia e Indonésia também estão na lista. “No fim, quem paga é o consumidor americano”, afirmou Garrigues.
Com a inflação dos preços do café já pressionada pelas mudanças climáticas, muitos estabelecimentos elevaram valores. O Ciao Gloria, no Brooklyn, que também importa cacau do Brasil, subiu 25 centavos no preço do café, mas tenta segurar novos repasses. “Quero manter o cardápio acessível”, disse o dono, Renato Poliafito.
Segundo dados oficiais, o café nos EUA subiu 14,5% no último ano. Consumidores já mudam hábitos: Helina Seyoum, de 29 anos, passou a preparar a bebida em casa. Aley Longo, de 28, reduziu as idas ao café a apenas fins de semana. “Isso afeta nossa qualidade de vida”, disse.

No Brasil, maior exportador mundial de café e principal fornecedor dos EUA, produtores falam em “desvantagem competitiva”. A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel lembra que outros países enfrentam tarifas menores, de 10% a 27%. O setor pressiona Washington por isenção, alegando que os EUA quase não produzem café internamente.
Enquanto novos embarques para os EUA ficam parados em armazéns, a China liberou 183 empresas brasileiras para exportar. Mesmo assim, a expectativa é de demora para que as vendas se consolidem.
Já Colômbia e Vietnã enxergam espaço para ganhar mercado. “O café não pode ser produzido em escala nos EUA. Todo custo extra cai no colo do consumidor americano”, disse Timen Swijtink, fundador da Lacàph Coffees, no Vietnã.
Colombianos veem até vantagem: com tarifa de apenas 10%, podem ocupar parte do espaço deixado pelo Brasil. “Isso nos beneficia, mas só no curto prazo. O cenário pode mudar antes que novos pés de café deem fruto”, alertou Alejandro Lloreda, produtor de Medellín.
Em Nova York, a incerteza domina. “Grandes corporações encontram saída. Para pequenas cafeterias, é sobreviver ou fechar as portas”, disse Poliafito. Nick Kim, gerente da Koré Coffee, resumiu: “É triste saber que coisas ruins virão e não termos como mudar.”