Vista aérea das ruas do Brás. Foto: reprodução

O polo comercial do Brás, considerado a maior feira a céu aberto da América Latina, vive um grave déficit de trabalhadores, com mais de 10 mil vagas em aberto, segundo a Associação dos Lojistas do Brás (Alobrás). A escassez atinge principalmente o setor de varejo de confecções, com lojas reportando dificuldades para manter equipes completas.

“Nunca tivemos uma situação de tanta dificuldade de mão de obra”, afirmou Lauro Pimenta, vice-presidente da Alobrás. “No universo de 5.000 lojas, estamos fazendo uma amostragem de cerca de duas vagas por loja, sendo que alguns grandes players estão pedindo 300, 400 vagas”.

O problema se agrava pela rotatividade: “As pessoas até vêm, mas ficam muito pouco tempo, dois ou três dias e não aparecem. Até tem uma piada interna: que o pessoal sai para almoçar e não volta.”

Em resposta à crise, a Prefeitura de São Paulo, por meio do Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (Cate), anunciou medidas para facilitar o preenchimento das vagas. Nesta sexta-feira (15), equipes técnicas percorreram ruas como Oriente, Miller e Casemiro de Abreu para cadastrar oportunidades de emprego na plataforma digital do órgão.

“Na prática, é não ter mais apenas as placas de empregos na porta das lojas, é incrementar a oferta de vagas de forma digitalizada na plataforma do Cate”, explicou Pimenta. Além disso, está previsto para setembro o mutirão Contrata SP, iniciativa que busca conectar empregadores e candidatos em grande escala.

Placa de vaga de emprego disponível em loja do Brás. Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

Especialistas apontam múltiplos fatores para a escassez de mão de obra na região. A pesquisadora Ana Lidia de Oliveira Aguiar, que estudou o Brás em sua tese de doutorado pela USP, destaca a transformação no perfil dos trabalhadores locais. “Originalmente, a Feira da Madrugada era voltada para o abastecimento do próprio comércio, mas com o crescimento do turismo comercial, a dinâmica mudou”, afirmou.

Outro desafio é a atratividade do trabalho autônomo via aplicativos. “Hoje é muito fácil você se cadastrar num aplicativo e oferecer um serviço de entrega ou de transporte”, observou Pimenta. A escala de trabalho 6×1, comum no varejo, também desestimula os mais jovens, levando lojistas a contratarem pessoas acima dos 60 anos para recompor equipes.

A repressão ao comércio informal é outro ponto crítico. Margarida Ramos, representante do Movimento Unido dos Camelôs (Muca), relata pressão sobre os trabalhadores ambulantes: “Minha única fonte de renda é a rua, e cada dia aumenta mais a ação da polícia, da Guarda [Municipal]”.

Casos de violência, como o do vendedor senegalês Ngange Mbaye, morto em abril durante operação policial, agravam o clima de insegurança na região.

A PM-SP informou que o caso está sob investigação e que o policial envolvido foi afastado. “Toda atuação segue protocolos técnicos e legais rigorosos, com respeito aos direitos humanos”, afirmou a corporação.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 16/08/2025