Acostumado a abrir a boca para mentir a respeito do governo Lula e espalhar desinformação sobre o tarifaço de Donald Trump, o governador de São Paulo agora aposta em um silêncio ensurdecedor diante do escândalo de corrupção que se alastra sobre a sua administração. Na terça-feira (12), o Ministério Público de São Paulo deflagrou a Operação Ícaro, que investiga um esquema que pode ter movimentado mais de R$ 1 bilhão em pagamento de propina a auditores fiscais da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo (Sefaz-SP).
O caso é nitroglicerina pura e envolve nada menos do que Artur Gomes da Silva Neto, supervisor da Diretoria de Fiscalização (DIFIS) da Secretaria, cargo de máxima confiança de Tarcísio. O supervisor foi preso temporariamente na terça, junto com o empresário Sidney Oliveira, dono da rede de farmácias Ultrafarma, e o diretor estatutário do grupo Fast Shop Mario Otávio Gomes, todos suspeitos de integrarem o esquema. De acordo com o Ministério Público, Neto atuaria para aprovar pedidos irregulares de créditos de ICMS em troca de propina.
Na esteira do escândalo, o deputado Reis (PT-SP) protocolou pedido para que seja instalada uma CPI na Assembleia Legislativa. No documento, ele pede que seja investigada “a existência de um esquema de corrupção sistêmico envolvendo auditores fiscais tributários da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, cujas vantagens indevidas recebidas podem alcançar o montante de aproximadamente R$ 1 bilhão”.
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Mídia tenta blindar governador
Curiosamente, o nome do governador, que é o candidato da Faria Lima ao Planalto em 2026, não aparece em nenhuma das reportagens sobre o assunto publicadas pelos principais jornais e sites de notícia do país. Somente na quinta-feira (14), quando o caso Ultrafarma – como vem sendo apelidado o escândalo – se tornou insustentável, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria citando “desgastes” de Tarcísio por causa do esquema, o maior de sua gestão até aqui.
O jornalista Ricardo Noblat estranhou o silêncio generalizado sobre o assunto. “A operação que investiga o esquema de corrupção da Ultrafarma, Fast e outras empresas ocorreu na terça-feira. Hoje é sexta-feira e parece que Secretaria Estadual da Fazenda de São Paulo não faz parte do governo Tarcísio. Nem um pio até o momento. Por quê?”, questionou, no X.
A operação que investiga o esquema de corrupção da Ultrafarma, Fast e outras empresas ocorreu na terça-feira. Hoje é sexta-feira e parece que Secretaria Estadual da Fazenda de São Paulo não faz parte do governo Tarcísio. Nem um pio até o momento. Por quê? pic.twitter.com/1ZGc4Xb3KO
— Blog do Noblat (@BlogdoNoblat) August 15, 2025
Cara de pau, na quarta-feira (13) Tarcísio afirmou, durante um evento do BTG Pactual, que o “Brasil não tolera mais corrupção”, esquecendo-se, convenientemente, de olhar para o próprio quintal. Os lapsos do extremista também implicam silêncio absoluto quanto à traição à pátria de Eduardo Bolsonaro, cuja atuação nos Estados Unidos contra o Brasil gerou as sanções que penalizam o estado de São Paulo em primeiro lugar.
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Tarcísio, o imoral
Nesta quinta-feira (14), a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, tratou de dar uma refrescada na memória de Tarcísio. “Um dia depois do Ministério Público desvendar um esquema bilionário de propinas na Secretaria de Fazenda de São Paulo, o governador Tarcísio vem dizer que o Brasil “não aguenta mais corrupção” e “não aguenta mais Lula”. Com que autoridade ele diz isso?”, questionou a ministra.
Um dia depois do Ministério Público desvendar um esquema bilionário de propinas na Secretaria de Fazenda de São Paulo, o governador Tarcísio vem dizer que o Brasil "não aguenta mais corrupção" e "não aguenta mais Lula". Com que autoridade ele diz isso? Logo ele, que bateu palmas…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 14, 2025
Gleisi lembrou ainda que, enquanto o governo Lula trabalha para proteger o setor produtivo, o extremista batia palmas para o tarifaço de Trump e Bolsonaro. E ainda teve o desplante de atacar o governo federal ao lado de outros governadores de extrema direita em evento de banqueiros.
“O que o Brasil não aguenta mais é gente que torce contra o país que coloca seus interesses pessoais e políticos acima dos interesses de nossas empresas, trabalhadores e famílias”, resumiu a ministra.
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O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) Paulo Teixeira também se manifestou sobre o assunto. “Fica difícil para o governador Tarcísio acusar alguém de corrupção quando o seu próprio governo está mergulhado num gigantesco escândalo de propina na Secretaria da Fazenda”.
Fica difícil para o governador @tarcisiogdf acusar alguém de corrupção quando o seu próprio governo esta mergulhado num gigantesco escândalo de propina na Secretaria da Fazenda. Mas o que é ruim ainda pode piorar. Tarcísio quer transferir as investigações de corrupção da…
— Paulo Teixeira (@pauloteixeira13) August 14, 2025
A raposa e o galinheiro
E foi além: “Mas o que é ruim ainda pode piorar. Tarcísio quer transferir as investigações de corrupção da Procuradoria do Estado para a CGE, comandada pelo bolsonarista Wagner Rosário, que participou da “reunião do golpe” em julho de 2022. Por que será?”, indagou o ministro, pela rede X.
Teixeira referiu-se à proposta de emenda à Constituição paulista enviada pelo governador no ano passado pedindo a revogação do dispositivo que atribui à Procuradoria do Estado a investigação de casos de corrupção de servidores.
“Freitas quer que essas apurações sejam feitas pela Controladoria-Geral do Estado (CGE), hoje liderada por Wagner Rosário, ex-ministro da Controladoria Geral da União (CGU) no governo de Jair Bolsonaro (PL). Aliado do ex-presidente, Rosário esteve na reunião de cunho golpista de 2022 que foi amplamente divulgada e debateu interferência nas eleições daquele ano”, relatou o site Conjur, em reportagem publicada em 24 de fevereiro do ano passado, sob o apropriado título “A Raposa e o Galinheiro”.
Para o deputado Bohn Gass (PT-RS), Tarcísio não tem mesmo autoridade para falar em corrupção, dado o histórico recente do extremista. “Logo ele, que era da cúpula do governo Bolsonaro, em que pastores cobravam propinas em troca de verbas do MEC; do governo do um dólar por vacina; do governo da família das rachadinhas. Mas que cara de pau!”, apontou o petista.
Como é? Governador Tarcísio, agora, resolveu falar de corrupção? Logo ele, que era da cúpula do governo Bolsonaro, em que pastores cobravam propinas em troca de verbas do MEC; do governo do um dólar por vacina; do governo da família das rachadinhas.
Mas que cara de pau!— Bohn Gass (@BohnGass) August 14, 2025
Da Redação