O primeiro turno das eleições gerais da Bolívia será realizado no próximo domingo, 17 de agosto. Caso haja segundo turno, ele ocorrerá em 25 de outubro. De qualquer forma, seja qual for o resultado, o imperialismo venceu. A estratégia implementada pela embaixada dos EUA — que era a inabilitação de Evo Morales e a unificação da direita — foi implementada com sucesso, embora não apenas pelos méritos do governo norte-americano ou de suas agências de espionagem. Houve a colaboração expressiva da burguesia boliviana, principalmente através da criação do indefectível lawfare contra o candidato mais popular, seja pela ação dos seus próprios aliados que se encarregaram de torpedear de todos os modos sua candidatura ao terceiro mandato.

Acabar com a experiência socialista, indígena, nacionalista e anti-imperialista boliviana, que foi o maior intervalo no processo de pilhagem imperialista ao longo dos séculos, foi durante anos o sonho da burguesia boliviana. Desde a destituição de Evo Morales e a imposição da presidente de fato, Jeanine Áñez, pelo golpe de Estado de 2019, o único governo boliviano efetivamente popular não existe mais.

Hoje, apenas sobrevivem, resistindo ao rolo compressor de Washington, o governo de Maduro, na Venezuela, e o de Daniel Ortega, na Nicarágua. A única promessa socialista continua sendo Cuba, pagando um enorme custo pela sua resiliência. O neoliberalismo e o neocolonialismo retornaram em vários países da região, até mesmo em governos antes populares, como Lula no Brasil. Além de Morales, agora está Cristina Fernández de Kirchner, proibida de se candidatar e presa por um crime que não cometeu. Este é o caso também de Rafael Correa, em exílio permanente, e de seu ex-vice-presidente, sequestrado na embaixada do México, onde estava exilado, e preso pelo governo criminoso de Daniel Noboa no Equador, instrumento direto do governo norte-americano no país que antes tinha fechado a base militar norte-americana.

O novo governo do MAS, tendo como presidente Luis Arce, manifestou desde o início seu caráter de classe. Rejeitou desde o início a manutenção da política de reformas sociais de Morales e implantou um governo nitidamente pequeno-burguês e sem interesse de manter estreitos laços com o movimento indígena, base política principal de Morales.

A luta política dentro do MAS começou justamente por causa do confronto de propostas políticas entre os dois líderes: Evo Morales, chefe de Estado de 2006 a 2019, e seu ex-ministro da Economia, Luis Arce, de 2020 até o presente. A distância entre eles atingiu níveis intransponíveis e violentos, porque Arce antagonizava Evo Morales não apenas pela disputa sobre quem seria o candidato a presidente do MAS, mas por sua adesão a um programa econômico que não adotava mais a postura anti-imperialista que Morales continua defendendo em um processo de radicalização política.

As eleições presidenciais

O Movimiento Al Socialismo foi por muitos anos invencível por causa de sua autêntica representatividade, força popular e pelo fato de seus governos terem transformado a Bolívia como nunca antes em cinco séculos, dando real destaque às maiorias historicamente negligenciadas. Estas bases estão atualmente divididas não apenas entre a candidatura impedida judicialmente de Evo Morales e a candidatura renunciada de Luis Arce, mas entre projetos distintos de poder. Morales defende o projeto histórico de cunho anti-imperialista e reformista, enquanto Arce o abandonou totalmente em prol de um desenvolvimentismo burguês e conservador.

Dessa forma, o que antes era o MAS (Movimiento al Socialismo) tem agora três candidatos para as próximas eleições, cada um com nomes ou credenciais eleitorais diferentes: Andrónico Rodríguez, presidente do Senado e o jovem com maior perfil de renovação, talvez o mais bem-posicionado; o atual ministro do Interior de Arce, Eduardo del Castillo, também jovem; e Eva Copa, prefeita da populosa cidade de El Alto, vizinha da capital, La Paz. Nem Evo nem Lucho Arce estão concorrendo. O primeiro, porque o tribunal eleitoral o impede ilegalmente de fazê-lo, de acordo com uma interpretação da Constituição que Evo refuta. Além disso, o ex-presidente, agora refugiado em sua terra natal, Chapare, tem um processo criminal forjado em andamento e um mandado de prisão para comparecer a depoimento sobre acusações de agressão sexual. O segundo, porque não conta mais com apoio popular e renunciou a concorrer.

A direita também lançou vários candidatos. Entre os que apresentam maior vantagem, segundo as pesquisas — sempre manipuláveis —, estão Jorge “Tuto” Quiroga, um homem treinado pelo ditador Hugo Banzer (1971-1978, depois eleito nas eleições de 1997 e 2001), sob cuja vice-presidência serviu e, por um breve período, foi seu chefe de Estado quando o militar adoeceu mortalmente ao final de seu segundo mandato; Samuel Doria Medina — um dos 500 empresários mais ricos da América Latina — candidato fracassado diversas vezes; e Manfred Reyes Villa, prefeito de Cochabamba, ex-militar e um dos golpistas contra Evo Morales, após o qual fugiu e se exilou no Brasil, protegido pelo bolsonarismo, até poder retornar ao seu país e reconquistar a prefeitura.

A lei eleitoral boliviana estabelece que, para vencer no primeiro turno, o candidato presidencial deve obter mais de 50% dos votos válidos, ou um mínimo de 40%, mas com uma diferença de 10% sobre o segundo colocado. Caso contrário, haverá um segundo turno entre os dois candidatos mais votados, que ocorrerá em 25 de outubro.

Os candidatos presidenciais são: Andrónico Rodríguez, pela Aliança Popular; Max Jhonny Fernández, pela Aliança Força Popular; Manfred Reyes Villa, pelo partido Autonomia para a Bolívia Súmate; Jorge “Tuto” Quiroga, pela Aliança Liberdade e Democracia; Rodrigo Paz Pereira, pelo Partido Democrata Cristão; Carlos Eduardo del Castillo, pelo partido governista MAS; e Samuel Doria Medina, pela Aliança Unidade. Segundo as últimas pesquisas, os candidatos da direita Medina (24,5%), o ex-presidente Jorge Quiroga (22,9%) e Rodrigo Paz (7,6%) lideram, seguidos pelo candidato da esquerda Andrónico Rodríguez, com 7,4%, e pelo ex-militar Manfred Reyes Villa (7,2%). Estas pesquisas são, como sempre, questionáveis, mas dão uma certa ideia do que cada candidato tem de apoio.

Como se sabe, na Bolívia, 25% da população não é considerada nas urnas devido à dispersão do sufrágio rural. Essas comunidades se reúnem e concordam em votar em um candidato, mas ainda não se sabe se votarão no voto nulo, como defende Evo Morales, ou em Andrónico. Se Morales mantiver sua base popular, o voto nulo pode chegar a altos índices, deslegitimando a eleição, mas não tendo efeito legal.

Vamos analisar algumas características dos três principais candidatos de direita. Samuel Doria Medina é um empresário multimilionário e ex-ministro que tentou a presidência três vezes. Dono de uma rede de hotéis e de uma franquia do Burger King na Bolívia, ele anseia por estreitar laços com o presidente dos EUA, Donald Trump. Ele prevê a abolição dos benefícios sociais e o fechamento de empresas estatais. Com a ajuda de Washington, ele controla diversos meios de comunicação para influenciar os eleitores. Sua possível vitória levaria a um grande declínio no padrão de vida da população, ao aumento da desigualdade, à escalada de protestos populares e ao agravamento da criminalidade. É a chamada tempestade perfeita.

Jorge “Tuto” Quiroga estudou engenharia industrial na Universidade do Texas, trabalhou para a multinacional IBM e se casou com a americana Virginia Gillum. É um extraordinário exemplo da chamada elite, que de boliviana nada tem. Em 1988, retornou à Bolívia e filiou-se ao partido Ação Democrática Nacionalista, fundado pelo ditador e ex-presidente Hugo Banzer. Ocupou cargos no FMI, no Banco Mundial e na Corporação Andina de Desenvolvimento. Em 1997, atuou como vice-presidente durante a ditadura de Banzer. Sucedeu Banzer como presidente de agosto de 2001 a agosto de 2002. Se ele vencer a presidência, seu governo se tornará um protetorado dos Estados Unidos, controlando os recursos naturais da Bolívia e reduzindo os programas sociais de saúde, educação e cultura. Ele tem uma grande expertise em governos ditatoriais e poderá aplicá-la em seu governo.

Quanto a Manfred Reyes Villa, o ex-capitão (como Bolsonaro) ingressou na política também pelo partido fundado por Hugo Banzer. Ele venceu várias eleições como vereador e prefeito de Cochabamba graças ao apoio de forças de direita e fascistas e à manipulação imprópria da mídia que controla. Um tribunal boliviano o considerou culpado de corrupção passiva e o condenou a cinco anos de prisão em 2016. Para evitar a punição, o líder corrupto se escondeu nos Estados Unidos e depois retornou a La Paz.

Enquanto isso, Andrónico Rodríguez, ex-presidente do Senado, foi apontado como a escolha da esquerda boliviana após a cisão do MAS. O candidato Andrónico Rodríguez, do Movimento ao Socialismo (MAS), apresentou um programa de governo que busca reviver e reformar o modelo histórico do MAS, com foco em adaptação aos desafios do século XXI. Aqui estão os principais pontos:

  • Continuidade com Reformas: Propõe retomar o modelo estatal de intervenção econômica iniciado por Evo Morales em 2006, mas com correções e atualizações. Reafirma o compromisso com o chamado “processo de mudança”, mantendo a base social do MAS, mas abrindo diálogo com novos setores como acadêmicos, empreendedores, mulheres, jovens e regiões marginalizadas.
  • Economia: Defende o papel central do Estado em setores estratégicos. Promove a economia comunitária, o cooperativismo e a colaboração com o setor privado, com foco em “desenvolvimento integral”.
  • Inclusão e Participação: Promete fortalecer os movimentos sociais que deram origem ao MAS. Busca ampliar a participação política e econômica de grupos historicamente excluídos. Mas é patente sua aproximação com a burguesia e o abandono do movimento indígena, base de Morales.

A ofensiva do imperialismo

Estas eleições significam uma grande oportunidade para a direita boliviana, que é apoiada pela mídia dominante, sendo que a crise econômica possibilita refutar o modelo desenvolvimentista popular de Morales e as divisões das forças de esquerda abrem espaço para uma vitória eleitoral do retrocesso.

O imperialismo pode retomar o controle geopolítico do país, e o capital estadunidense, em particular as poderosas empresas de mineração, farmacêuticas e militares, pode retomar o controle das ricas reservas de lítio, gás e biodiversidade do país andino. Para isso, formaram um sórdido time de aliados de ditaduras e milionários da elite boliviana ávidos por tomar o poder.

O fracasso dos ideólogos da renovação

Tudo o que os agora autoproclamados “representantes” do “campo popular” (Del Castillo e Andrónico) fizeram para se tornarem candidatos foi baseado na ideia de que Evo já havia sido superado e que era preciso dar lugar à renovação.

Tomando isso como um fato inegável, o atual presidente Arce e seus seguidores roubaram a sigla MAS, encurralaram Evo com processos judiciais e até tentaram assassiná-lo. Motivado pela mesma ideia, Andrónico acabou se distanciando de Evo com um discurso efusivo no qual o criticou, dizendo que até o “melhor político perde o olfato, os cálculos, a noção da realidade política”. Basicamente, ele estava lhe dizendo que seu tempo havia passado, que ele deveria se aposentar e dar lugar à renovação que o povo supostamente deseja.

Agora, descobre-se que o pretenso cadáver chamado Evo, que eles já haviam enterrado, é a razão pela qual Andrónico e Del Castillo não conseguiram ultrapassar 6% ou 7% (dependendo da pesquisa) de apoio popular. Algo não bate com a atual acusação contra Evo, culpando-o pelo fracasso eleitoral. Uma de duas coisas: com essa acusação, eles estão aceitando que o povo continua apoiando Evo maciçamente ou reconhecendo que é sua própria mediocridade a razão do fracasso eleitoral dos “renovadores”. Assim, surgem novas perguntas: era renovação o que o povo buscava? Quem perdeu — ou nunca teve — o faro e a compreensão da realidade política?

Tudo indica que, ao contrário do que a mídia burguesa e imperialista propaga, a operação realizada para remover Evo da cena política nacional fracassou completamente. Os “intelectuais” da renovação, com o apoio de Arce e de todo o Estado à sua disposição, aventuraram-se a realizar uma operação que acreditavam ser possível: a separação entre um programa de mudanças e seu Líder Histórico. É muito semelhante ao que aconteceu no Brasil com o golpe de 2016, a prisão de Lula e a ascensão do “mito” Bolsonaro. Para os “renovadores” petistas, Lula estava ultrapassado e era necessário continuar o processo eleitoral sem o Lula. Mas aqui, como lá, o povo compreendeu que eleição sem líderes populares como Lula ou Evo Morales, é FRAUDE.

Na Bolívia, os “renovadores” se esforçaram em rotular tudo de ruim nos governos de Evo como “Evismo”, para distingui-lo do “Masismo” e do “processo de mudança”. Ingenuamente e em benefício próprio, afirmaram que “foi comprovado com Lucho Arce que o processo de mudança não dependia de Evo, que as eleições poderiam ser vencidas sem ele”; “que Evo não expressa mais as expectativas do povo, que o povo quer um profissional”. Tiveram a coragem de dizer que “a classe média é o sujeito histórico” e defender um governo “renovado”, isto é, “branco, limpinho e cheiroso”.

A justificativa para o voto nulo

A aposta atual do “evismo” na arena eleitoral é a convocação do voto nulo, sem dúvida uma aposta ousada que, nas condições atuais, pareceria uma retaliação pela impossibilidade de Evo participar das eleições.

O bloco popular que compõe o Evismo é herdeiro de lutas por reivindicações como o direito ao voto, que não existia para a maioria do país até a revolução de 1952. Mas o movimento indígena superaria essa posição de subordinação que lhe era imposta. Em 1974, ocorreu o “Massacre do Vale”, rompendo o pacto militar-camponês. O movimento indígena começou a articular seu próprio projeto político, questionando a ordem de exclusão vigente e as promessas não cumpridas da revolução. Isso os levou a dar os primeiros passos na organização de suas próprias estruturas partidárias: seu próprio instrumento político.

A partir dessas experiências, forjou-se o caráter do movimento indígena, um movimento que se caracterizaria por buscar governar a si mesmo, mas governando a Bolívia. Uma das primeiras experiências de participação em eleições nacionais combinando a organização sindical com seu instrumento político foi a do Movimento Revolucionário Tupaj Katari (MRTK), na década de 1980.

Nesse contexto, o maior grau de maturidade do movimento indígena no sistema político nacional ocorreu com o MAS-IPSP, que conseguiu unir todos os movimentos sociais do país, chegando ao governo durante o mais longo período de hegemonia popular da história da Bolívia, liderado por Evo Morales. O movimento desenvolveu ampla capacidade de organização e construção de um projeto político, mas também de gestão do Estado. Isso criou um movimento com alta capacidade de organização, conhecimento da realidade nacional e ação política.

Assim como o movimento indígena aprendeu a navegar na arena da democracia representativa e a organizar e dirigir o Estado por meio desses mecanismos, o atual apelo ao voto nulo não pode ser compreendido sem esse acúmulo prévio. Sim, como vimos, o vínculo entre o povo e seu líder histórico não pôde ser rompido, apesar de todos os esforços dos reformadores. O fato de o governo Arce ter proscrito Evo ilegalmente é interpretado pelo movimento popular como uma restrição de direitos há muito aguardados e, portanto, como o sofrimento de um sistema “democrático” imoral. Por isso, vamos ter que suportar uma Bolívia sem Morales. Pode ser por um curto período. Assim como aconteceu com o golpe de 2019.

A crise do modelo colonial

A atual crise econômica na Bolívia não é apenas um quadro conjuntural. O país enfrenta uma crise estrutural que revela as profundas contradições do modelo econômico boliviano. A crise energética está no cerne desse desastre, manifestando-se em uma grave escassez de combustível que paralisou setores produtivos inteiros. Essa crise é resultado do esgotamento dos recursos de hidrocarbonetos e de anos de má gestão e falta de investimento. O país não consegue atender à demanda por combustível devido à falta de dólares, destacando a profundidade da crise cambial que o país atravessa desde fevereiro de 2023.

A escassez de dólares tem suas raízes na erosão do modelo da indústria extrativa e na queda das receitas do gás, comprometendo gravemente a capacidade da Bolívia de gerar divisas. Em 2024, o governo destinou mais de US$ 3,3 bilhões para garantir o abastecimento. Este desastre econômico deve-se fundamentalmente ao esgotamento do modelo extrativista que sustentou o boom econômico do governo Evo. O declínio da produção de gás, atribuído à falta de investimento e exploração, deixou o país sem sua principal fonte de divisas em um contexto internacional adverso. A dependência excessiva da exportação de hidrocarbonetos, sem real diversificação produtiva, tornou a Bolívia refém das flutuações do mercado internacional de energia e de suas próprias limitações geológicas.

A fratura dos movimentos sociais também reflete a ausência de uma estratégia que permitisse o aprofundamento da consciência anti-imperialista para além das lideranças carismáticas. A adoção pelo governo Arce de uma política de adaptação à estrutura primário-exportadora e de submissão ao FMI e, portanto, ao imperialismo, impediu o avanço de uma política efetiva de substituição de importações e de controle do governo do comércio exterior, fez com que o governo evoluísse cada vez mais para a direita e para um confronto com as forças populares.

Essa dinâmica reproduz com precisão matemática o que ocorreu na Argentina, onde Cristina Fernández de Kirchner cometeu o erro estratégico de escolher Alberto Fernández como seu candidato presidencial em 2019, repetindo o mesmo padrão que levaria Evo Morales a ungir Luis Arce como seu sucessor. Em ambos os casos, líderes de longa data do campo popular optaram por figuras consideradas “moderadas” e tecnicamente competentes, acreditando que poderiam manter o controle político nas sombras, evitando o confronto direto com o imperialismo e a burguesia boliviana. O resultado foi idêntico em ambos os países: os eleitos desenvolveram suas próprias ambições, distanciaram-se da base popular e se tornaram incapazes de sustentar a coesão do campo popular e as expectativas transformadoras de suas bases sociais.

A reorganização da direita boliviana, coordenada pelo imperialismo, representa um dos fenômenos políticos mais significativos do cenário eleitoral de 2025. Os ex-presidentes Carlos Mesa e Jorge Tuto Quiroga, juntamente com o governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, e o empresário Samuel Doria Medina, aceitando a proposta política do imperialismo via embaixada dos EUA em La Paz, assinaram um acordo em dezembro de 2024 para unificar a oposição, formando um bloco que busca capitalizar a crise do MAS. Essa unidade, segundo seus líderes, decorre da “escuta da voz popular” e da garantia de “um único candidato da oposição nas eleições”. A estratégia da direita unificada consiste em se apresentar como uma alternativa estável ao caos gerado pela fratura do MAS, ao mesmo tempo em que promove um programa de restauração neoliberal que inclui a flexibilização trabalhista, a abertura irrestrita ao capital estrangeiro e o desmantelamento das políticas sociais dos governos de Evo Morales.

A transição da Política Externa Anti-imperialista ao servilismo da direita

A política externa boliviana se tornou um paradigma para as nações do mundo, onde o classismo, o autoritarismo e as violações dos direitos humanos, entre outros, eram intoleráveis, com a diplomacia popular servindo como ponta de lança da política internacional global.

Neste contexto, Evo Morales Ayma visitou Pequim, Moscou, Teerã etc., onde os negócios e/ou tratados internacionais eram conduzidos com base no respeito à soberania e à autodeterminação, e não sob subjugação ou condições de curto ou longo prazo impostas por sujeitos internacionais.

Um exemplo claro das políticas de solidariedade internacional durante o governo de Morales Ayma foi o rompimento das relações diplomáticas com Israel em 2009 — após 59 anos de relações ininterruptas — em decorrência do ataque unilateral e desumano da entidade sionista à população indefesa de Gaza. Por causa disso, o primeiro presidente indígena rotulou Israel de “Estado terrorista” em 2014, novamente por seus atos genocidas contra a Palestina, que naquela ocasião resultaram em mais de 1.400 mortes.

As ações de Evo no cenário internacional foram — e continuam sendo — uma prova clara de como um líder que emergiu das profundezas do povo — que foi vítima e testemunha do extermínio e genocídio europeu em “Abya Yala” — tomou medidas firmes para denunciar e condenar o extermínio da Palestina.

Seguindo essa linha — apesar de as relações diplomáticas com Israel terem sido restabelecidas em 2019 em decorrência do golpe de Estado contra Morales —, Luis Arce voltou a seguir essa política internacional. Em 31 de outubro de 2023, quando o extermínio contra Gaza recomeçou, o presidente boliviano, em protesto e denúncia do genocídio, rompeu novamente as relações diplomáticas com Tel Aviv.

A política externa e internacional da Bolívia está agora em perigo, ainda mais agora que o arquiteto do Estado Plurinacional — Evo Morales Ayma — está proibido de participar das eleições presidenciais. Isso significa que a Bolívia voltará a ser o quintal das potências ocidentais, que não concordam com regras, mas apenas as impõem por meio da força física ou de golpes brandos de seus aparatos econômicos, como o FMI e o Banco Mundial.

Os programas de governo de Samuel Doria Medina, Jorge “Tuto” Quiroga e Manfred Reyes Villa revelam os planos contra os interesses da classe trabalhadora e a traição nacional direcionada para converter o território da Bolívia em propriedade de corporações transnacionais, com as privatizações funcionando como ponta de lança para a exploração de recursos energéticos bolivianos, como lítio e terras raras. Como diziam antigamente em relação ao Império Romano: “Roma locuta, causa finita”.

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Last Update: 15/08/2025