golpista presa
Ana Paula

Por Ana Oliveira e Felipe Borges

A paranaense Ana Paula de Souza, condenada a 14 anos de prisão pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, afirma viver uma situação de abandono na penitenciária de Ezeiza, em Buenos Aires. Foragida desde fevereiro do ano passado, quando quebrou a tornozeleira eletrônica que usava no Brasil, ela foi presa na capital argentina após pedido de extradição feito pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Estamos esquecidos em uma penitenciária da Argentina”, diz Ana Paula. “Estamos simplesmente abandonados, jogados às traças e ninguém se preocupa. A nossa vida não importa, a nossa família não importa, a nossa saúde não importa.”

A audiência que decidiria seu futuro estava marcada para 18 de junho, mas já foi adiada duas vezes e acabou suspensa após recursos apresentados pela defesa. Ela divide a prisão com outras duas mulheres — uma condenada por tráfico de drogas e outra por sequestro seguido de morte — e relata episódios de intimidação e extorsão por parte de companheiras de cela.

Segundo a brasileira, sua rotina inclui comprar alimentos e outros itens para as colegas por medo de represálias. Antes de ser transferida para o local atual, afirma ter sido mantida em um pavilhão com 11 detentas, sem banho de sol e em condições precárias, onde sofreu xenofobia e chegou a ter a água potável trocada por água suja.

Fuga e prisão

Ana Paula fugiu do Brasil de ônibus, cruzando a fronteira seca entre Dionísio Cerqueira (SC) e Bernardo de Irigoyen, na Argentina, usando apenas o documento de identidade. Ao chegar a Buenos Aires, pediu refúgio à Comissão Nacional para os Refugiados da Argentina (Conare) e acreditou que teria proteção.

No entanto, afirma que a própria comissão teria repassado seu endereço às autoridades responsáveis por sua prisão. “Eu confiei nesse país. Segui a lei desse país. E pra quê? A própria instituição que deveria nos proteger foi a que primeiro nos traiu”, acusa.

A brasileira diz não se arrepender de ter deixado o Brasil, mas admite que teria escolhido outro destino se soubesse como seria tratada na Argentina.

Críticas a Milei e aos aliados de Bolsonaro

Ana Paula afirma sentir-se traída pelo governo de Javier Milei, que, segundo ela, foi negligente diante da situação dos brasileiros presos. “Não tem como você dizer que Lula e Alexandre de Moraes perseguem os brasileiros e, quando essas pessoas vêm para cá pedir ajuda, você os prende. Para mim, isso não é coerente”, declarou.

Milei nunca se manifestou publicamente sobre o caso dos foragidos do 8 de janeiro que buscaram refúgio no país. Integrantes do seu governo afirmam que a decisão sobre o asilo cabe à Conare, mas reconhecem que a palavra final pode ser política.

A brasileira também reclama da ausência de apoio de parlamentares bolsonaristas. Ela cita que, apesar de visitas feitas em maio por nomes como Magno Malta (PL-ES) e Damares Alves (Republicanos-DF), não houve continuidade no contato com os presos ou suas famílias.

“Todos os foragidos aqui se sentem abandonados. Os que não foram presos têm medo, porque ainda são alvos dos pedidos de extradição. Alguns já saíram da Argentina, mas muitos permanecem, esperando uma decisão sobre o refúgio”, afirma.

Condenada por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa, Ana Paula mantém a mesma narrativa desde sua prisão: diz que participou apenas de uma “manifestação” e nega envolvimento direto na depredação das sedes dos Três Poderes.

→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… Saiba que o Pragmatismo não tem investidores e não está entre os veículos que recebem publicidade estatal do governo. Fazer jornalismo custa caro. Com apenas R$ 1 REAL você nos ajuda a pagar nossos profissionais e a estrutura. Seu apoio é muito importante e fortalece a mídia independente. Doe através da chave-pix: [email protected]

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 14/08/2025