Preços de julho pagos pela indústria americana são os maiores em 3 anos.

O novo regime tarifário de Donald Trump já está fazendo os preços explodirem nos Estados Unidos. Dados do Departamento do Trabalho do país, divulgados nesta quinta-feira, mostram que a inflação ao produtor (PPI) saltou 0,9% em julho, o maior avanço no período. Enquanto a política de tarifas começa a mostrar seu preço dentro de casa, uma curiosa ironia econômica se desenha no Brasil.

Apesar da especulação de que o ‘tarifaço’ de Trump possa ter ajudado a conter a inflação no Brasil, é muito mais provável que a calmaria nos preços por aqui tenha razões totalmente domésticas. Há dois fatores principais para isso.

O primeiro pode ser a forte alta nos juros promovida pelo Banco Central, que mantém a taxa Selic em 15% ao ano, um dos maiores patamares em vários anos, desestimulando o consumo e esfriando a economia. Usamos aqui a expressão pode ser porque muitos economistas não acreditam nessa correlação tão direta entre juros básicos e inflação.

O grande protagonista, sobretudo, é a supersafra agrícola brasileira, além do aumento no abate de animais.

Dados recém-divulgados pelo IBGE, também nesta quinta (14), apontam para uma colheita recorde de 340,5 milhões de toneladas em 2025, um salto de 16,3% em relação ao ano anterior.

O abate de bovinos, suínos, frangos, além da produção de ovos e leite, igualmente vem registrando aumentos muito expressivos nos últimos meses, no Brasil.

Para entender o que está em jogo, basta saber que a inflação ao produtor é um termômetro que antecipa a febre. Ela mede os custos da indústria com matérias-primas e insumos. Quando esses custos sobem, semanas depois o aumento é repassado para os produtos nas prateleiras. Essa regra vale no mundo todo. Por isso, os resultados de julho mostram que EUA e Brasil estão seguindo caminhos opostos.

Nos EUA, o relatório oficial mostra uma alta geral. Os preços dos bens subiram 0,7% e os de serviços, 1,1% em julho. Os vilões são justamente os produtos afetados pelas sobretaxas, como aço e alumínio, além de uma disparada de quase 40% nos vegetais. Economistas já avisam que é questão de tempo para esse aumento chegar com força ao consumidor, o que pode forçar o banco central americano a repensar um esperado corte de juros.

Enquanto isso, no Brasil, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) contou uma história oposta, com leve queda de 0,07% em julho. O seu principal componente, que mede os preços ao produtor, caiu 0,34%, puxado pelo barateamento de matérias-primas importantes como minério de ferro e soja. Curiosamente, até a alta no custo da construção foi influenciada por produtos de PVC, que ficaram mais caros por conta de tarifas de importação de resinas, mostrando como o comércio global tem efeitos complexos.

É aqui que a especulação sobre o “tarifaço” volta à cena. Com a safra brasileira batendo recordes, é possível que a política de Trump esteja criando um “efeito represa”. Produtos que normalmente seriam exportados para os Estados Unidos, como carnes e grãos, podem estar sendo retidos ou redirecionados para o mercado doméstico diante das novas barreiras. Com mais produtos disponíveis no Brasil, a tendência é que os preços caiam, beneficiando tanto a indústria quanto o consumidor.

No fim, julho de 2025 desenhou dois cenários econômicos bem distintos. De um lado, um governo que aposta em tarifas e vê a inflação disparar como consequência. Do outro, um país que colhe os frutos de uma produção recorde, mas que, talvez, receba uma ajuda inesperada justamente do mesmo país que resolveu agredi-lo com tarifas irracionais.

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Last Update: 14/08/2025