O 8 de Janeiro dos engravatados

“Ou o Brasil encerra esse ciclo de violência política agora, ou a próxima tentativa de golpe será ainda pior”, escreve o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara

Lindbergh Farias (*)

O motim de parlamentares bolsonaristas no plenário da Câmara dos Deputados foi simplesmente uma afronta direta à democracia e uma reedição engravatada do golpe tentado em 8 de janeiro de 2023. A direção da Casa não pode contemporizar: é preciso uma punição exemplar, com suspensão dos mandatos por seis meses. Do contrário, o episódio servirá de manual para a repetição de futuras investidas contra as instituições.

A ocupação à força da Mesa Diretora, com o uso de expedientes como mordaças e correntes, gritos e ameaças, impedindo a abertura dos trabalhos legislativos, não tinha outro objetivo além de chantagear o Congresso para votar a anistia aos criminosos de 8 de janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, cuja condenação por tentativa de golpe se aproxima.

Durante mais de 30 horas, os bolsonaristas espalharam o terror e transformaram a Câmara em palco para desafiar as instituições. Não se trata de mero protesto político, mas de um crime tipificado no Código Penal: “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos Poderes constitucionais” (Art. 359-L). Pena de quatro a oito anos de reclusão. No Brasil, os golpistas estão achando que têm passe livre para atacar a democracia sem consequências.

Na segunda-feira 11/08 entrei com representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os amotinados bolsonaristas. O pedido é para que seja instaurado inquérito criminal contra eles por tomar de assalto e sequestrar, de forma ilícita e coordenada, o Plenário da Câmara dos Deputados.

Se em 8 de janeiro de 2023 os extremistas invadiram o Planalto, o STF e o Congresso com pedras e porretes, agora seus representantes no Parlamento tentaram sabotar o próprio Legislativo por dentro. Uma repetição do ataque sistemático às instituições.

É, aliás, o que faz diuturnamente, nos Estados Unidos, o deputado de extrema-direita Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Exercendo o papel de traidor da pátria, ele se aliou a uma potência estrangeira para atacar as instituições brasileiras, como o Supremo Tribunal Federal, a fim de tentar livrar seu pai da quase certa condenação por tentativa de golpe de Estado.

E, aqui, seus correligionários também agem para blindar os golpistas. A estratégia é clara: deslegitimar o Judiciário, intimidar o Congresso e criar um clima de caos institucional. Hipocritamente, usaram adesivos na boca, gritos e faixas para encenar uma suposta “censura”. Mas quem sequestrou o Plenário, impediu a fala de outros deputados e violou o regimento interno foram justamente eles. Fizeram pura chantagem política.

Insistem em pautar o PL da Anistia para os golpistas. Isso é inconcebível. Votar a anistia hoje significa transformar o Brasil em colônia, tendo em vista o fato de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaça e exige a votação da matéria para salvar seus aliados locais de extrema-direita. Seria uma desmoralização gigantesca do Brasil, com o patrocínio dos bolsonaristas, que defendem o Brasil como colônia e agem como serviçais de Trump. Ignoram, servilmente, que somos um país independente.

A decisão da Mesa Diretora, no dia 8, de enviar a lista com o nome dos 14 parlamentares bolsonaristas primeiro para a Corregedoria da Câmara, para somente depois ser encaminhada ao Conselho de Ética, poderia criar um clima de impunidade. Deu uma sensação de que tudo pode acabar em pizza. Mas é inaceitável que isso ocorra.

Ou o Brasil encerra esse ciclo de violência política agora, ou a próxima tentativa de golpe será ainda pior. É hora de punir, não de passar pano para golpista.

(*) Deputado federal (PT-RJ) e líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados

(Artigo publicado originalmente na revista Focus, da Fundação Perseu Abramo)

Artigo Anterior

PF deflagra Operação Estafeta para investigar corrupção em São Bernardo do Campo/SP

Próximo Artigo

Sintaema participa de sabatina dos trabalhadores (as) com presidente da CETESB

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!