
A bolsonarista Ana Paula de Souza, condenada a 14 anos de prisão pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, afirmou se sentir “abandonada” tanto pelo presidente argentino Javier Milei quanto por parlamentares bolsonaristas, conforme informações da CNN Brasil.
Presa no complexo penitenciário de Ezeiza, em Buenos Aires, ela aguarda julgamento de extradição para o Brasil após fugir de ônibus no ano passado, quebrando a tornozeleira eletrônica que usava.
“Nós estamos esquecidos em uma penitenciária da Argentina. Estamos simplesmente abandonados, jogados às traças e ninguém se preocupa. A nossa vida não importa, a nossa família não importa, a nossa saúde não importa”, declarou.
Ana Paula foi detida após mandado expedido pelo juiz federal Daniel Rafecas, a pedido do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Ela havia solicitado refúgio à Comissão Nacional para os Refugiados da Argentina (Conare), mas acredita que a própria instituição repassou seu endereço às autoridades.
“Eu confiei nesse país. E eu segui a lei desse país. E pra quê? Sendo que a própria instituição que iria nos proteger foi a que primeiro nos traiu, que me entregou para a polícia”, alegou.
Críticas a Milei e aos bolsonaristas
A golpista critica a postura do governo de Javier Milei, afirmando sentir-se “traída”. “Estão sendo negligentes com a nossa situação. Eu gosto de pessoas coerentes. Então não tem como você dizer: ‘Ah, Lula, Alexandre de Moraes perseguem os brasileiros, e quando essas pessoas vêm para cá pedir ajuda, você os prende’. Para mim, isso não é coerente”, disse.
Segundo fontes, a decisão sobre o refúgio depende politicamente de Milei, que pode intervir ou deixar que a Justiça argentina decida. A Conare, que analisa o pedido, é formada por representantes de ministérios, pelo Alto-Comissariado da ONU para Refugiados e por ONGs sem direito a voto.
Ana Paula também afirma ter sido esquecida por políticos bolsonaristas. Em maio, Magno Malta (PL-ES) e Damares Alves (Republicanos-DF) visitaram foragidos presos na Argentina, mas, segundo ela, o contato não continuou. “Sinto falta de pronunciamentos dos políticos brasileiros, que deveriam nos ajudar”, ressaltou.
Ela afirma que todos os foragidos no país sentem abandono e medo, já que ainda há 62 pedidos de extradição emitidos por Moraes. Alguns já deixaram a Argentina para evitar a prisão, enquanto outros aguardam a decisão sobre o refúgio.

Condenação e defesa
Ana Paula foi condenada no Brasil por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa.
A advogada da bolsonarista na Argentina, Carla Junqueira, diz que a condenação é “equivocada” e que ela foi “enfiada no meio de uma massa enorme de pessoas, sem individualização” do caso.
Apesar da prisão, Ana Paula diz não se arrepender de ter participado dos atos golpistas de 8 de janeiro, que chama de “manifestação”, embora afirme ser contra a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.