Cada vez mais pessoas começam a entender que a acumulação material, mecanicista e interminável, assumida como progresso, não tem futuro. Essa preocupação é crescente, pois os limites da vida estão severamente ameaçados por uma visão antropocêntrica do progresso, cuja essência é devastadora. Por isso, se queremos que a capacidade de absorção e resiliência da Terra não entre em colapso, devemos deixar de enxergar os recursos naturais como uma condição para o crescimento econômico ou como simples objeto das políticas de desenvolvimento.

E, certamente, devemos aceitar que o ser humano se realiza em comunidade, com e em função de outros seres humanos, como parte integrante da natureza, assumindo que os seres humanos somos natureza, sem pretender dominá-la. Isso nos leva a aceitar que a natureza — enquanto construção social, ou seja, enquanto conceito elaborado pelos seres humanos — deve ser reinterpretada e revisada totalmente, se não quisermos colocar em risco a existência do próprio ser humano. Para começar qualquer reflexão, devemos aceitar que a humanidade não está fora da natureza e que a natureza tem limites biofísicos.

A sociedade de consumo fora recriada sob o manto varonil da Revolução Industrial, que continua seu curso, especialmente agora com o advento da inteligência artificial, que está mudando o perfil existencial dos seres humanos. E a comunicação, “nervos do governo”, segundo o cientista político alemão Karl Deutsch, caminha pari passu às mudanças estruturais engendradas nesse empreendimento ideológico/empresarial das mentes viventes.

Tekoá, um lugar de bem-viver, é uma expressão tupi-guarani que deveria nos inspirar, sim, a nós, sociedade dita “civilizada”.

A Mãe Terra é um sistema vivo e nós, seres humanos, somos uma expressão de tantas outras faces que compõem uma sagrada teia. Somos uma parte da trama, não separada do Todo, que é consciente de si mesmo e de seu agir nos diversos mundos das diversas vidas que vivificam, modelam, transformam e evoluem em todos os lugares da natureza. Muitos mundos habitam este mundo. A realidade não se limita ao que é percebido pelos cinco sentidos. Existem camadas mais profundas da natureza, como ciclos lunares, estações do ano, movimentos celestiais e outros fenômenos naturais, expressões de elos que estão bem acima da suposta racionalidade humana.

A palavra calvário vem do latim calvarium, que significa “calvo”. É uma tradução do grego gólgota, derivado do hebraico gulgatha, que quer dizer “montanha ou colina arredondada” e designava um lugar nos arredores de Jerusalém. Como, de longe, essa colina parecia um crânio calvo, a palavra gulgatha passou a ter também esse significado, que foi incorporado a outras línguas. Como esse foi o local da morte de Jesus, a palavra calvário ganhou o significado que tem até hoje: sofrimento, martírio.

Os brasileiros estão à deriva, correndo pelo Gólgota do Calvário. A democracia está subjugada? Temos liberdade de expressão? A justiça é para todos? Podemos sobreviver com a disparidade da má distribuição de renda?

A reforma agrária ainda é um fantasma que assombra a burguesia?

E o salário mínimo? É uma granada no bolso do trabalhador?

As respostas deveriam brotar da cognição nacional e racional, mas a educação não reflete, em cada indivíduo humano, a capacidade necessária e plena de reflexão…

As castas brasileiras estão fechadas com os interesses mercadológicos, e lucrar é um vício sem volta, que funciona como prática da falta de empatia.

Ao agir com bondade e complacência, construímos um tecido social mais harmonioso. O respeito à natureza torna-se parte integrante desse processo, que faz do todo um horizonte de perfeição; porém, ainda estamos longe desta Tekoá real.

“A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas.”

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Last Update: 14/08/2025