Nesta segunda-feira (13), o tenente-coronel Bogdan Krotevich, ex-comandante da 12ª Brigada de Forças Especiais “Azov”, do 1º Corpo da Guarda Nacional Ucraniana “Azov”, importantes formações das forças ucranianas, enviou uma carta aberta a Vladimir Zelensqui, presidente da Ucrânia, em que expõe que a Rússia está avançando rapidamente na direção de Pokrovsk-Konstantinovka, no Donbas, e que as forças ucranianas não estão conseguindo impedir esse avanço.
A cidade de Pokrovsk é a maior cidade sob o controle das forças ucranianas na região sudeste da República Popular do Donetsk, no Donbas. Já Konstantinovka, cidade a cerca de 45 km a nordeste de Pokrovsk, é um grande reduto das forças ucranianas.
Em sua carta, o ex-comandante da Brigada Azov, diz a Zelensqui que “sinceramente, não sei exatamente o que está sendo relatado a vocês, mas informo: na linha Pokrovsk – Kostiantynivka, sem exagero, é um caos completo. E esse caos vem crescendo há muito tempo, piorando a cada dia”.
O tenente-coronel relata que “as estruturas de comando atualmente nomeadas (ou já nomeadas) para ‘consertar o inconsertável’ provavelmente serão responsabilizadas pelo caos que já está se instalando. Uma linha de contato de combate estável, como tal, efetivamente não existe”.
Informando sobre o avanço russo, Krotevich afirma que Pokrovsk e Myrnograd (cidade próxima) estão quase cercadas e que Konstantinovka está em semi-cerco. Ele acrescenta que as forças russas também avançam em direção a Kramatorsk (cidade ao noroeste de Konstantinovka) e (cidade entre ambas).
O ex-comandante da Brigada Azov reclama a Zelensqui que “o problema vem se agravando desde o ano passado” e que esse desenvolvimento “foi alertado publicamente e aconteceu exatamente como previsto”.
Expondo a situação de crescente colapso das forças ucranianas, o tenente-coronel afirma que esse “problema sistêmico começou com o esgotamento das reservas, a fragmentação generalizada de unidades em toda a linha de frente, relatos de ‘vilas capturadas’ sendo alardeadas como vitórias em meio a fracassos de setores inteiros, a alocação de recursos de mobilização para ‘comparsas’ e a completa falta de visão estratégica ou mesmo operacional do teatro de operações entre partes da liderança militar”.
No mesmo sentido foi a declaração Taras Chmut, chefe da organização de caridade pró-militar Come Back Alive. Em seu perfil no X, ele afirma que “a situação que se desenrola em Donetsk é o resultado de ações ou omissões sobre as quais foi alertado em todas as entrevistas ao longo do último ano e meio”. Falando sobre situações anteriores, em que o colapso progressivo de formações foi ignorado ou negligenciado publicamente no âmbito da propaganda de guerra ucraniana, ele acrescenta que “passamos por algo semelhante de 2018 a 2022”, que “estamos passando por algo semelhante novamente em 2024” e que “ignorar os problemas não leva à sua resolução”.
Comentando sobre o avanço das Forças Armadas Russas em direção a Dobropillia, cidade ao noroeste de Pokrovsk, o canal de comunicação russo Rybar, citando informações da própria imprensa ucraniana, afirma que “as Forças Armadas da Ucrânia não possuem uma linha de frente estável em Donbas. As reservas foram ‘apagadas’ e gastas em ações de natureza midiáticos, as unidades estão fragmentadas ao longo de toda a linha de contato e o comando carece de visão estratégica e operacional”, acrescentando que “as formações operacional-estratégicas e táticas não comandam nada, e os corpos recém-criados herdaram os mesmos problemas de comando e unidades insuficientes”. Rybar avalia que “tais revelações coletivas em um momento de crise delineiam os contornos dos problemas do inimigo no quarto ano de hostilidades, quando ele não pode mais conduzir operações no estilo de 2022-2023”.
Comentando sobre este avanço das forças russas, Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), durante a mais recente edição do programa Análise da 3ª, avaliou que “nós temos visto um lento, porém sistemático, enfraquecimento das forças ucranianas. O que não é uma coisa estranha, porque, pelo número de perdas, pelo dinheiro que está sendo gasto, pelos problemas atuais entre a Ucrânia e os Estados Unidos, é bem natural que a coisa tenha caminhado para se degringolar”.
O presidente do PCO acrescenta que a “Ucrânia tem completamente cerca a última grande cidade que eles têm sob controle no Donbass, o que significa que os russos estariam a ponto de franquear aí a fronteira do Dombas em direção à própria Ucrânia”.
Pimenta avalia que “isto ainda não chega a um desenlace total, porque o imperialismo ainda sustenta o governo e os militares ucranianos”, mas destaca que “parece que a situação está indo ladeira abaixo”.