O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, provocou polêmica ao publicar, na rede social X, um vídeo com falas de pastores defendendo que mulheres não tenham direito ao voto e que não ocupem funções de liderança. O material, um trecho de reportagem da CNN americana, já ultrapassa 5 milhões de visualizações.
O vídeo traz declarações de Doug Wilson, pastor nacionalista cristão e cofundador da Comunhão de Igrejas Reformadas Evangélicas (CREC), que defende a transformação dos EUA em “uma nação cristã” e o papel exclusivo de homens como líderes, inclusive nas Forças Armadas. Outro pastor, Toby Sumpter, sugere que o voto seja exercido apenas por um homem por domicílio, após consulta à família.
A ação de Hegseth ocorre em meio a uma ofensiva do governo Trump para promover o nacionalismo cristão, incluindo cultos cristãos no Pentágono e a criação de um gabinete de fé na Casa Branca. O episódio também coincide com a queda de popularidade do presidente entre mulheres: pesquisas mostram que a aprovação feminina ao governo caiu de 42% para 39% entre maio e julho de 2024.
Ligações do secretário com líderes religiosos ultraconservadores
Após a publicação, o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, confirmou que Hegseth é “um orgulhoso membro” de uma igreja afiliada à CREC e que aprecia os ensinamentos de Wilson. A CNN também revelou que o secretário e sua família participaram do culto inaugural da igreja de Wilson em Washington, em julho.
O histórico do pastor Wilson inclui declarações controversas, como a defesa de que houve “afeição mútua” entre escravizados e senhores no período da escravidão.
Críticas de progressistas e especialistas
Para Doug Pagitt, pastor e diretor da organização evangélica progressista Vote Common Good, a republicação do vídeo por Hegseth é “muito perturbadora” e revela a tentativa de amplificar ideias extremistas.
O sociólogo Andrew Whitehead, especialista em nacionalismo cristão, destacou que o objetivo desse movimento é “transformar crenças pessoais em leis”, impondo um modelo religioso conservador a toda a sociedade.
Apesar da Primeira Emenda da Constituição proibir o estabelecimento de uma religião oficial, juristas lembram que a interpretação do texto é ambígua e frequentemente alvo de disputa política.