Nesses tempos de mercantilismo Trumpista (“de araque” no caso brasileiro) reflitamos sobre os prováveis impactos do “tarifaço” na economia do Pará. Antes, faz sentido realçar o grau acentuado de primarização dos produtos exportados; o reduzido número de mercados e, igualmente, a restrita pauta exportadora.

Assim, não obstante a relativa importância dos valores exportados, o baixo nível de agregação de valor aos produtos implica em baixa capacidade de germinação de efeitos socioeconômicos internos. De outra parte, os poucos produtos e mercados impõem riscos potenciais para o setor e para toda a economia paraense. São fragilidades estruturais da nossa economia.

Claro que essa radiografia reflete um longo processo histórico de exploração predatória das nossas riquezas naturais, facilitado pelo isolamento secular das economias do Pará e da Amazônia. O distanciamento do poder central que perdurou até período recente, manteve esse imenso território à margem do desenvolvimento da economia brasileira, e mesmo, da integração nacional, deixando-a totalmente à mercê das ações de rapinagem pelo capital externo em associação com as oligarquias regionais.

Com esse pano de fundo, no ano de 2024 o Pará exportou cerca de 23 bilhões de dólares, o equivalente a 6.8% das exportações do país. Minério de ferro, minérios de cobre, alumina, soja em grão, carne bovina e alumínio representaram 88.4% do valor total exportado.

Pelo significado enquanto exemplo de primarização extrema e maus tratos animais, vale destacar a venda externa, pelo estado, em 2024, de 481 milhões de dólares em bovinos vivos, ou 58% do valor exportado desse “bem” pelo Brasil.

Metade das vendas do Pará ao exterior tiveram a China como destino (US$ 11.4 bilhões) sendo que dez destinos concentraram 80% do valor total exportado.

Ainda pelos resultados de 2024, os EUA constituíram o quinto maior destino das nossas exportações, atrás de China, Malásia, Japão e Noruega. Nesse quadro, o Pará exportou ‘apenas’ 835 milhões de dólares para os EUA em 2024, fato que em termos estritamente quantitativos sugeriria impactos residuais do tarifaço de Trump na economia paraense. Contudo, essa conta deve considerar os efeitos, no estado, dos danos do “tarifaço” sobre a economia brasileira, ademais dos efeitos em segmentos econômicos específicos, mas relevantes, da economia paraense.

Com essa ressalva, do valor exportado para os EUA, 502 milhões de dólares (60%) corresponderam a três itens: alumina calcinada, ferro fundido e hidróxido de alumínio. Das vendas para os Estados Unidos em 2024, perto de 225 milhões de dólares foram em produtos do agronegócio. Esse valor significou 1.9% do valor exportado pelo Brasil em produtos do agronegócio, para os EUA, e a 6.4% do valor total exportado em produtos do agronegócio pelo Pará.

De todo modo, as exportações de madeira do Pará, para os EUA, foram de US$ 84 milhões – 44% das exportações paraenses desse produto. Os EUA também foram o destino de cerca de 50% das exportações de peixes pelo estado. Assim, no agro, segmentos como os de madeira, peixes, sucos e frutas, por exemplo, tenderiam a sentir fortes efeitos negativos.

Em suma, diríamos que pelo valor global e qualidade dos produtos exportados, os impactos macro do tarifaço para a economia do Pará não teriam configuração dantesca. Ainda assim, poderiam desarticular algumas cadeias, e gerar perdas diretas e indiretas de emprego e renda. De outra parte, teríamos significativos efeitos compactos sobre segmentos específicos de expressão na economia local.

Paradoxalmente, as nossas mazelas estruturais protegeriam o estado de efeitos mais danosos do tarifaço. No entanto, é mandatório para quem leva a sério o nosso estado e o nosso povo, que aproveitando as estratégias do atual governo Lula, notadamente para a reindustrialização e transformação da indústria nacional, instituições e sociedade se unam por um grande salto qualitativo na economia do Pará.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 12/08/2025