
Da Página do MST
Com a presença de cerca de 250 pessoas, a 14ª Festa das Sementes Orgânicas e Biodinâmicas do Sul de Minas, ocorrida em 26 de julho de 2025, foi marcada por momentos de partilha, celebração e rememoração da resistência da região na produção de alimentos e na preservação de sementes.
A festa foi realizada no Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio/MG, assentamento de reforma agrária que homenageia, através de seu nome, a confederação de 27 núcleos e vilas quilombolas articuladas que se estendiam pelo Sul de Minas e representa um importante marco histórico da região.
Durante a abertura do evento, o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado de Minas Gerais, Silvio Neto, relembrou a história dessa grande confederação e citou a produção de alimentos como um instrumento de resistência dessas comunidades. “Nesse território, a resistência se deu na agricultura camponesa ancestral que produziu alimentos e garantiu que o povo pudesse enfrentar o que havia de mais poderoso na história”, relatou.
Em sua fala, Silvio Neto também fez uma análise da conjuntura atual, apontando a incapacidade do agronegócio de oferecer saídas para a crise ambiental e sinalizando a agricultura camponesa, a reforma agrária popular e a agroecologia como caminhos para o enfrentamento da crise. “Tem muita gente sem terra, tem muita terra sem gente, e tem muita terra que supostamente é produtiva mas está produzindo morte. Então distribuir as terras é uma tarefa de todos nós”, afirmou.
O dirigente estadual comentou ainda como a festa, além de ser um momento de celebração, também é uma oportunidade de reunir pessoas e semear soluções para a crise ambiental através da produção de alimentos saudáveis. “A nossa tarefa com a festa das sementes, com a resistência histórica, é apresentar outro modelo de agricultura que predomine e que seja vitorioso”, enfatizou.
A importância da troca de conhecimentos

Na Festa das Sementes Orgânicas e Biodinâmicas do Sul de Minas, um dos meios para fortalecer a agroecologia e a preservação do patrimônio genético das sementes crioulas, orgânicas e biodinâmicas, que são a base da produção de alimentos saudáveis, é a troca de conhecimentos acadêmicos e populares, a partir da realização de oficinas e de visitas de campo.
Entre esses espaços de intercâmbio realizados anualmente está a “Ciranda das Sementes”, momento em que os protagonistas da festa, as guardiãs e os guardiões de sementes da Central das Associações de Produtores Orgânicos do Sul de Minas (Orgânicos Sul de Minas), compartilham com o público as suas experiências de produção, multiplicação e conservação de sementes.
A 14ª edição da festa também propiciou momentos de partilha sobre temas relevantes para a agroecologia na região, como a criação de abelhas nativas e de raças crioulas, mudanças climáticas e saúde integral, práticas de educação alimentar e nutricional nos territórios, com a participação de representantes do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) – Campus Inconfidentes e da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Também foram compartilhadas, por pesquisadores e pesquisadoras da UFLA, soluções e ferramentas pedagógicas populares como a cromatografia Pfeiffer – uma metodologia de análise da qualidade do solo – os bioinsumos – produtos de origem biológica utilizados para a nutrição das plantas e a melhoria da fertilidade do solo – e os biorreatores – equipamentos de baixo custo utilizados para a produção de bioinsumos.
O assentado Jailson Lima da Cruz, do setor de produção do MST, ressaltou a importância dessas soluções e ferramentas populares para as organizações de agricultores e, em especial, para os assentados e as assentadas da reforma agrária. “Essas experiências que trazem avanços para o desenvolvimento da produção sem agrotóxicos como os bioinsumos e os biorreatores são uma possibilidade real de avanço para os pequenos produtores, principalmente para a reforma agrária que sempre lutou pela alimentação saudável”, afirmou.
Durante a festa, as mulheres do Coletivo Raízes da Terra do assentamento Quilombo Campo Grande também compartilharam as suas experiências com o cultivo de camomila e a produção de fitoterápicos, a partir do oferecimento de uma oficina e de uma visita de campo.
A rede de guardiãs e guardiões de sementes do Sul de Minas

Além de propiciar o intercâmbio de conhecimentos acadêmicos e populares, a Festa das Sementes Orgânicas e Biodinâmicas do Sul de Minas também se constitui como uma forma de reunir e homenagear as guardiãs e os guardiões de sementes da Orgânicos Sul de Minas, que, por meio de diferentes técnicas de produção, multiplicação e conservação de sementes, têm contribuído com a preservação da sociobiodiversidade da região.
Na 14ª edição da festa, essa homenagem se deu a partir da entrega de um certificado, com alegria e cantoria das trovas compostas pelo biólogo, agricultor e músico João Paulo Braga: “Venha cá Dona Ricarda, fonte de sabedoria, caminhamos do seu lado, em busca da utopia. Com as Raízes da Terra, mulheres em coletivo, que se unem pra lutar e manter seu povo vivo! Nilson tá lá no viveiro, plantando uma semente, que será mais uma muda, pra salvar o ambiente.”
Durante o evento, também foram apresentados e homenageados quatro novos guardiões e guardiãs de sementes crioulas, orgânicas e biodinâmicas da região, entre eles o jovem Lucas Fernandes Mendes, morador da cidade de Poço Fundo, que vivenciou no último ano a experiência de plantar, colher e multiplicar as sementes de milho maisena que recebeu na edição de 2024 da festa.
A Festa das Sementes Orgânicas e Biodinâmicas do Sul de Minas

A Festa das Sementes Orgânicas e Biodinâmicas do Sul de Minas é organizada de forma coletiva pela Orgânicos Sul de Minas, pelo Núcleo de Estudos em Agroecologia e Entomologia Raiz do Campo do IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes, pela Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica e pelo Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas.
Realizada anualmente desde 2011, o evento tem como objetivo promover a partilha de sementes e saberes cultivados a partir do manejo orgânico e biodinâmico, fortalecer a rede de guardiãs e guardiões de sementes do Sul de Minas e contribuir para a preservação da diversidade de espécies e variedades vegetais na região.
Cada edição é hospedada por um núcleo da Orgânicos Sul de Minas e acontece em uma cidade da região. Neste ano, a anfitriã foi a Cooperativa dos Camponeses Sul Mineiros (Camponesa), vinculada ao MST e sediada no município de Campo do Meio. Esta edição também contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Campo do Meio e com a doação solidária de alimentos agroecológicos e orgânicos por produtoras e produtores da Orgânicos Sul de Minas e do MST.
Além dos momentos de trocas de saberes e sementes e de homenagem às guardiãs e aos guardiões de sementes do Sul de Minas, a programação da festa também incluiu o oferecimento de café e almoço solidário, uma feira de produtos agroecológicos e orgânicos e uma ciranda com atividades para as crianças ao longo de todo o dia.