Na manhã de 6 de agosto, Recife viveu um daqueles dias em que a força popular ocupa o centro da política. Desde cedo, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE) foi tomada por militantes, sindicatos, partidos de esquerda, movimentos sociais e estudantis. A pauta que uniu todos era direta e urgente: barrar o projeto de privatização da Compesa e do Metrô, símbolos de serviços essenciais para a população trabalhadora.
A mobilização, parte da atuação da recém-formada Frente Estadual Contra as Privatizações, denuncia a agenda neoliberal que, sob o pretexto de “modernizar” serviços, busca entregar patrimônio público ao lucro privado. Da ALEPE, a marcha seguiu até o Palácio do Campo das Princesas, ecoando a palavra de ordem que se tornou bandeira da luta: “Água e transporte não são mercadorias!”
Unidade na resistência
A Frente Estadual Contra as Privatizações reúne um amplo leque de forças: centrais sindicais, partidos como PSOL, UP e PCBR, sindicatos urbanos, coletivos de mulheres, movimentos comunitários e estudantis. Essa composição plural, forjada na urgência da defesa do que é público, foi visível nas ruas — bandeiras variadas, mas um só grito contra a lógica do lucro acima da vida.
Ao final da caminhada, uma comissão da Frente foi recebida pelo governo Raquel Lyra, incluindo o secretário da Casa Civil José Pereira, o secretário de Recursos Hídricos Almir Cirilo e a diretora de Gestão da Compesa, Rosane Nunes. As reivindicações foram apresentadas. A resposta oficial do governo ainda não foi divulgada.
Para Raphaela Carvalho, militante do PSOL e professora, a luta não é apenas técnica, mas profundamente política, “Privatizar é excluir, e quem já vive com mais dificuldades sente primeiro. Eu sou mulher negra e mãe, e sei o que é lidar com a dupla jornada. Quando a água e o transporte viram negócio, tudo fica mais complicado pra gente: pesa no bolso, na rotina e no tempo que falta. No fim, é o povo pobre, as mulheres trabalhadoras e as mães como eu que acabam pagando mais caro. Recife não pode ser vendido em pedaços — essa luta é pela nossa vida e pela nossa dignidade.”
Mais que um ato, um ponto de partida
O dia 6 de agosto não foi um fim, mas um começo. A Frente Estadual Contra as Privatizações projeta novas ações, debates nas comunidades, escolas e universidades. A meta é ampliar a consciência coletiva de que privatizar é excluir e que a defesa dos serviços públicos é, antes de tudo, defesa da vida e da soberania popular.
O recado que ecoou nas ruas do Recife foi nítido: o povo não vai aceitar a entrega da Compesa e do Metrô. A luta segue. E ela será travada onde for preciso — nas praças, nas assembleias e nos trilhos — até que o público seja preservado, e o lucro deixe de pesar mais que a vida.
Fotos: Sérgio Gaspar/Agência Expansão