Por que Braga Netto, o general mais poderoso do bolsonarismo, está preso preventivamente, enquanto Bolsonaro está solto?
Braga Netto não tem força política, nunca teve votos e não influencia mais ninguém, nem mesmo um tenente reformado do Tiro de Guerra de Piracicaba.
Braga Netto tem menos força política do que Silas Malafaia. O pastor atacou Alexandre de Moraes em todas as aglomerações em São Paulo e no Rio e está solto.
Em março, em encontro do Conselho de Ministros Evangélicos do Rio de Janeiro, Malafaia disse, referindo-se a Moraes:
“Não peço para matar, não peço para nada disso, não. Só coloco nas mãos de Deus”.
Malafaia pode, porque não é um pastor qualquer. Júlia Zanatta, a deputada que levou a filha de quatro meses como escudo no motim dos golpistas na Câmara, já estaria enquadrada pelo Ministério Público e pelo Conselho Tutelar se fosse uma mãe qualquer.
Se fosse uma mãe pobre e negra, já haveria inquérito contra ela. A deputada catarinense bolsonarista é branca e voz forte da extrema direita no Estado mais extremista do país.
É armamentista, já foi denunciada como pregadora antivacina para crianças, mas tem imunidades e usa grinalda.
Michelle Bolsonaro não tem imunidades, mas tem lastro político por ser mulher do chefe do golpe. Se não tivesse, teria sido presa na mais recente batida da Polícia Federal à casa da família.
Quando a PF foi ao condomínio avisar que o sujeito deveria usar tornozeleira e ficar em prisão domiciliar, houve a apreensão de um celular — mais um — de Bolsonaro.
Michelle saltou em um agente da PF e tentou pegar o celular de volta, o que poderia resultar em prisão em flagrante. Se fosse uma Michelle comum, seria presa. Mas há Michelles e Michelles.
Se fosse um bandido qualquer, e mesmo um grande traficante, Bolsonaro não faria as ameaças que faz. Nenhum bandido ameaça impunemente um juiz que esteja cuidando dos seus casos, mesmo de primeira instância.
Um chefe do tráfico que ameaçasse qualquer autoridade do sistema de Justiça seria encarcerado. Mas não Bolsonaro, porque tem poder político e conta, segundo a Folha de S.Paulo, com o direito à liberdade de expressão — um direito que qualquer outro chefão não tem.
Essa lista de impunes e em liberdade é infindável. Todos com poder suficiente para falar e fazer coisas que nenhum criminoso sem fama e sem poder faria, em quaisquer circunstâncias.
Por isso, a discussão sobre o que permite que todos estejam soltos é cansativa. Estão soltos porque ainda detêm algum poder — político ou religioso — ou ambos, em alguns casos com o apoio do poder econômico.
