Nvidia e AMD acertaram com o governo dos Estados Unidos o repasse de 15% da receita obtida com a venda de chips avançados de inteligência artificial ao mercado chinês. A informação foi divulgada neste domingo (10) por um funcionário norte-americano à agência Reuters, que obteve detalhes da negociação. O entendimento abrange modelos como o H20, da Nvidia, e o MI308, da AMD, considerados de alto desempenho no setor de IA.
O acordo foi firmado após a administração do presidente Donald Trump suspender, em abril, as vendas do H20 para a China, alegando preocupações estratégicas. Em julho, a Nvidia anunciou que recebeu autorização para retomar as exportações e previa iniciar as entregas em breve. Segundo outro funcionário ouvido pela Reuters, o Departamento de Comércio já começou a emitir licenças para as transações.
Condições e posicionamento das empresas
A Nvidia não confirmou diretamente a cláusula de repasse de 15%, mas declarou que segue “as regras estabelecidas pelo governo dos EUA para participação nos mercados mundiais”. A companhia afirmou ainda que não envia H20 para a China há meses, mas espera que as normas de controle de exportação permitam que os Estados Unidos mantenham competitividade no país asiático e em outros mercados.
A AMD não respondeu aos pedidos de comentário. O Departamento de Comércio dos EUA e o Ministério das Relações Exteriores da China também não se pronunciaram até o momento. A Reuters cita reportagem anterior do Financial Times, segundo a qual o pagamento seria uma condição para a concessão das licenças de exportação, embora o destino dos recursos ainda não tenha sido definido.
China como mercado estratégico
A China é considerada um mercado essencial para as duas fabricantes. No ano fiscal encerrado em 26 de janeiro, a Nvidia registrou US$ 17 bilhões em receitas no país, o equivalente a 13% do faturamento global. Já a AMD contabilizou, em 2024, US$ 6,2 bilhões em vendas para o mercado chinês, representando 24% de sua receita total.
Debate sobre segurança nacional e estratégia comercial
O especialista Geoff Gertz, do Center for New American Security, questionou a coerência do acordo. “Ou vender o H20 para a China é um risco à segurança nacional, e então não deveríamos fazê-lo, ou não é um risco, e nesse caso, por que impor essa penalidade extra?”, afirmou.
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, declarou no mês passado que a retomada das vendas estava vinculada a negociações com Pequim para obtenção de terras raras. Ele classificou o H20 como o “quarto melhor chip” da Nvidia e defendeu que seja do interesse norte-americano que empresas chinesas utilizem tecnologia dos EUA, ainda que não seja a mais avançada, para manter dependência de um “ecossistema tecnológico” dominado pelo país.
Alasdair Phillips-Robins, ex-assessor do Departamento de Comércio na gestão de Joe Biden, criticou a medida. “Se essa informação estiver correta, sugere que o governo está trocando proteções de segurança nacional por receita para o Tesouro”, disse.
O acordo entre Washington e as fabricantes ocorre em meio a disputas comerciais e tecnológicas entre Estados Unidos e China, com controle rigoroso sobre exportações de semicondutores de ponta e negociações paralelas envolvendo recursos estratégicos.