Ainda há setores da grande imprensa que insistem em tratar o bolsonarismo como uma força política, como se fosse apenas exercício da liberdade de expressão, e não da barbárie. É um erro grave e perigoso, alerta o historiador Valdei Araújo.

“Imprensa ainda acha que pode negociar com o bolsonarismo, que pode usar o bolsonarismo para fazer o trabalho sujo dela. E quando terminar de fazer o trabalho, eles retiram o bolsonarismo da sala. Mas com o fascismo não se brinca”, disse o historiador, professor da Universidade Federal de Ouro Preto e autor de Bolsotrump.

Para Valdei, o bolsonarismo não é política, mas “a destruição da política pela força, pela mentira”. E o problema não começou ontem. “A trajetória do Bolsonaro não começou ontem. É um processo longo que visa destruir as instituições democráticas por dentro”.

O golpe contra a democracia, avalia o historiador, segue em curso, mesmo diante da justiça sendo aplicada aos golpistas envolvidos no 8 de janeiro. “O erro do Moraes foi demorar para agir contra Bolsonaro. Qualquer outro processado já estaria preso há muito tempo, porque não se pode deixar alguém ameaçar constantemente o juiz do processo. As ameaças reincidentes contra Moraes exigiam uma resposta imediata”.

Para o historiador, a ideia de que um golpe está em curso se reforça pelo peso do cenário internacional, especialmente diante da aplicação da Lei Magnitsky por Trump contra Moraes. “Trump está muito forte nos Estados Unidos. Se a eleição do Lula aconteceu com Biden na presidência, imagine o que teria ocorrido se fosse Trump no comando”, compara.

Esse quadro reforça o chamado “viralatismo” brasileiro, que Valdei explica como resultado do desmonte do Estado nacional e da falta de um projeto consistente de soberania.

“Apesar dos problemas, em diversos momentos da nossa história tivemos projeto de Estado. Conseguimos manter a integridade do território e avançar, mesmo que de forma conservadora e excludente”.

No entanto, faltou investimento estratégico em áreas essenciais para o desenvolvimento da cidadania plena, porque sem um projeto de país, o Estado não se sustenta. “Demoramos a democratizar a escola e a incorporar toda a população ativa. Tivemos 30 anos de ditadura militar, que atrasou esse processo”.

Assista à entrevista completa abaixo:

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Last Update: 09/08/2025