
O governador bolsonarista de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), passou vergonha em entrevista ao “GloboNews Mais” nesta sexta-feira (8). Tentando distorcer a realidade para defender a extrema-direita, o pré-candidato à presidência em 2026 criticou as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os golpistas do 8 de janeiro de 2023 e foi prontamente desmentido pelos jornalistas presentes.
“O STF tá fazendo uma encenação. Diga se em algum lugar do mundo alguém foi condenado a 17 anos de prisão por assentar em uma cadeira. Eu nunca vi isso. Se alguém em algum lugar do mundo foi condenado a 14 anos por pichar com batom. Também nunca vi isso. Me parece que o STF tá querendo holofote”, disse Zema antes de ser interrompido por Julia Duailibi, apresentadora do programa.
“Existe uma lei de defesa do Estado democrático de direito, sancionada pelo ex-presidente Bolsonaro, e desenhada pelo Congresso Nacional que coloca as penas”, explicou Julia. “Não existe nenhum lugar do mundo porque talvez a lei dos outros países não é como a nossa que foi feita pelo nosso Congresso e sancionada pelo ex-presidente”, ressaltou.
Já o comentarista Octávio Guedes aproveitou a fala da companheira e emendou: “E o crime não é sentar na cadeira nem pichar de batom, o crime é tentativa de golpe de Estado”.
Em seguida, Zema manteve a tentativa de mentir sobre o ocorrido no 8 de janeiro: “Houve tiro? Alguém foi morto? Alguém sofreu algum atentado?”, questionou até ser desmentido mais uma vez por Julia: “A lei não fala em matar ninguém. A lei fala em tentar um golpe de Estado e tentar depor com violência o Estado democrático de direito”.
Insistindo na mentira, o governador mineiro questionou se houve alguém ferido na ocasião, e ouviu de bate pronto a resposta de que sim: houveram policiais legislativos feridos pelos golpistas.
Em uma última tentativa de distorcer os fatos, o bolsonarista questionou se os acusados tinham precedentes de crime ou histórico de envolvimento político, o que também não faz nenhuma diferença para a lei.
🚨 VEXAME: Zema tenta defender golpistas do 8 de janeiro na GloboNews e é desmentido ao vivo! pic.twitter.com/pNdP6CBduj
— Análise Política 2 (@analise2025) August 8, 2025
O que dizem as leis
A declaração de Zema ignora a Lei 14.197/21, sancionada por Bolsonaro em 2021, que revogou a antiga Lei de Segurança Nacional e passou a novos crimes contra o Estado Democrático de Direito, incluindo especificamente o “golpe de Estado” e a “abolição violenta do Estado democrático”. O texto, originado no PL 2462/91 do jurista Hélio Bicudo, diferencia manifestações políticas legítimas de ações criminosas contra a democracia.
O artigo 359-L da lei é claro em afirmar que é crime “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”, sob pena de 4 a 8 anos de prisão.
Já o parágrafo seguinte, 359-M, disserta sobre “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”. A pena nessa situação varia entre 4 e 12 anos de reclusão.
Policial ferida por bolsonaristas

A cabo Marcela da Silva Morais Pinno, policial militar do Distrito Federal, que atuou na linha de frente durante as manifestações de 8 de janeiro, prestou depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Investigação (CPMI) que apurou os atos golpistas daquele dia e relatou a violência e a organização dos manifestantes bolsonaristas.
Durante seu testemunho, Pinno descreveu a “violência contra os policiais”, afirmando que estavam “dispostos a tudo”. Ela e um colega da Polícia Militar foram jogados da cúpula do Congresso Nacional, sofrendo agressões por parte dos manifestantes. “Tentaram tomar minha arma logo após eu ter sido empurrada. Me agrediram, eu estava no chão, me chutavam. Enquanto me chutavam, me agrediam com barra de ferro, e outro tentava tomar a minha arma”, relatou.
A policial destacou que os agressores faziam parte de um grupo organizado, que inclusive levava luvas e equipamentos para se proteger das forças de segurança. Ela explicou que os manifestantes possuíam conhecimento sobre as granadas utilizadas pela polícia e que as luvas eram necessárias para manuseá-las devido às altas temperaturas.
“Manifestantes que estavam na frente da manifestação possuíam, sim, luvas para ter acesso aos nossos materiais, às nossas granadas, (que têm) altas temperaturas que, se forem pegas com mãos livres, vão ter queimaduras seríssimas”, descreveu.