A nova escalada promovida por Israel na Faixa de Gaza escancarou o projeto de ocupação militar total do território palestino. Na quinta-feira (7), o gabinete de segurança israelense aprovou o plano de Benjamin Netanyahu para que as Forças Armadas assumam o controle direto da Cidade de Gaza. Trata-se de mais uma etapa na ofensiva genocida que prevê a tomada de todo o território.
A medida foi duramente condenada pela ONU. “Com base em todas as evidências até o momento, essa nova escalada resultará em deslocamentos forçados mais massivos, mais mortes, mais sofrimento insuportável, destruição sem sentido e crimes atrozes”, afirmou o alto comissário Volker Türk, em comunicado divulgado nesta sexta-feira (8). Segundo ele, o plano deve ser interrompido imediatamente, pois “vai contra a decisão da Corte Internacional de Justiça segundo a qual Israel deve encerrar sua ocupação o mais rápido possível, da realização da solução acordada de dois Estados e do direito dos palestinos à autodeterminação”.
No Brasil, o Itamaraty já havia se posicionado em maio contra o plano de Netanyahu, alertando que a proposta “viola princípios fundamentais do direito internacional e compromete os esforços por uma solução justa e duradoura”.
Na noite da última quinta-feira (7), o presidente Lula chorou ao comentar o drama vivido pelos civis palestinos. “Nós não sabemos quantas crianças morreram na Faixa de Gaza. Nós não temos a informação de quantas crianças morreram na fila para buscar alimento. Porque agora nos chegamos à cretinice de dar comida e água para as crianças e matá-las antes de pegar a comida”, disse. Emocionado, lembrou que o Brasil deixou novamente o Mapa da Fome e pediu indignação contra as desigualdades e a violência contra inocentes.
Lula chora ao falar do extermínio de crianças palestinas por "israel" em Gaza: "Cretinice de matar crianças na fila da comida" pic.twitter.com/jAGiIV5RvP
— FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) August 8, 2025
Reação internacional
A proposta israelense é uma armadilha lexical. “Desarmar o Hamas” soa como justificativa, mas é cortina de fumaça. “Controle de segurança” significa ocupação permanente. “Governo civil” é sinônimo de fantoche de Tel Aviv. Para a ONU, isso não é uma proposta de paz, mas a institucionalização da ocupação.
A resposta da comunidade internacional foi rápida. A China declarou que “Gaza pertence ao povo palestino e é parte inseparável de seu território”. A Austrália afirmou que a decisão “apenas agravará a catástrofe humanitária” e cobrou cessar-fogo imediato. O Reino Unido classificou a medida como “equivocada” e a Alemanha suspendeu as exportações de equipamentos militares a Israel até nova ordem.
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Críticas também internas
A ofensiva genocida avança mesmo diante de fortes críticas internas em Israel. O chefe das Forças Armadas, Eyal Zamir, e o Fórum das Famílias dos Reféns se opuseram ao plano. Para Zamir, a ocupação total de Gaza é uma “armadilha”. Ele insiste que “uma decisão de intensificar os combates poderia levar à morte dos reféns ainda vivos”.
Enquanto isso, a população palestina enfrenta fome em escala catastrófica. Segundo a ONU, 87% da região já está sob ordens de evacuação ou em zonas militarizadas, e 800 mil pessoas devem ser forçadas a deixar a Cidade de Gaza. O Ministério da Saúde local contabiliza mais de 61 mil mortos e 152 mil feridos. Quase 200 pessoas já morreram de fome. Metade delas, crianças.
O cerco sobre Gaza não é uma resposta legítima, é a repetição de um projeto colonial, agora em sua face mais cruel: ocupação total, deslocamento forçado, fome e controle militar. A comunidade internacional não pede mais diálogo, agora ela exige o fim da ocupação, o reconhecimento do Estado palestino e o respeito à autodeterminação de um povo que se recusa a desaparecer.
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Da Redação