O fator determinante da política é a força, e não o diálogo. O que dá possibilidade de sustentação a uma determinada posição política, ou do processo de convencimento dessa posição, é a sua afirmação em tendências históricas fundamentais e, por conseguinte, no elemento político (sujeito histórico, classe social) que tem a força necessária para garantir a implementação dessa determinada posição.
A esquerda, fazendo cortesia com chapéu alheio — de forma consciente ou inconsciente —, caiu em uma situação delicada. Tem apostado suas fichas em instituições estatais e em elementos da burguesia nacional sobre os quais ela não tem controle algum, e que, historicamente, não levam até as últimas consequências a defesa dos interesses nacionais.
No dia 4 de agosto de 2025, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, decretou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No dia seguinte, as principais editorias da burguesia nacional associada ao imperialismo, como O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, expuseram a posição de sua classe social, criticando a determinação de Alexandre de Moraes. Alguns de seus articulistas já vinham destacando, em seus artigos, que o governo federal havia provocado as medidas do presidente dos EUA, Donald Trump.
Essa linha política já estava presente desde o começo da polêmica, mas era difundida de forma sutil.
Quando o governo norte-americano aplicou sanções por meio da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, o presidente do Banco Bradesco, Marcelo Noronha, afirmou que a lei deve ser cumprida. Acertadamente, o líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, rebateu, destacando que, no Brasil, se cumpre a nossa Constituição nacional e não a de países estrangeiros.
Até então, a esquerda estava contando, em tese, com um relativo apoio da burguesia nacional para sustentar a prisão de Bolsonaro e a defesa da soberania nacional frente aos ataques de Donald Trump. Mas, pelo que parece, essa ilusão não passava de um castelo de areia.
Em artigo no jornal O Globo, a jornalista Mônica Bergamo destacou que já havia ministros no STF que estavam tergiversando sobre a questão da prisão domiciliar de Bolsonaro.
No artigo anterior, abordei a questão da movimentação das classes sociais no cenário de luta de libertação nacional em um país de capitalismo atrasado. Enfatizei que a compreensão, a partir dos princípios do marxismo-leninismo, para esse tipo de fenômeno tem a classe operária e suas organizações como únicos alicerces capazes de levar essa luta adiante até as últimas consequências, e que sempre a burguesia nacional de países com essas características capitula diante do imperialismo.
O que estamos vendo na situação acima mencionada é justamente a deterioração da orientação política pequeno-burguesa da esquerda, que tenta se sustentar no governo federal não através do poderio e da força de suas organizações populares, mas por meio de acordos nos quais a burguesia seria fiadora de sua sustentação. Manter esse tipo de postura poderá nos levar a perdas incalculáveis.
É necessário mudar os rumos e procurar garantir que a classe operária seja a grande protagonista da situação.