O tarifaço de Trump é um ataque econômico e político inaceitável. A imposição de tarifas sobre os produtos brasileiros, a defesa dos interesses das “big techs” e a exigência de mudança em decisões judiciais, a favor de Bolsonaro, não são apenas ataques à economia brasileira, mas à própria soberania nacional.
O governo Lula tem a obrigação de retaliar os Estados Unidos. Mas, até agora, apesar de certo discurso de que o governo iria reagir, Lula não fez ação alguma de enfrentamento contra os EUA. E até já mudou o tom de suas falas.
Em entrevista à Reuters, no dia 6 de agosto, por exemplo, disse que não irá retaliar: “Não vou fazer, porque eu não quero ter o mesmo comportamento dele. Quero mostrar que, quando um não quer, dois não brigam. Eu não quero brigar com os EUA”, disse o presidente, deixando evidente que, mesmo diante de uma agressão imperialista, o governo prefere a conciliação.
Ministros como Haddad e Alckmin fizeram reuniões com grandes empresários e estão negociando com os EUA, chegando ao ponto de o ministro da Fazenda colocar na mesa a entrega dos minérios das terras raras brasileiras aos EUA. Assim, vai se criando o caminho para uma verdadeira capitulação.
Não é à toa já que Haddad minimiza a agressão imperialista dos EUA. Numa coletiva à imprensa, em 5 de agosto, ele disse que “nós não vamos cair na armadilha de imaginar que um governo, por desinformação, está tomando medidas de agressão ao Brasil. Essa não é a história da parceria do Brasil com os EUA”.
Ou seja, ao reivindicar a história dos EUA com o Brasil, se esqueceu de dizer que esta relação é marcada pela dominação econômica, a ingerência política e a rapinagem feita pelas multinacionais dos EUA.
Exigimos que o governo tome medidas para enfrentar o tarifaço
Para se contrapor às agressões imperialistas, as medidas que o governo Lula poderia adotar são conhecidas e realizáveis. Listamos quatro delas, que demonstrariam para os EUA e o mundo que o Brasil não aceita ser colônia ou país de terceira categoria.
1 – Aplicação da Lei da Reciprocidade contra os EUA
Responder com as mesmas tarifas aos produtos norte-americanos.
2 – Suspensão imediata da negociação para entrega das terras raras
Nenhum recurso estratégico brasileiro deve ser entregue ao imperialismo agressor dos EUA.
3 – Interrupção da remessa de lucros e dividendos das multinacionais dos EUA
Em plena crise, o país não pode seguir perdendo bilhões para o capital estrangeiro.
4 – Auditoria e suspensão do pagamento da dívida pública aos bancos e fundos dos EUA
É absurdo pagar bilhões a especuladores, enquanto faltam investimentos em soberania e infraestrutura.
O governo poderia tomar estas medidas imediatamente, se tivesse o compromisso com a luta pela soberania e os interesses do povo trabalhador. Mas, ao invés disso, prefere se alinhar à burguesia brasileira, que, para garantir seus lucros, teme qualquer atrito com os EUA porque tem uma relação de associação e dependência com o imperialismo.
O governo diz que “não há correlação de forças”. Mas todas as pesquisas mostram que a maioria dos trabalhadores é contra o tarifaço. Isso demonstra que há disposição de luta. O que falta é liderança e vontade de mobilizar o povo para romper com o imperialismo e seus capachos no Brasil.
Enquanto isso, economistas e grandes empresários defendem que não devemos responder com reciprocidade, porque os EUA são muito mais fortes. Essa é a lógica do colonizado, que sempre defende que é melhor abaixar a cabeça do que desagradar os poderosos. O governo Lula, ao aceitar esse argumento, está ajudando a aprofundar a colonização e a perda de soberania.
O Brasil, historicamente, sempre foi mantido sob a dominação das potências imperialistas. Essa dependência é real. Mas, aceitá-la como destino é aceitar o atraso, a submissão e a miséria como se fossem naturais. Ao não reagir, é isso que o governo está fazendo.
A luta contra o imperialismo e as ameaças da burguesia
A burguesia brasileira é covarde. Quando o povo fala em resistir, ela responde com chantagens: “Se fizer isso, as multinacionais vão embora!”, “Vão fechar fábricas!”, “Empregos serão afetados!”.
Foi, por exemplo, o que a Ford fez. Lucrou bilhões, recebeu subsídios e, depois, simplesmente, fechou a fábrica e foi embora. É isso que querem preservar? Uma economia submissa, frágil, baseada em mão-de-obra barata e que entrega tudo para o capital?
Se ameaçarem ir embora, o que o governo deveria fazer? Defender os trabalhadores e o país, não os interesses dos monopólios imperialistas, caso Trump resolva escalar a disputa após uma retaliação do Brasil. Ou mesmo se uma multinacional quiser fechar as portas.
Diante destas hipóteses, o governo deveria estatizar os monopólios capitalistas dos EUA e colocá-los sob o controle dos trabalhadores, garantindo os empregos, a produção e a soberania.
Mas, Lula não está disposto a isso. Porque, para tomar essas medidas, seria preciso enfrentar os capitalistas, tanto os estrangeiros quanto os daqui. E seu governo não foi feito para isso; mas, sim, para governar dentro das regras do capitalismo, buscando conciliação com os grandes empresários e com os patrões internacionais.
A classe trabalhadora precisa tomar a frente
A unidade de ação de todos aqueles dispostos a lutar contra a agressão imperialista é importantíssima. Mas o papel da burguesia brasileira e do governo Lula, sucumbindo aos EUA, está cada dia mais nítido. É preciso organizar a luta contra o tarifaço de Trump e contra a submissão do país.
Todas as organizações, sindicatos, movimentos populares e ativistas que se opõem ao domínio dos EUA devem se unir, chamando a mobilização e exigindo medidas concretas por parte do governo. A luta contra o tarifaço deve ser o ponto de partida para levantar um programa de enfrentamento ao imperialismo, ao capitalismo e em defesa dos trabalhadores.
Se o governo Lula não quiser agir, isto só reforça a importância de que os trabalhadores tomem a frente. É hora de lutar contra a agressão imperialista e pela soberania do país. Se o governo enfrentar os ataques, e se apoiar na mobilização, golpearemos juntos, mantendo nossa independência política e nossa localização de oposição de esquerda ao governo.
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