O Brasil deixou oficialmente o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) antes do prazo previsto, uma conquista anunciada durante a reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), realizada nesta terça-feira (5), em Brasília.

O encontro reuniu o presidente Lula, a primeira-dama Janja Lula da Silva, ministros, parlamentares e representantes da sociedade civil, para debater a relação entre a agenda climática e a segurança alimentar, além de comemorar o resultado histórico da saída do país do Mapa da Fome, confirmada pela FAO em Addis Abeba, na Etiópia.

O presidente Lula destacou que a vitória não é apenas do governo, mas fruto da mobilização social e da construção de políticas públicas consistentes. Em um discurso emocionado, Lula lembrou sua trajetória pessoal e reforçou a necessidade de indignação permanente diante da desigualdade.

“Cuidar do pobre de verdade não é discurso, é compromisso com o coração. A fome não dói para quem nunca passou por isso. Eu sei o que é ter vergonha de dizer que está com fome. Sei o que é um país rico ter milhões passando fome por falta de vergonha de quem governa. Essa conquista mostra que é possível, mas a luta continua. Se a gente não transforma isso em prioridade de Estado, a fome volta”, afirmou o presidente.

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Lula alertou para a importância de manter políticas públicas sustentáveis e criticou a lógica histórica de concentração de recursos.

“Muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, miséria, analfabetismo. Pouco dinheiro na mão de muitos significa riqueza. O Brasil pode fazer muito mais, e nós vamos fazer”, disse.

O presidente ainda defendeu alimentação saudável e combate ao uso de agrotóxicos. “Nós não podemos aceitar comida envenenada. O produtor não come o que planta porque sabe o que tem ali. Por que o povo tem que comer? Não somos vira-latas”, completou.

Política pública como base da conquista

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, apresentou os dados que embasam a retirada do Brasil do Mapa da Fome.

Ele ressaltou que o país reduziu a taxa de subnutrição para 2,4% em 2023-2025, com 2024 registrando 1,7%, patamar considerado seguro pela FAO.

“Em 2022, tínhamos 33,1 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave. Retomar o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) e implementar o Plano Brasil Sem Fome foram decisivos. São cerca de 80 ações e programas integrados para garantir comida na mesa dos brasileiros”, explicou.

O ministro enfatizou que essa é a segunda vez que o Brasil sai do Mapa da Fome sob liderança de Lula. “Na primeira vez, levamos 11 anos. Agora, fizemos em dois anos e meio. Era um compromisso para 2026 e atingimos antes do prazo. Isso só foi possível porque o presidente colocou os mais pobres no orçamento e liderou essa luta como prioridade número um”, disse.

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Dias apontou também impactos positivos econômicos do Brasil com o governo Lula. “O país cresceu acima das estimativas, o desemprego caiu, a pobreza e a extrema pobreza atingiram os menores níveis da história. O salário mínimo foi valorizado, a renda dos mais pobres cresceu mais que a dos mais ricos e a inflação de alimentos foi a menor dos últimos anos. Resultado: o Brasil subiu cinco posições no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), avançando em renda, educação e expectativa de vida”, destacou.

“Nosso desafio agora é garantir que o Brasil nunca mais volte ao mapa da fome. Vamos implantar o protocolo Brasil Sem Fome, ampliar a busca ativa e fortalecer políticas permanentes. Reafirmo: não descansaremos enquanto houver uma única pessoa passando fome neste país”, concluiu.

Consea volta ao centro das decisões

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, lembrou que o Consea estava extinto no início de 2023 e foi reinstalado por Lula em seu primeiro dia de governo.

“Encontramos o Consea clandestino, caçado pelo governo anterior. O presidente Lula restituiu sua direção e, em pouco tempo, reconstruímos o conselho, realizamos conferências nacionais, estaduais e municipais, elaboramos um plano de trabalho e hoje celebramos essa conquista”, afirmou.

Macêdo destacou que a agenda de segurança alimentar será incorporada aos debates da COP 30, que acontecerá no Brasil no mês de novembro deste ano.

“Problemas ambientais geram problemas sociais e vice-versa. Josué de Castro já apontava isso nos anos 1940. Indira Gandhi reforçou na Conferência de Estocolmo, em 1972. O Brasil, agora, mostra ao mundo que é possível enfrentar os dois desafios juntos: garantir comida no prato e um planeta sustentável”, disse.

Durante a reunião, Lula também reforçou que a fome não é consequência de fatalidade natural, mas de escolhas políticas. “A seca no Nordeste é um problema da natureza. A fome causada pela seca é um problema de falta de vergonha de quem governa. Não existe desculpa. Quem elabora um orçamento e não coloca dinheiro para combater a fome está escolhendo manter a desigualdade”.

O presidente também fez duras críticas à ordem global. “O mundo gastou no ano passado 2,7 trilhões de dólares em armas. Isso seria suficiente para acabar com a fome de 760 milhões de pessoas. Não é falta de recurso, é falta de prioridade. É falta de indignação. Por isso, digo: indignação é a palavra que nos move”, afirmou.

“O nosso desafio é garantir que essa conquista não seja reversível. É transformar a segurança alimentar em política de Estado. É lutar para que cada brasileiro tenha o que comer todos os dias. Hoje mostramos ao mundo que é possível, mas ainda temos muito a fazer. Vamos seguir indignados, porque a desigualdade continua sendo o maior problema do Brasil”.

Da Redação

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Last Update: 05/08/2025