Um levantamento interno encomendado pelo Partido Liberal (PL) revelou avanço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas intenções de voto, ao mesmo tempo em que expõe a queda de apoio a Jair Bolsonaro (PL), segundo informações publicadas por Bela Megale, do jornal O Globo.

O crescimento de Lula, segundo a reportagem, é de três pontos percentuais, coincidindo com a escalada da crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos e a adoção de sanções comerciais por parte do governo de Donald Trump.

De acordo com a apuração, a repercussão negativa do aumento tarifário de 50% imposto pelos EUA a produtos brasileiros vem alterando a percepção do eleitorado. O movimento teria sido impulsionado por ações do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que permanece em território americano desde fevereiro.

Eduardo tem atuado junto a autoridades dos Estados Unidos pedindo sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além de defender a anistia de seu pai e de aliados investigados por atos contra o Estado Democrático de Direito.

A sondagem interna do PL estaria em consonância com dados divulgados por pesquisas públicas. A mais recente rodada do instituto AtlasIntel, realizada em parceria com a agência Bloomberg, mostrou que, pela primeira vez desde 2024, a aprovação do governo Lula ultrapassou numericamente o índice de desaprovação.

Grupo de Bolsonaro enfrenta desgaste político e diplomático

O impacto das articulações internacionais de Eduardo Bolsonaro junto a parlamentares republicanos e membros do governo Trump, antes visto como uma forma de mobilização ideológica, passou a ser interpretado como elemento gerador de instabilidade econômica e política para o Brasil. Lideranças do PL estariam avaliando que a exposição do país à retaliação comercial americana fortaleceu a imagem de Lula diante do eleitorado, ao mesmo tempo em que elevou o custo político para o ex-presidente e seus aliados.

Além das tarifas, o Departamento de Comércio dos EUA iniciou investigações sobre práticas comerciais brasileiras, incluindo temas como o sistema de pagamentos instantâneos Pix e as barreiras aplicadas ao etanol americano. O efeito dessas medidas já preocupa setores do agronegócio e da indústria nacional, bases eleitorais consideradas estratégicas para o bolsonarismo.

Inelegibilidade e cenário de 2026

As dificuldades se acumulam em um momento crítico para o campo bolsonarista, que tenta articular uma estratégia para as eleições presidenciais de 2026. Jair Bolsonaro permanece inelegível após condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e ainda não há consenso interno sobre um nome alternativo com viabilidade eleitoral.

A pesquisa interna do PL, segundo interlocutores citados por O Globo, teria sido recebida com apreensão por integrantes da legenda. A leitura é de que, se o cenário atual se mantiver, a vantagem de Lula poderá se consolidar nos próximos meses. O partido avalia formas de mitigar o impacto da crise e reverter a tendência desfavorável, mas reconhece que o desgaste causado pela diplomacia paralela do clã Bolsonaro tem gerado desconfiança até entre setores que historicamente apoiam o ex-presidente.

Efeitos da política externa na campanha

A ofensiva internacional promovida por Eduardo Bolsonaro, vista como uma extensão da retórica adotada pelo grupo desde o fim do governo Bolsonaro, agora levanta questionamentos dentro da própria base. A percepção de que a postura confrontacional com países parceiros estratégicos — como os Estados Unidos — pode resultar em perdas econômicas reais para o país tem sido usada por adversários políticos como elemento de crítica.

Nos bastidores do Palácio do Planalto, assessores presidenciais consideram que a condução do impasse com Washington fortaleceu a imagem de Lula junto a eleitores indecisos. O presidente tem defendido que “a política externa não deve servir a interesses pessoais ou partidários”, conforme afirmou em entrevista recente ao New York Times.

Aprovação do governo em alta

A pesquisa da AtlasIntel aponta que a aprovação de Lula chegou a 50,2%, enquanto a desaprovação recuou para 49,7%. Os dados foram colhidos entre os dias 25 e 28 de julho e indicam um cenário de leve recuperação da imagem do presidente junto à opinião pública, especialmente em meio às repercussões da “Tarifa Bolsonaro”, como a medida americana vem sendo chamada por interlocutores do governo.

Enquanto o Planalto tenta contornar os efeitos econômicos das sanções com um plano de contingência e medidas de apoio a setores impactados, o grupo de Bolsonaro enfrenta dificuldades para manter sua base mobilizada diante do cenário de inelegibilidade, instabilidade econômica e isolamento diplomático.

A movimentação do PL nos próximos meses será decisiva para definir se o ex-presidente ainda terá protagonismo eleitoral em 2026, ou se a crise atual marcará uma inflexão duradoura na correlação de forças políticas no país.

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Last Update: 01/08/2025