Nesta quarta-feira, 30, o chefe da principal potência imperialista do mundo, Donald Trump, baixou o prometido decreto sobretaxando em 50% as exportações brasileiras. A surpresa veio pelas 694 exceções do tarifaço, com destaque para a Embraer e o suco de laranja, e demais produtos que a economia norte-americana é mais dependente, ou que são insumos de seus próprios monopólios.
Da lista dos principais produtos exportados mantidos com a tarifa de 50%, ganham destaque o café e a carne, mas também muitos produtos industriais. Previsões iniciais de agências de consultorias calculam que as exceções atenuam em 41% o impacto que haveria caso fosse mantida a ameaça de Trump de sobretaxar todos os produtos brasileiros. Ou seja, não foi o tarifaço integral, mas, ainda assim, não deixa de ser um duro golpe à economia nacional.
O setor de plásticos, por exemplo, segundo dirigentes do setor, será afetado causando um efeito em cadeia em segmentos que vão da indústria ao agronegócio. Já a indústria têxtil foi praticamente toda incluída no embargo, assim como parte significativa da indústria de máquinas e equipamentos, num impacto inicial calculado em cerca de 1 bilhão de dólares só em 2025. Resumindo: ao contrário do que possa parecer num primeiro momento, a estratégia trumpista de bater e recuar, não minimiza o ataque imperialista ao Brasil, hoje o segundo país mais taxado só atrás da China (cujas negociações continuam em vigor). Além disso, empresas como a Taurus, antes mesmo de concretizada a tarifa, declarou estar disposta a transferir sua fábrica aos EUA. A Embraer também prometeu construir sua futura fábrica que faria no Brasil no país de Trump.
Lembrando ainda que existe um processo de “investigação” em curso contra o que os EUA acusam de “medidas desleais” do Brasil, o que pode levar a novas sanções contra o país.
Trump avança na ingerência ao Brasil
Se no anúncio do tarifaço em 9 de julho o governo norte-americano se baseava na mentira da “perseguição” a Bolsonaro e na falácia do comércio desleal (sendo que há 15 anos seu país acumula centenas de bilhões de dólares de superávit com o Brasil), desta vez Trump dá dez passos à frente em sua ingerência política, chegando a declarar “emergência nacional” contra o Brasil.
Sob um discurso cínico, haja visto que o Brasil que é dominado pelo imperialismo norte-americano, e alvo de ingerências dos EUA (como no golpe de 1964 e na manutenção da ditadura militar), Trump realiza o seu maior ataque à soberania do país. Os EUA são uma ameaça ao Brasil, e não o contrário como afirma o decreto de Trump.
Além de submeter ainda mais o Brasil do ponto de vista econômico, garantindo a livre ação de seus monopólios, com as big techs à frente, acima das leis do país, Trump quer o Brasil de joelhos, interferindo na Justiça e até mesmo em quem deve governar o país. Em sua tentativa de reverter o processo de decadência do imperialismo norte-americano em disputa, principalmente, com o imperialismo chinês, Trump quer transformar o Brasil de vez em seu quintal, acabando com qualquer autodeterminação do povo brasileiro.
A extrema direita, com Eduardo Bolsonaro à frente, nesse processo, cumpre o papel de articuladores políticos, conselheiros e assessores do imperialismo, num evidente crime de lesa-pátria. “Se o cenário for de terra arrasada, pelo menos vou ter minha vingança”, chegou a declarar o “Zero Três”. A crise vem causando certa divisão da extrema direita, com Eduardo Bolsonaro apostando na radicalização, e setores como Nikolas Ferreira e o governador Tarcísio de Freitas na negociação subserviente. Mas todos eles escancaram seu entreguismo, seu vira-latismo hipócrita que, tal qual Bolsonaro, presta continência à bandeira norte-americana arrotando um falso patriotismo.
Resistir aos ataques de Trump: Soberania não se negocia
Um perigo colocado é o de minimizar o ataque imperialista de Trump. O recuo do tarifaço, porém, se dá em meio ao avanço dos EUA à economia e à soberania do país. O decreto continua atingindo cerca de 60% das exportações brasileiras, e o tom ameaçador de Trump contra as instituições subiu vários degraus. Neste sentido, é preciso rechaçar fortemente as tarifas que, vindas de um país imperialista, constituem um ataque ao Brasil e à sua autodeterminação. É, na prática, um embargo sob justificativas políticas. Da mesma maneira, é preciso repudiar a sanção contra Alexandre de Moraes, e a chantagem contra o STF para salvar Bolsonaro e os golpistas da cadeia.
O decreto de Trump, assim, não foi o fim da crise aberta em julho. Em 90 dias podem vir novos ataques. Além de interferir na política e no Judiciário, Trump quer determinar com quem o Brasil se relaciona, ameaçando retaliar se o país negociar petróleo com a Rússia, ou se avançar nas negociações com outros países do Brics. Além de tudo, Trump queria humilhar o governo brasileiro, como fez com o presidente da Ucrânia ou, mais recentemente, com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que engoliu um acordo vergonhoso numa negociação que ocorreu no resort pessoal do presidente norte-americano na Escócia.
Parte do empresariado brasileiro clama por nenhuma retaliação, por “negociar”, aceitando entregar ainda mais as riquezas do país ao controle das multinacionais, principalmente norte-americanas, como no caso das terras raras. Ou aceitando “negociar” com as big techs, que não querem nenhuma regulamentação, continuando livre de qualquer imposto e se mantendo acima das leis do país. Sem falar no sistema financeiro e nas bandeiras de cartão de crédito dos EUA, que estão contra o Pix gratuito do Banco Central, porque querem cobrar taxas e tarifas para o povo brasileiro movimentar seu próprio dinheiro.
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Classe trabalhadora deve estar à frente da luta contra o imperialismo
O governo Lula, por sua vez, “jogando parado”, passou a impressão de enfrentar o imperialismo, tamanho o servilismo da burguesia brasileira. Fato é que, para além das palavras, está atuando, sobretudo, como gerente do empresariado, que pensa em seus lucros e não se importa com os empregos ou a soberania nacional (como no caso da Taurus, indústria de armas do Rio Grande do Sul que, mesmo antes da definição das tarifas, chegou a declarar que demitiria 3 mil operários, fecharia a fábrica no Brasil e se mudaria para os EUA). Lula, negando-se a qualquer tipo de retaliação, aponta agora o caminho da negociação com o imperialismo, tentando ampliar a lista das exceções do tarifaço, em troca de aumentar a subordinação do país ao imperialismo norte-americano e demais imperialismos, diminuindo ainda mais a pouca soberania que nos resta após tanto entreguismo.
Ao invés de cogitar entregar as terras raras do Brasil a Trump (ou mesmo à China ou UE) ou sinalizar negociar a não regulamentação ou isenção das big techs, Lula deveria manter firmeza na regulamentação e taxação das big techs, na proibição da remessa de lucros e dólares para os EUA e a suspensão do pagamento da dívida aos fundos de investimento norte-americanos, quebrar as patentes dos medicamentos e defender a exploração nacional e estatal das terras raras, com cuidado e compromisso com o meio ambiente e com a defesa das terras indígenas e quilombolas, ao invés de continuar entregando o subsolo brasileiro para as mineradoras multinacionais.
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É por isso que a luta contra os países e monopólios imperialistas, e pela soberania nacional de países subordinados, como o Brasil, é uma luta da classe trabalhadora porque, para defender nossos empregos e o país, precisamos derrotar o imperialismo coração do sistema capitalista mundial.
Podemos, e devemos, fazer unidade de ação com o governo, e mesmo o empresariado nacional nessa batalha, se eles encararem essa luta. Mas precisamos manter nossa independência política e organizativa porque, como já vimos, não dá para confiar que o empresariado nacional vá enfrentar Trump. Pelo contrário, boa parte quer sair entregando a soberania do país em troca de muito pouco, e assegurar seus lucros, rifando os trabalhadores brasileiros e as riquezas nacionais.
É preciso resistir e enfrentar, além das palavras, o ataque de Trump. Devemos repudiar a aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes e demais chantagens sobre os ministros do STF. Devemos exigir de Lula a aplicação da reciprocidade em tudo o que beneficie o Brasil; proibir a remessa de lucros e dividendos das empresas dos EUA, bem como suspender o pagamento da dívida pública aos credores norte-americanos. As big techs (incluindo a rede de Trump), devem ser taxadas e regulamentadas, e obrigadas a respeitar as leis do Brasil, e serem proibidas de interferirem no processo político e institucional do país.
Os trabalhadores estão dando o exemplo, como os metalúrgicos em São José dos Campos (SP). Nos próximos dias serão realizadas novas manifestações contra a ingerência imperialista de Trump. Esse é o caminho para enfrentar e derrotar esse ataque, garantindo nossa soberania e autodeterminação.
Repetimos, nessa luta, estamos a favor de fazer toda unidade de ação com o governo e com todo mundo que enfrente Trump e o imperialismo, mantendo a independência política da classe trabalhadora.
Trump, tire as mãos do Brasil. Bolsonaro na prisão!