No último domingo (27), foi publicada na emissora iraniana Press TV uma reportagem investigativa que expõe como “Israel” e o imperialismo, em conjunto com a Autoridade Palestina (AP), estão utilizando a fome como arma de guerra contra os palestinos da Faixa de Gaza e como arma contrarrevolucionária contra o Hamas e demais organizações da Resistência Palestina.
Além do bloqueio genocida contra Gaza, o sionismo está utilizando gangues de criminosos e pessoas ligadas ao Estado Islâmico, gangues estas que não apenas cobram propinas para permitir a passagem de comboios de comida e ajuda humanitária, mas saqueiam vários desses comboios.
Os saques têm várias funções: uma delas é controlar a distribuição de comida, forçando o deslocamento forçado de palestinos, ajudando “Israel” e o imperialismo a expulsá-los de suas casas. Outra é impedir a chegada de comida e ajuda nas áreas com maior presença da Resistência Palestina, utilizando a fome contra o povo palestino, na tentativa de jogá-los contra o Hamas e demais organizações. Os saques também são feitos pelas gangues criminosas para depois vender comida e ajuda no mercado negro a preço super inflacionado.
A gangue contarrevolucionária de Abu Shabab
A principal dessas gangues é liderada por um palestino chamado Iasser Abu Shabab. Antes do início da guerra genocida, ele estava preso em Gaza após ter sido condenado por tráfico de drogas. Abu Shabab tem ligação com o braço do Estado Islâmico no Egito, que atuava principalmente na região do Sinai.
Conforme informado pela Press TV, um extensivo levantamento de informações sobre os principais membros da gangue contrarrevolucionária foi feito por um pesquisador palestino de Gaza, Muhammad Shehada.
Através do levantamento, foi descoberto que um dos principais membros da gangue de Abu Shabab, que é chamada cinicamente de “Forças Populares”, é Issam al-Nabahin, um salafista que lutou nas fileiras do Estado Islâmico contra o exército egípcio, no Sinai. “Apesar da derrota do Estado Islâmico no Sinai e em Gaza, ele continuou a pertencer a grupos salafistas clandestinos”, informa a Press TV, que acrescenta que em 2023 ele chegou a assassinar um policial.
O pesquisador descobriu também que o braço direito de Abu Shabab é um colaborador israelense chamado Ghassan al-Dahini, que está “encarregado de recrutar novos militantes para as chamadas ‘forças populares’, junto com outra figura obscura conhecida como Saddam Zakkar”. Al-Dahini também é ligado ao Estado Islâmico, tendo sido parte do grupo Jaish al-Islam.
Outra figura importante na gangue de Abu Shabab é Saleh Abu Shabab, “que é ‘responsável por coordenar os movimentos da gangue’ com o exército israelense”, informou a Press TV.
Abu Shabab não é o único traficante de drogas utilizado por “Israel” e pelo imperialismo contra o Hamas. Há vários outros traficantes que ocupam importantes funções na gangue. São eles: Samir Sabbah, Fadi al-Dubari, Jamal Fatayir, Abdel-Rahman Al-Dubari, Bakir al-Waqili e Ali Zuhair abu Harb. Outros mercenários são Nassir e Bakir Hisham Abu Bakra, que anteriormente foram condenados por assassinato. Outros assassinos que fazem parte da gangue sustentada por “Israel” e pelo imperialismo são Raed Abu Samra, e os fugitivos Hassan Ashour and Tamer Abu Obaid, que estavam presos por terem matado um policial em Deir al-Balah, Gaza.
A investigação da Press TV também descobriu que a Autoridade Palestina (AP), liderada por Mahmoud Abbas, um cachorro de “Israel”, teve papel fundamental na organização da gangue contrarrevolucionária de Abu Shabab.
A emissora informa que no início de 2024, quando os palestinos tinham sido deslocados à força para a cidade de Rafá, no sul de Gaza, na mesma época em que “Israel” estava realizando assassinatos sistemáticos de forças policiais do governo de Gaza, a Autoridade Palestina “estava se comunicando com seus colegas israelenses sobre possíveis planos para sufocar o financiamento e as redes de segurança do Hamas, acreditando que Rafá era a chave”.
A emissora obteve essa informação de fonte dentro da AP, que também informou que “que, durante os meses em que o exército israelense ameaçou invadir Rafá, o cálculo para tomar a área da fronteira entre Gaza e Egito foi baseado em avaliações conjuntas da AP e de ‘Israel’ sobre os impactos econômicos sobre o Hamas no caso de tal movimento”, acrescentando que o objetivo com a invasão de Rafá era eliminar “as operações de financiamento do Hamas e prejudicaria seus serviços de segurança, permitindo que outras forças eventualmente assumissem o controle”.
O papel da gangue de Abu Shabab na política do sionismo de usar a fome como arma de guerra
Em sua reportagem, a Press TV relembrou que logo após “Israel” ter tomado o controle da fronteira em Rafá, a entrada de ajuda humanitária foi completamente suspensa, intensificando a política de matar os palestinos de fome.
A ajuda passou a ser novamente liberada (de forma extremamente limitada) após a situação ter se tornado crítica. Contudo, os caminhões de ajuda humanitária foram forçados a seguirem rotas impostas pelas forças israelenses de ocupação, na região sudeste de Rafá, justamente onde “Israel” e o imperialismo estavam organizando a gangue de Abu Shabab.
Figuras importantes de ONGs que atuam na distribuição da ajuda em Gaza denunciaram que todas as organizações foram forçadas a pagar propinas às milícias contarrrevolucionárias e que, frequentemente, mesmo pagando, tais grupos saqueavam comboios de comida e ajuda humanitária, para depois vender no mercado negro, obtendo lucro exorbitante e fortalecendo-se financeiramente com a especulação.
A situação foi noticiada inclusive no Haaretz, jornal israelense, que noticiou ao final de 2024 que a “taxa de proteção” cobrada pelas gangues era de cerca de US$4.000 por caminhão.
“Os palestinos que ainda tinham economias, como os que recebiam salários da Autoridade Palestina, tinham condições de comer, mas os criminosos tornavam a obtenção de alimentos impossível para aqueles sem recursos suficientes”, informou a Press TV
A emissora também informa que a ajuda saqueada é transporada “para armazéns seguros, sob os olhos atentos de drones israelenses, em um território considerado zona de matança para qualquer civil palestino ou socorrista que ousasse entrar”.
A emissora faz referência às instalações sob o controle da chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, a sigla em inglês), uma organização sob o controle dos Estados Unidos e de “Israel”, na qual atuam mercenários norte-americanos e militares das forças israelenses de ocupação. Desde que “Israel” rompeu unilateralmente o cessar-fogo, retomando a guerra genocida, a distribuição de comida e ajuda humanitária em Gaza está sendo realizada através dessa organização.
Desde que essa organização passou a atuar em Gaza, há alguns meses, os militares israelenses e os mercenários norte-americanos vêm diariamente assassinado dezenas de palestinos que vão a esses locais buscar ajuda humanitária.
Nesta quarta-feira (30), o número de palestinos que foram assassinados ao buscar ajuda humanitária chegou a 60, sendo que mais de 195 foram feridos, elevando o número total de de mortos nessas circunstâncias para 1.239 e mais de 8.152 feridos.
Mais ligações da Autoridade Palestina com a gangue de Abu Shabab e com a política de fome imposta por “Israel” e o imperialismo
Conforme a investigação do citado pesquisador palestino, Muhammad Shehada, “o esquema de ajuda do GHF de Israel não só se coordena com os mercenários de Abu Shabab, mas também com três irmãos ricos da Cidade de Gaza, donos da Al-Khazindar Company”.
Citando fontes, a emissora Press TV informa que um dos irmãos, Mohammed al-Khazindar, tem contato direto com um homem chamado Baha Balousha, figura alinha à Autoridade Palestina e informante da inteligência israelense.
A emissora também informou que “os irmãos Khazindar eram conhecidos por seu envolvimento no setor de petróleo e gás de Gaza, mas se envolveram em um escândalo de corrupção poucos meses antes do início da guerra genocida em Gaza, em 2023, o que supostamente os fez perder US$ 10 milhões em dívidas. Os três deixaram Gaza e residem no Egito”.
“Tratamos esses civis em Gaza pior do que tratamos os combatentes do ISIS que se renderam em Baghuz Fawqani, na Síria, em 2018.”
Soldado americano aposentado que trabalhou nas armadilhas mortais do GHF relata como o pequeno menino palestino Amir, que caminhou 12 quilômetros por um punhado de lentilhas, foi morto a tiros por soldados israelenses momentos depois de receber a comida.
Imperialismo promove Abu Shabab e sua gangue contrarrevolucionária como alternativa ao Hamas
Conforme já noticiado por este Diário, o Wall Street Journal (WSJ), jornal norte-americano, que é um dos porta-vozes da burguesia imperialista, publicou coluna assinada pelo próprio Abu Shabab no último dia 24
Press TV aponta que “é mais do que provável que um de seus assessores israelenses tenha realmente escrito o artigo, segundo fontes bem informadas”. Apesar disto, a coluna serve para promover Shabab e sua gangue como um alternativa ao Hamas, com o imperialismo fazendo a propaganda de que os palestinos de Gaza estariam saturados com Hamas e que sua forças contrarrevolucionárias estariam prontas para construir um novo futuro em Gaza. Uma total farsa.
Mercenário norte-americano admite massacres contra palestinos nos locais de ajuda
Recentemente, a BBC, emissora britânica controlada pelo aparato de inteligência do Reino Unido, publicou entrevista com Anthony Aguilar, mercenário norte-americano que trabalho nos locais de “ajuda” da tal Fundação Humanitária de Gaza.
Na entrevista, ele afirmou que “presenciei crimes de guerra” em Gaza, especificando que “testemunhei as Forças de Defesa de Israel atirando na multidão de palestinos”, acrescentou que, em toda a sua carreira (de militar e mercenário), nunca testemunhou tamanho nível de “brutalidade e uso de força indiscriminada e desnecessária contra uma população civil, uma população desarmada e faminta“.
Egito treina palestinos para atuarem como “força de segurança” em Gaza
Na conjuntura exposta acima, o Egito, cujo governo é uma ditadura a serviço do imperialismo, está treinando centenas de palestinos para exercer ‘funções de segurança em Gaza’ após o fim da guerra.
Conforme informado pelo portal de notícias The Cradle, citando o ministro das Relações Exteriores egípcio, Badr Abdelatty, centenas de palestinos estão sendo treinados e o plano já está sendo implementado. Já em abril, o portal Ultra Palestine inbformou que cerca de 300 agentes da repressão da Autoridade Palestina (AP) haviam sido selecionados para treinamento no Egito, com o pessoal instruído a não recusar a tarefa “sob pena de responsabilidade”.
A Autoridade Palestina é, notoriamente, um agente de “Israel” na manutenção da ditadura do imperialismo e do sionismo contra os palestinos da Cisjordânia.