O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que as novas tarifas comerciais entrarão, de fato, em vigor no dia 1º de agosto.
A declaração foi feita após encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em que ambos acordaram a redução de 30% para 15% sobre os produtos importados do bloco europeu.
Ao Brasil, recai uma tarifa de 50% e, apesar de alguns setores da política nacional atribuírem a medida a um alinhamento com Jair Bolsonaro e sua família, o mestre em Ciência Política Samuel Braun, convidado do programa TVGGN 20H da última sexta-feira (25), defende que as ações dos EUA têm motivações mais complexas — e estratégicas.
De acordo com Braun, o plano de fundo das sanções está diretamente relacionado à reunião do BRICS realizada no Brasil, que avançou em iniciativas para reduzir a dependência do dólar e do sistema financeiro internacional liderado pelos EUA.
A proposta de desenvolver mecanismos financeiros alternativos e de fortalecer a soberania econômica do bloco teria soado como uma ameaça à hegemonia norte-americana.
“A visão geopolítica da posição do Brasil, das movimentações do Brasil e do papel fundamental que o Brasil exerce hoje no BRICS, à frente da presidência do BRICS, tem muito mais relevância para mover a mão e a vontade do Trump do que um desejo, um pedido de um filho de um ex-presidente de um país que o Trump dificilmente saberia apontar no mapa há cinco, seis anos atrás. Dito isso, há também aproveitamento político, claro, da situação do Bolsonaro, que é hoje um player dessa extrema-direita internacional, reconhecido dela”, afirmou Samuel.
Um dos temas centrais da entrevista foi a questão das terras raras, uma vez que o Brasil detém cerca de 8% das reservas mundiais desses elementos, ficando atrás apenas da China e da Noruega.
Enquanto a China controla cerca de 90% da produção mundial, os EUA têm buscado alternativas para reduzir sua dependência do país asiático. Nesse contexto, o Brasil passa a ser uma peça-chave.
O doutorando em Política, Relações Internacionais e Economia ressaltou que Trump já exigiu da Ucrânia a exploração de terras raras.
Segundo Braun, os ataques recentes à soberania brasileira — como as críticas ao STF e a exigência de revisão de políticas comerciais — não passam de pretextos para abrir espaço a futuras exigências mais concretas: o acesso privilegiado dos EUA às reservas minerais brasileiras.
Falta de estratégia nacional
Apesar do potencial, o Brasil ainda carece de uma política estruturada para aproveitar suas riquezas minerais.
Samuel ainda citou o abandono de projetos estratégicos como o MagLev Cobra — trem de levitação magnética desenvolvido por universidades brasileiras — e o esvaziamento da Ceitec, estatal voltada à produção de semicondutores, como exemplos do descaso histórico com a tecnologia nacional.
Para ele, a conjuntura internacional, marcada por conflitos, tensões comerciais e reorganização de cadeias produtivas, é uma oportunidade histórica para o Brasil retomar um projeto de soberania tecnológica.
O convidado propõe que o país desenvolva uma estratégia nacional de industrialização das terras raras, com agregação de valor e produção local de chips e componentes estratégicos.
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