O programa Entrelinhas Vermelhas desta quinta-feira (24) recebeu a secretária nacional de Organização do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Nádia Campeão, para discutir os rumos traçados no 16º Congresso Nacional do partido. Em andamento desde o início de junho, o Congresso ocorre em uma conjuntura marcada por instabilidades nacionais e internacionais profundas, com destaque para a ofensiva da extrema direita e os desafios à soberania dos povos.
Diretrizes para um mundo em transformação
Nádia destacou que as diretrizes do Congresso abordam tanto a conjuntura internacional quanto os desafios internos do Brasil. Do ponto de vista internacional, o documento aponta para o declínio do imperialismo norte-americano e o surgimento de um mundo multipolar, marcado por ameaças, chantagens e guerras, como as ocorridas na Faixa de Gaza e na Ucrânia. “Denunciar essas ações imperialistas, para mostrar a ameaça que elas representam para a paz mundial, defender a paz e defender a soberania dos povos e nações” é uma das diretrizes centrais, segundo ela.
No cenário nacional, o foco está na mobilização para uma nova vitória em 2026, defendendo um projeto democrático, progressista e popular. “Num mundo como este, instável e ameaçador como este, imagine se tivéssemos um governo submisso”, ponderou. A necessidade de construir um novo bloco social, apoiado pelas forças populares, foi apontada como fundamental diante dos obstáculos estruturais do país e da postura ambígua de parte das elites brasileiras.
A entrevista destacou a importância do projeto de resolução política, documento-base do Congresso. Diferentemente de outros partidos onde há várias teses em disputa, o PCdoB parte de um único documento elaborado pela Diretoria Nacional, em torno do qual se desenvolve o debate coletivo até a sua aprovação final. “É um guia para a ação, não é um documento para ficar na gaveta”, enfatizou, destacando a necessidade de leitura, estudo e debate por parte dos militantes.
Diálogo com o campo progressista e a juventude
A dirigente partidária reafirmou a importância de ampliar o debate do documento para além do partido, dialogando com aliados, lideranças e o campo democrático e progressista. Ações como seminários, debates e divulgação nas redes sociais e na imprensa partidária visam dar repercussão às ideias do PCdoB. Sobre a vitalidade do socialismo, Nádia afirmou que ele “existe mais do que nunca”, citando o confronto com o imperialismo, especialmente em relação à China, como exemplo da força do modelo socialista renovador.
Diante da ofensiva conservadora e da guerra cultural contra os partidos de esquerda, o documento do Congresso reafirma o papel estratégico do PCdoB. “A história não produziu um instrumento melhor para deter a luta, esse tipo de luta pelo poder”, declarou. O debate sobre a necessidade do partido e a superação de tendências como espontaneidade e individualismo é central, especialmente nas redes sociais.
Mobilização prolongada e paridade de gênero
A entrevista também abordou o modelo de Congresso do PCdoB, que privilegia uma longa fase de mobilização e debate desde a base. O processo, que se estende por meses, permite emendas ao documento e envolve organizações de base em universidades, comunidades e categorias profissionais antes de chegar às instâncias estaduais e nacionais. “É o que dá o tamanho, a amplitude do PCdoB no Congresso. Quantas pessoas, quantos filiados e militantes reunidos na base? É isso que conta”, explicou Nádia.
Outro destaque foi a conquista da paridade de gênero na nova Direção Nacional do partido, com 50% de mulheres. “Chegamos a essa questão da paridade como resultado dessa trajetória e com muitos quadros de mulheres, em condições de assumir os rumores estaduais e nacionais”, afirmou, comemorando o marco alcançado.
Trabalhadores e jovens como forças estratégicas
O Congresso reafirma os trabalhadores e a juventude como forças estratégicas para o fortalecimento partidário. Nádia ressaltou a necessidade de compreender o novo perfil da classe trabalhadora e a importância dos sindicatos, além de chamar a juventude para a luta, frente aos desafios como a precarização do trabalho e as mudanças climáticas. “E também em outros aspectos, até essa mesma questão do trabalho. A juventude é a camada mais afetada por essas mudanças”, apontou.
Sobre o projeto eleitoral para 2026, a secretária mostrou-se confiante, mas realista diante da composição conservadora do Congresso Nacional. “Estamos com os pés no chão, sabemos que essas dificuldades permanecem. Mas também temos esperança”, afirmou, citando a luta do governo Lula e a defesa da democracia como fatores que posicionam os candidatos do PCdoB. O objetivo é reeleger a bancada atual e ampliá-la. “Lutaremos por isso. Neste momento, nestes meses, estamos aproveitando este debate com todos os estados, dos projetos eleitorais de cada estado, ajustando, preparando, muitas coisas estão sendo preparadas agora”, concluiu.