Uma pesquisa realizada pela Ipsos-Ipec entre os dias 3 e 8 de julho indica que sete em cada dez brasileiros (72%) acreditam que os recentes conflitos internacionais podem afetar muito a economia do país. Outros 20% avaliam que os efeitos seriam moderados, enquanto apenas 4% consideram que esses conflitos não impactariam o Brasil. O resultado escancara a sensibilidade da população diante das tensões geopolíticas e o temor sobre seus desdobramentos econômicos.
O levantamento ouviu 2 mil pessoas em 131 municípios e possui margem de erro de dois pontos percentuais.
O dado mais expressivo revela a percepção de vulnerabilidade econômica do país diante de guerras e sanções globais — uma leitura que vai além da conjuntura e aponta um grau elevado de insegurança estrutural.
Relações exteriores também são vistas sob risco
A preocupação não se restringe ao bolso. Para 66% dos entrevistados, os conflitos internacionais também podem afetar muito as relações diplomáticas do Brasil. Outros 23% acham que o impacto seria limitado, enquanto apenas 7% descartam esse tipo de interferência.
O número revela uma consciência crescente de que o Brasil, embora historicamente não beligerante, não é neutro nem imune à reconfiguração das alianças globais, sobretudo num contexto em que se intensificam as disputas entre potências.
Apoio popular a potências em conflito é baixo
A pesquisa também perguntou qual é a percepção dos brasileiros sobre países envolvidos em conflitos. Os resultados revelam uma desconfiança generalizada em relação a quase todos os atores internacionais — o que pode refletir tanto um ceticismo político quanto um sentimento de distanciamento.
- Estados Unidos: 49% têm opinião desfavorável ou muito desfavorável; 37% favorável ou muito favorável.
- Rússia: 70% avaliação negativa; apenas 15% favorável.
- Irã: 70% negativa; 14% favorável.
- Israel: 52% desfavorável; 35% favorável.
- Palestina: 61% desfavorável; 21% favorável.
- Ucrânia: 53% desfavorável; 32% favorável.
Mesmo a Ucrânia, frequentemente retratada na mídia como vítima de agressão russa, não escapa da desaprovação da maioria. O caso da Palestina é ainda mais sintomático da confusão, desinformação e afastamento da opinião pública destes temas. Isso pode indicar cansaço com o noticiário bélico, dificuldade de compreensão dos conflitos ou resistência a se identificar com lados externos.
Baixo nível de informação gera insegurança e apatia
Um dado preocupante do levantamento é o baixo nível de informação da população sobre o tema. Apenas 25% dos entrevistados se dizem bem informados sobre os conflitos internacionais — índice que sobe para 31% entre homens e pessoas com ensino superior, mas despenca para 17% entre os que têm ensino fundamental.
Quase metade (46%) se considera “mais ou menos” informada, enquanto 27% admitem desconhecimento. Isso ajuda a explicar o ceticismo frente aos países em conflito e a dificuldade em formar uma opinião clara sobre o papel do Brasil nesse xadrez.
A falta de familiaridade com as disputas internacionais pode gerar tanto apatia quanto aversão generalizada, impedindo uma compreensão crítica do cenário e dificultando o engajamento da população em debates sobre soberania, comércio exterior e política externa.
Geopolítica entra no radar do brasileiro comum — com desconfiança
O estudo indica que, mesmo com baixa informação, o brasileiro percebe que há algo maior em jogo. Os conflitos entre grandes potências deixaram de ser assuntos restritos à diplomacia e passaram a gerar apreensão sobre impactos reais no cotidiano, especialmente na economia.
Esse novo grau de consciência — ainda que marcado por desinformação — exige uma nova abordagem comunicacional por parte do governo e da mídia: é preciso explicar mais, e melhor, por que o Brasil não pode ser neutro diante de guerras que impactam o preço da energia, dos alimentos, do câmbio e da paz mundial.
Além disso, os dados indicam que a opinião pública brasileira tende a se afastar de posições binárias — como “apoiar Israel ou a Palestina”, “ficar com os EUA ou a Rússia” — e demanda uma política externa independente, pragmática e centrada na paz.