War pigs: Ozzy morreu e os porcos da guerra seguem vivos. Por Sara Góes

Ozzy Osbourne morreu e com ele se cala uma das vozes mais insubordinadas que o rock já pariu. Não foi apenas um vocalista que partiu, foi um estopim, aquele que rasgou o otimismo mentiroso dos anos 70 com um grito vindo das entranhas de Birmingham. Com ele, morre também a lembrança incômoda de que a arte pode ser política sem pedir licença, que a música pode apontar o dedo na cara dos senhores da guerra e que um operário de fábrica pode virar lenda sem se ajoelhar diante do sistema.

Mas o silêncio que se anuncia é só aparente. Porque War Pigs continua tocando, mais atual do que nunca, enquanto Donald Trump, Jair Bolsonaro e os sabujos da extrema direita seguem tentando transformar algoritmos em armas e países em playgrounds geopolíticos. Ozzy se foi, mas os porcos da guerra seguem vivos, conectados, blindados por big techs e tratados como vítimas por uma imprensa que ainda hesita em nomear o inimigo.

A música lançada pelo Blacwar-pigs-ozzy-morreu-e-os-porcos-da-guerra-seguem-vivosk Sabbath em 1970 denunciava não apenas as guerras convencionais, mas o teatro do poder que as sustenta. Generais que se escondem, políticos que decidem quem vai morrer e quem vai lucrar. A mesma estrutura de dominação reaparece agora, digitalizada e mais sofisticada, por trás dos processos que envolvem Trump, Bolsonaro e Eduardo. Não são apenas crimes eleitorais ou desvios de conduta, são ações coordenadas para desestabilizar instituições democráticas e instaurar um regime de exceção com verniz tecnológico.

A carta de Trump enviada a Lula ameaçava taxar em 50% os produtos brasileiros caso o país não recuasse nos processos contra Bolsonaro e nas decisões judiciais que atingem plataformas como a Rumble e a Truth Social. O aviso era claro, o império não tolera insubordinação judicial. A liberdade que reivindicam é a liberdade de manipular, capturar e sabotar democracias que insistem em ter Constituição própria.

Os senhores da guerra, hoje, não precisam mais de tanques, só de Wi-Fi, verbas escondidas e empresas que monetizam a desinformação. São os CEOs do caos, os engenheiros do medo, os donos do algoritmo que decide o que você vai ver, ler e temer. Eles se organizam como cartéis, influenciam eleições, pressionam governos e agora recorrem à Justiça dos Estados Unidos para derrubar decisões do STF brasileiro. E tudo isso em nome de uma tal liberdade de expressão que nada mais é do que licença para destruir.

War Pigs foi escrita para um outro tempo, mas descreve o nosso com precisão assustadora. Os porcos continuam entre nós, mascarados de inovação, disfarçados de empreendedores. E enquanto Ozzy silencia, o mundo precisa decidir se vai continuar dançando conforme a música ou se vai encarar a partitura real do poder. Porque os gritos dele continuam sendo necessários. Cada vez mais necessários.

 

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