“O Brasil não vai sair dos Brics”, afirmou categoricamente o assessor especial do presidente Lula, o embaixador Celso Amorim, em entrevista exclusiva ao Cafezinho. A declaração responde diretamente a vozes da imprensa e do meio político que sugerem que a presença do Brasil no bloco – que conta hoje com 21 países no total, sendo 11 membros plenos e 10 países parceiros – seria responsável pelos problemas geopolíticos que o país enfrenta com os Estados Unidos.
Segundo o assessor especial da Presidência da República, as sugestões de que o Brasil deveria abandonar os Brics para evitar retaliações dos Estados Unidos não fazem sentido. Para Amorim, a posição brasileira é clara e inabalável: o país não cederá a chantagens desse tipo.
A crítica ao “entreguismo” de Bolsonaro
Hoje foi publicado no Estadão um editorial que faz críticas contundentes ao entreguismo e à total falta de compromisso nacional da família Bolsonaro e seus capachos. O editorial reconhece que “muito ainda pode ser dito sobre a irresponsabilidade de Jair Bolsonaro” e seus aliados que tentaram subordinar os interesses nacionais a pressões externas.
O texto do Estadão também observa que Trump tem tentado socorrer Bolsonaro “ao custo de inestimável prejuízo para a economia brasileira, ameaçada por um tarifaço americano”.
O editorial incorre, no entanto, num equívoco grave ao atribuir a afiliação do Brasil aos Brics como razão dos problemas geopolíticos que o país enfrenta com os Estados Unidos. O jornal conclui que seria melhor que o Brasil se retirasse do bloco.
Para Amorim, o problema desse editorial está na tentativa de legitimar uma “chantagem infame” – a interferência no judiciário brasileiro em troca da submissão da soberania nacional. O embaixador considera essa postura inadmissível.
Arrogância sem precedentes dos EUA
Em décadas de experiência diplomática, Amorim afirma nunca ter testemunhado tamanha arrogância como a demonstrada pelo presidente americano Donald Trump, que chegou a ordenar que o Brasil interrompesse “IMEDIATAMENTE”, assim mesmo, em caixa alta, o processo judicial contra Bolsonaro.
Nem quando o Brasil decidiu construir a usina nuclear com a Alemanha – decisão que gerou intensa contestação dos Estados Unidos na época – houve tanta agressão ao país ou tamanha prepotência por parte da administração americana, lembrou Amorim.
Para ilustrar o isolamento crescente dos EUA, Amorim recorre a uma analogia bem-humorada: “isso me lembra o bêbado que entra no lado errado de uma via movimentada, e grita indignado: Ué, que loucura é essa! porque todo mundo está andando na contramão?”
As ameaças ridículas e patéticas de Mark Rutte
As declarações do secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, ameaçando Brasil, Índia e China com tarifas devastadoras de 100% ou mais caso não rompessem relações com a Rússia, provocaram respostas contundentes dos três países. Índia e China reagiram de forma particularmente severa às ameaças.
No Brasil, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira – conhecido por seu estilo comedido – surpreendeu ao dar declarações excepcionalmente rigorosas contra as ameaças de Rutte. Na conversa com Amorim, o embaixador confirma que de fato o governo brasileiro ficou irritado com a postura do chefe da OTAN, embora prefira manter a elegância nas palavras para evitar atritos desnecessários.
A resposta brasileira é clara: rejeitar categoricamente qualquer tentativa de subordinar a política externa nacional a pressões e ultimatos externos.
Os Brics não são um bloco ideológico
Celso Amorim faz questão de esclarecer que o editorial do Estadão distorce a realidade sobre a natureza dos Brics. O embaixador enfatiza que o agrupamento não constitui um bloco ideológico, mas sim um fórum de cooperação entre economias emergentes e países em desenvolvimento.
Para sustentar seu argumento, Amorim cita exemplos concretos: o bloco inclui países que mantêm excelentes relações com os Estados Unidos, como a Índia e os Emirados Árabes Unidos. Ninguém, observa o diplomata, imaginaria que os Emirados Árabes – que são grandes aliados de Israel e mantêm relações estratégicas com Washington – teriam qualquer animosidade com os Estados Unidos.
A resposta brasileira: diversificação e desdolarização
Diante das pressões e ameaças americanas, a estratégia do governo brasileiro será clara e pragmática: buscar outros parceiros comerciais e diversificar as relações econômicas internacionais. Amorim deixa claro que o Brasil não se intimidará com as pressões externas e continuará a desenvolver suas relações de forma soberana.
As críticas de que o presidente Lula defende uma desdolarização do comércio internacional não devem ser confundidas com ataques ao dólar americano, esclarece o embaixador. O Brasil está defendendo uma iniciativa racional do ponto de vista econômico: obter maior segurança jurídica no comércio internacional através do uso de moedas locais, reduzindo a dependência excessiva de uma única moeda.
Esse processo de diversificação monetária no comércio internacional segue seu curso natural, impulsionado por necessidades econômicas práticas e pela busca de maior autonomia financeira por parte das nações emergentes.