As alegações finais apresentadas pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal nesta semana escancaram o que o Jornal GGN revelou ainda em 2022: a existência de uma estrutura clandestina de espionagem montada no coração da Abin, a serviço direto dos interesses políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em 517 páginas, o procurador-geral Paulo Gonet pede a condenação de Bolsonaro, de ex-ministros e de militares por envolvimento na trama golpista, e antecipa qual será sua posição no inquérito da chamada “Abin Paralela”.

Segundo Gonet, o uso da agência de inteligência para espionar adversários, interferir em investigações e disseminar fake news eleitorais configura um “gravíssimo desvio de finalidade institucional”.
O nome da agência aparece nada menos que 209 vezes no documento. Um dos principais alvos é o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
De acordo com o procurador-geral, Heleno atuou diretamente na construção da narrativa conspiratória de Bolsonaro e autorizou a infiltração ilegal de agentes da Abin em campanhas de candidatos adversários.
“Augusto Heleno preparou a narrativa difundida pelo então presidente da República em diversos pronunciamentos públicos e anuiu com espionagens ilegais, baseadas em interesses particulares de Jair Bolsonaro”, afirmou Gonet.
A avaliação dentro do próprio STF é de que as alegações da PGR são tão robustas que bastaria um “Ctrl C + Ctrl V” para transformar o texto em denúncia formal, de acordo com informação da CNN. A expectativa é que isso ocorra em breve.
O Jornal GGN foi o primeiro veículo a denunciar, em 2022, o uso ilegal da Abin para fins de perseguição política. Os detalhes estão expostos no livro de Luis Nassif, “A Conspiração Lava Jato”.
GGN foi o primeiro a revelar a espionagem ilegal dentro da Abin

Em maio de 2022, artigo de Luis Nassif trouxe à tona diversos sistemas de tecnologia adquiridos pela Abin e pelo Comando de Defesa Cibernética do Exército (ComDCiber), à serviço do governo Bolsonaro, que poderiam ser usados para monitorar pessoas.
O esquema envolvia servidores da Abin com acesso privilegiado à ferramenta, sem qualquer autorização judicial, em franca violação à Constituição e à Lei das Interceptações. O uso do sistema era orientado por interesses políticos e pessoais, com ramificações no entorno do chamado “gabinete do ódio”.
O desvio de finalidade da Abin contava com conivência de altos escalões do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), então comandado pelo general Augusto Heleno. O caso foi ignorado pelos grandes veículos de imprensa, mas causou um grande escândalo à época com a cobertura do GGN, e apenas agora, mais de dois anos depois, começa a ser tratado com a gravidade que exige, à medida que as investigações da PGR e do STF avançam sobre o chamado “núcleo de inteligência paralela”.
Relembre as reportagens do GGN:
As informações foram reunidas no documentário “Xadrez da ultradireita mundial à ameaça eleitoral”, do GGN, analisando junto a dezenas de especialistas os avanços do governo de Jair Bolsonaro nas tecnologias de monitoramento, com objetivos políticos e eleitorais. Relembre o documentário: