Carta Brasil 2000 (VI)
por Izaías Almada
O organizador da Carta Brasil 2000, Carlos Jacchieri (*), também deixou o seu texto, por ele intitulado de “O POVO BRASILEIRO: UMA IDENTIDADE NACIONAL MESTIÇA”. Vamos a ele?
“A História é a Ciência da Vida Histórica que a temos concebido, no único modo possível de concebê-la: racionalizando-a na sua unidade e diversidade, capitulando-a nas suas abrangências mais universais, o Mundo, a Humanidade, a Civilização, etc., e nas mais particulares, os povos, as civilizações, as culturas, etc., que têm começo e fim, surgem e desaparecem, nascem, vivem e falecem, em locais precisáveis e temporalidades mensuráveis, como, aliás, acontece com as pessoas que seguem aniversariando os anos de suas biografias, do nascimento à morte”.
“Nessa verdade, quinhentos anos com que Pero Vaz de Caminha, na sua carta, lavrou a certidão de nascimento de um novo fato histórico, “concreto na síntese de suas muitas determinações”: o país Brasil, territorial e político e a nacionalidade brasileira, na sua “raciação” e aculturação, existentes na “Vida Histórica da Humanidade”, desde o dia 22 de abril de 1500.”
“O encontro de civilizações, os choques nas aculturações envolvendo massivos contingentes humanos, raças e culturas, em implacáveis e irrevogáveis mudanças nos modos de ser, de viver, de pensar, desde sempre em toda a história conhecida, precederam e promoveram o surgimento de novos inteiros mundos culturais: novas civilizações. E a isso se direcionou na dinâmica de três ocorrências distintas nas suas resultantes históricas, mas conseqüentes e imediatas entre si: dominações pela força, inevitáveis miscigenações, convenientes sincretismos”.
“A dominação pela força, não raro até aniquiladora de toda resistência da parte dominável, tende a favorecer a supremacia da parte dita mais civilizada, que é a mais desenvolvida nas artes e nas artesanias que facilitam o domínio e uso prático dos elementos e das coisas naturais e também, na mesma força, favorecem a inexorável subjugação da parte dita mais bárbara, que é a mais desatualizada nas descobertas e inventivas culturais, que a outra já tem confirmado”.
“A História é a ciência abrangente da condição humana, desde sua Paleogenia até sua Embriogenia atual, desde seu existir na naturalidade original, até o seu viver na realidade que aí está, e que é exclusivamente humana, porque inventada e fabricada apenas e tão somente pelos talentos humanos no que têm de melhor e de pior. Somos criaturas do universal mundo natural e criadores do particular mundo cultural. E esta situação de criatura/criador, no seu Bem e no seu Mal, é a básica condição humana, é a necessária verdade prévia, para começo de qualquer conversa, sobre as histórias da História, inclusa a do Brasil nos seus 500 anos”.
“As macaquices imitativas e miméticas, mais o sincretismo que paraleliza comuns aquisições espirituais no choque aculturativo, terminam resumindo “mundos culturais” diversos, numa enriquecida síntese que propicia renovações nas heranças do patrimônio histórico. Isso e mais as mudanças espirituais manifestas na gente adventícia das mestiçagens renovam, no conjunto, os comportamentos culturais: inauguram uma nova civilização. E a brasilidade assim se tem feito, nos seus 500 anos”.
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(*) – Pintor, ceramista, escultor, vitralista e escritor, o paulistano Carlos Jacchieri (janeiro de 1921/dezembro de 2004) teve marcante participação na cultura nacional, tendo sido ainda um dos inspiradores da criação do Centro de Estudos Orlando Villas Bôas, abrigado pelo Instituto do Legislativo Paulista (ILP). Seu empenho contou com o apoio do ex-deputado Claury Alves da Silva, autor de projeto de lei que instituiu a Semana Orlando Villas Bôas, em 2003.
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
