O primeiro-ministro francês, François Bayrou, pretende reduzir o número de feriados na França como parte de uma tentativa de enfrentar o déficit orçamentário, que ele chamou de “maldição”.
Ao apresentar as propostas orçamentárias para 2026, Bayrou afirmou na última terça-feira 16 que dois dos 11 feriados nacionais da França poderiam ser eliminados, sugerindo a Segunda-feira de Páscoa e o 8 de maio, dia em que se comemora o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.
Com essa medida, a França teria nove feriados nacionais, assim como a vizinha Alemanha – embora os estados federais possam acrescentar seus próprios feriados – ficando, porém, bem abaixo dos 12 dias da Itália.
Bayrou argumentou que a remoção de dois feriados nacionais traria receitas de impostos geradas pela atividade econômica, contribuindo para injetar cerca de 44 bilhões de euros (284 bilhões de reais) a mais nos cofres públicos.
Bayrou questionou a importância religiosa da Segunda-feira de Páscoa. E o Dia da Vitória, comemorado em 8 de maio, ocorre em um mês que se tornou um “verdadeiro Gruyère” (queijo suíço com buracos) de dias de folga que inclui o Primeiro de Maio e o feriado católico da Ascensão, disse ele. O premiê francês ressaltou, entrentanto, que o corte desses feriados é apenas uma sugestão e que está aberto a outras ideias.
Depois de anos de gastos excessivos, a França está sob alerta para controlar seu déficit público e reduzir sua dívida crescente, conforme exigido pelas regras da UE.
O premiê disse que a França precisa tomar empréstimos todos os meses para pagar as aposentadorias e os salários dos funcionários públicos, uma situação que ele chamou de “uma maldição sem saída”.
Protestos e ameaça da oposição
Mas a proposta provocou protesto imediato da oposição. Jordan Bardella, líder do partido de ultradireita Reunião Nacional, disse que abolir dois feriados, “especialmente aqueles tão cheios de significado como a segunda-feira de Páscoa e o 8 de maio, é um ataque direto à nossa história, às nossas raízes e ao trabalho na França”.
A líder parlamentar do partido, Marine Le Pen, advertiu que “se François Bayrou não revisar seu plano, votaremos uma moção de desconfiança”.
O incendiário esquerdista Jean-Luc Mélenchon, do partido de extrema-esquerda França Insubmissa (LFI), pediu a renúncia de Bayrou, dizendo que “essas injustiças não podem mais ser toleradas”.
Sua colega de partido Mathilde Panot acusou Bayrou de iniciar “uma guerra social”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, havia encarregado Bayrou de elaborar um orçamento que reduza os custos para diminuir o impressionante déficit da França – e, ao mesmo tempo, adicione bilhões em novos gastos com defesa para enfrentar o que Macron diz serem ameaças ressurgentes da Rússia e de outros países.
Posição precária
Mas sem maioria parlamentar, o grupo centrista de Macron precisa conquistar o apoio de adversários da esquerda e da direita para aprovar o orçamento neste segundo semestre do ano. As propostas de Bayrou, que são apenas a primeira etapa do processo orçamentário, também foram rapidamente atacadas pelos sindicatos.
A posição de Bayrou é precária, e ele poderá ser destituído se não conseguir chegar a um acordo sobre o orçamento.
Bayrou havia dito anteriormente que a posição orçamentária da França precisava ser melhorada em 40 bilhões de euros no próximo ano.
Mas esse número aumentou depois que o presidente Emmanuel Macron disse no fim de semana que queria 3,5 bilhões de euros de gastos militares adicionais no próximo ano devido às crescentes tensões internacionais. A França tem um orçamento de defesa de 50,5 bilhões de euros para 2025.
Bayrou disse que o déficit orçamentário será reduzido para 4,6% no próximo ano, em comparação aos 5,4% estimados para este ano, e até 2029 ficará abaixo dos 3% exigidos pelas regras da UE.
Para atingir esse objetivo, outras medidas incluiriam um congelamento geral dos aumentos de gastos – inclusive em aposentadorias e saúde – exceto para o serviço da dívida e o setor de defesa, disse Bayrou.
“Nós nos tornamos viciados em gastos públicos”, disse Bayrou. “Estamos em um momento crítico de nossa história.”
O primeiro-ministro até mesmo citou a Grécia como uma história de advertência, um membro da UE cuja dívida e déficits em espiral o levaram à beira de sair da zona do euro após a crise financeira de 2008.
A dívida da França está em 114% do PIB – em comparação com os 60% permitidos pelas regras da UE – a maior montanha de dívidas da UE depois da Grécia e da Itália.