“Ninguém quer romper com os Estados Unidos, ninguém quer prescindir dos Estados Unidos. O que queremos é não ser refém dos Estados Unidos”, alertou o presidente, em entrevista à Christiane Amanpour

O multilateralismo é o único caminho para um constante equilíbrio nas relações diplomáticas entre as nações. O compromisso com o diálogo não deve ser confundido, no entanto, com subserviência a nenhum país. A avaliação foi feita pelo presidente Lula, que voltou a defender a soberania do Brasil em entrevista à rede americana CNN, nesta quinta-feira (18).

À jornalista Christiane Amanpour, Lula falou sobre a chantagem de Donald Trump sobre o Brasil com a imposição de uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos. “Para mim foi uma surpresa. Não só o valor da taxação, mas como foi anunciada. Eu penso que falta um pouco de multilateralismo na cabeça do presidente Trump. E ele sabe que um problema desses se resolve numa mesa de negociação”, reiterou Lula.

O presidente fez questão de lembrar todos esforços diplomáticos feitos pelo Brasil para consolidar as relações comerciais com os americanos. “Nós estávamos negociando com os Estados Unidos desde março. O meu ministro das Relações Exteriores, o meu vice-presidente da República estavam negociando. Dia 16 de maio, mandamos uma proposta depois de dez reuniões, dizendo o que a gente queria e o que era possível acordar. Para nossa surpresa, em vez de resposta à carta, recebemos a notícia publicada no site do presidente da República”, relatou o mandatário brasileiro.

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Sobre a carta de Trump, Lula a considerou um “equívoco”, apontando o festival de fake news de Trump. Ele reforçou a independência da justiça brasileira e voltou a desmentir a alegação de déficit comercial: “Os Estados Unidos, nos últimos 15 anos, tiveram superávit de 4US$ 10 bilhões com relação ao Brasil”, pontuou. Além disso, defendeu o direito do Brasil de taxar grandes empresas de tecnologia: “Se a gente cobrar uma taxa alta e eles não se contentarem, se estabelece uma negociação. É assim que funciona o multilateralismo, o comércio mundial. É assim que o Brasil age.”

OMC e soberania

“Vamos utilizar todas as palavras do dicionário tentando negociar. Se não der na negociação, você pode ter certeza que a gente vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), ou podemos recorrer sozinho, ou juntar um grupo de países e recorrer, ou poderemos utilizar a Lei da Reciprocidade que foi aprovada pelo Congresso Brasileiro”, assegurou Lula.

A defesa da soberania nacional voltou a ser objeto de análise do presidente. “É importante ter em conta que é preciso respeitar a soberania dos países. É preciso respeitar as coisas que acontecem dentro de um país. Eu não sou um presidente progressista, eu sou o presidente do Brasil. Eu não vejo o Trump como presidente de direita, eu vejo como presidente dos Estados Unidos. Ele foi eleito. Tem o respaldo do povo americano. Então, a melhor coisa é sentar numa mesa para conversar”, defendeu.

“Até agora, ele tem demonstrado que não tem interesse, porque acha que pode fazer as tarifas que quiser”, lamentou. “Ninguém quer romper com os Estados Unidos, ninguém quer prescindir dos Estados Unidos. O que queremos é não ser refém dos Estados Unidos.”

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Abertura de mercados

“Em apenas dois anos e meio de governo, eu criei 379 novos mercados para os produtos brasileiros no mundo. Eu tenho viajado muito. E vamos fazer um acordo com a União Europeia, com os países do ASEAN, na América Latina, conversar com o México”, apontou o presidente. “E vamos tentar procurar novos parceiros. E não vamos deixar de levar em conta a importância que os Estados Unidos têm para nós.”

“O que queremos é ter mais liberdade nas transações comerciais entre os países do BRICS. Representamos 40% do comércio internacional e 25% do PIB mundial”, justificou o líder brasileiro. O BRICS não foi criado para brigar com o norte. Foi criado para que a gente, os iguais, discutam de forma pacífica, de formas iguais, os seus problemas.”

Governança mundial

Lula falou mais uma vez sobre os esforços brasileiros em favor da paz diante dos conflitos que assolam o planeta. “O Brasil é um país em busca de paz e tranquilidade. É assim que buscamos paz na Ucrânia. É assim que buscamos paz em Gaza. É assim que queremos paz no continente africano, sobretudo no Congo. O Brasil não quer nem alimentar nem participar de guerra. O Brasil quer paz e quer negociar. É importante que o governo americano saiba disso”, ressaltou.

O presidente fez uma dura crítica às Nações Unidas, cujas instâncias de interlocução global se encontram completamente paralisadas. “É preciso que a ONU assuma a coordenação. E é preciso que o Putin e os Zelensky concordem com a coordenação, com um grupo de países que façam a proposta alternativa ao que eles querem. Porque senão a guerra não vai ter fim. E eu espero, sinceramente, que o presidente Trump, ao invés de vender mais armas, seja mais cuidadoso para tentar fazer a paz. Ele tem força, ele pode. Se você não tiver interlocutor, essa guerra vai continuar.”

“É como Gaza”, prosseguiu Lula. “O que está acontecendo em Gaza? O Netanyahu não respeita ninguém. Não respeita decisão da ONU, não respeita decisão dos Estados Unidos, não respeita nada. É esse mundo que queremos?, indagou.

“A governança mundial deveria ser feita pelos cinco membros do Conselho Permanente da ONU, mas todos eles são produtores de armas e todos eles já participaram de guerras. Os Estados Unidos invadiram o Iraque sem consultar a ONU, a Inglaterra e a França invadiram a Líbia sem decisão da ONU e o Putin invadiu a Ucrânia sem decisão da ONU. Falta governança.”

 

Do PT Nacional , com Site do Planalto

 

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Last Update: 18/07/2025