Lula 3: O Império Contra-ataca

por Erick Kayser

No governo Lula 3, o Império contra-ataca. Parecendo título de filme, assim poderia ser resumida a recente ofensiva do governo Trump contra o Brasil. Ainda que uma analogia com o clássico da ficção científica, de George Lucas, não seja de todo despropositada. Na segunda parte da trilogia original de Star Wars, é retratada a ofensiva do Império Galático, liderada por Darth Vader, para tentar esmagar a resistência da Aliança Rebelde; enquanto a guerra tarifária e comercial deflagrada pelos EUA ecoa como a investida de uma superpotência imperialista determinada a eliminar qualquer resistência ao seu projeto de reordenar as relações globais pela força.

Na ficção, a ofensiva imperial fracassou e, na sequência da saga, em O Retorno de Jedi, os rebeldes derrotam o império e reestabelecem a paz. Na vida real, a contraofensiva trumpista deverá  igualmente fracassar. O caso brasileiro poderá ser paradigmático desse fracasso norte-americano.

O Brasil de Lula entrou na mira da ofensiva estadunidense já nas ameaças gratuitas de taxação contra os países dos BRICS. Isso aconteceu quando Trump anunciou uma taxação de 50% para os produtos brasileiros, a partir de agosto, por retaliação política pelos processos criminais de corrupção e tentativa de golpe abertos contra o ex-presidente Bolsonaro. Com essa ação, seguida poucos dias depois por uma investigação comercial contra o Brasil, inaugurou-se uma despudorada forma de interferência norte-americana na soberania de outros países.

A reação do presidente Lula ao tarifaço de Trump contra produtos brasileiros foi marcada por firmeza diplomática e defesa intransigente da soberania nacional. Em declarações públicas e ações oficiais, Lula refutou as alegações de “comércio desleal” apresentadas por Trump, destacando que os EUA acumulam superavit comercial histórico com o Brasil (US$ 410 bilhões em 15 anos) e que as relações bilaterais representam apenas 1,7% do PIB brasileiro, evidenciando a resiliência econômica do país.

A estratégia de resposta brasileira envolveu três eixos principais: diversificação comercial, com aceleração de negociações com a União Europeia, Canadá e países asiáticos para reduzir dependência do mercado americano; fortalecimento multilateral, recorrendo à OMC e articulando ações conjuntas com outros países afetados pelas tarifas de Trump; e retaliação proporcional, materializada pela Lei da Reciprocidade Econômica, que autoriza taxar produtos americanos em 50% a partir de 1º de agosto, além de restrições a contratos de propriedade intelectual.

Essa postura, segundo pesquisas, elevou a aprovação do governo para 43%, refletindo apoio popular à defesa da soberania frente ao que 79% dos brasileiros consideram uma medida prejudicial às suas vidas. Para quem acreditava que a saída para Lula elevar sua popularidade era uma nova guinada ao “centro”, suas respostas “pela esquerda”, com ampla aceitação popular, indicam o oposto.

O novo imperialismo de Trump se assenta em uma lógica pervertida de poder, onde a dominação absoluta é preferível à cooperação mutuamente benéfica. Sai de cena qualquer sutileza nas ações de interferência norte-americana nas políticas internas de outras nações, entrando em seu lugar a truculência de ações diretas e unilaterais.

A guerra comercial, através da cobrança de tarifas de importação, foi a arena escolhida para a ofensiva imperialista de Trump. Mas o expediente da guerra não está de todo descartado, como já demonstrado no envolvimento militar em apoio a Israel em sua guerra contra o Irã. Um fracasso da guerra comercial, somado ao desejo de expansão territorial, como ensaiado na verborragia de Trump sobre anexar o Canadá e a Groenlândia, eventualmente poderiam levar a algum tipo de agressão militar norte-americana a territórios estrangeiros soberanos.

A instabilidade estrutural inerente a um império em decadência é reforçada pelo caráter errático e belicoso do governo Trump. Os EUA, nesta perspectiva, serão um polo gerador de crises, de forma permanente ou mesmo sistêmica.

A resposta estratégica do governo Lula aos ataques de Trump direciona-se precisamente para mitigar a vulnerabilidade gerada pela instabilidade política estadunidense, transformando uma agressão comercial em oportunidade estrutural. Ao acelerar acordos com UE, Canadá e Ásia, recorrer à OMC e articular coalizões de países afetados, o Brasil não apenas reduz sua dependência do “império errático”, mas reposiciona sua inserção global em bases multipolares, convertendo a retórica belicosa de Trump em catalisador para uma maior autonomia. Lula, ao sinalizar que submissão não é opção, se posiciona para liderar a consolidação de um eixo de independência que transcende reações pontuais, apontando para uma reconfiguração estratégica e duradoura.

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Last Update: 18/07/2025