Uma pesquisa da Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 16, revelou que a maioria dos brasileiros discorda das críticas feitas por Donald Trump ao processo judicial que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o levantamento, 57% dos entrevistados afirmaram que o ex-presidente dos Estados Unidos não tem legitimidade para opinar sobre o caso.
O levantamento foi realizado entre os dias 10 e 14 de julho, com 2.004 entrevistas presenciais em todo o Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%. Os dados foram divulgados pela CNN Brasil.
De acordo com a pesquisa, apenas 36% dos brasileiros consideram apropriadas as declarações de Trump. Outros 7% disseram não saber ou preferiram não responder. As críticas do ex-presidente americano ocorrem em um momento de tensão diplomática entre os dois países, agravada pelo anúncio de tarifas sobre produtos brasileiros.
No último fim de semana, Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na qual criticou diretamente o processo judicial contra Bolsonaro. Ele classificou a ação como uma “caça às bruxas” e afirmou que o julgamento representa uma “desgraça internacional”.
“Conheci e tive contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei profundamente, assim como a maioria dos outros líderes mundiais”, escreveu Trump. “A maneira como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro […] é uma desgraça internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. Trata-se de uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, concluiu.
A reação dos brasileiros, segundo os dados da Quaest, mostra um distanciamento entre a percepção interna e as manifestações internacionais sobre o processo que investiga a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta participação nos atos antidemocráticos e tentativa de subverter o resultado das eleições de 2022.
A carta de Trump foi divulgada poucos dias depois de ele anunciar a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. A medida está prevista para entrar em vigor em 1º de agosto e atinge setores como aço e alumínio, com impacto direto sobre a balança comercial entre os dois países.
O governo brasileiro respondeu às declarações com cautela. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, o Ministério das Relações Exteriores e a área econômica estudam possíveis medidas de retaliação, incluindo restrições a produtos norte-americanos.
O impacto político do posicionamento de Trump também foi analisado em outra parte da pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta semana. A disputa entre Lula e Bolsonaro, assim como a influência de lideranças internacionais na política interna do Brasil, tem sido monitorada por consultorias e partidos.
Ainda segundo o levantamento, a maioria da população tomou conhecimento da carta enviada por Trump. O conteúdo gerou repercussão nas redes sociais e dividiu opiniões entre apoiadores de Bolsonaro e críticos do ex-presidente.
A fala de Trump não é a primeira manifestação de apoio a Bolsonaro feita por lideranças internacionais. Em outras ocasiões, o ex-presidente norte-americano já havia declarado solidariedade a aliados conservadores na América Latina. A diferença agora está na reação da sociedade brasileira, que, segundo os dados, rejeita majoritariamente a tentativa de interferência no processo judicial.
O julgamento de Jair Bolsonaro no STF ainda está em fase de instrução, mas já conta com coleta de provas, depoimentos e análises técnicas por parte da Polícia Federal. A Procuradoria-Geral da República sustenta que houve tentativa de golpe com envolvimento direto de membros do governo anterior, incluindo o próprio ex-presidente.
A carta de Trump reacendeu o debate sobre a soberania do sistema judiciário brasileiro e os limites da atuação de figuras públicas estrangeiras em temas internos. A pesquisa Genial/Quaest mostra que esse debate está sendo acompanhado de perto pela população, com ampla rejeição a qualquer tentativa de deslegitimar o processo judicial em curso.
Segundo analistas políticos, a resposta da população brasileira pode ter efeitos tanto no campo diplomático quanto na dinâmica eleitoral. A associação entre Trump e Bolsonaro, embora ainda forte entre os eleitores mais alinhados à direita, não parece gerar consenso fora dessa base.
A pesquisa foi encomendada pela Genial Investimentos e faz parte de uma série de levantamentos periódicos que acompanham a opinião pública sobre temas políticos, econômicos e institucionais no Brasil.
