A Livraria Expressão Popular do Armazém do Campo, no centro de São Paulo, foi palco, na noite desta segunda-feira (15), do lançamento do novo livro da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ): Cultura é Poder – Reflexões sobre o papel da cultura no processo emancipatório da sociedade brasileira, publicado pela editora Oficina Raquel. O evento reuniu artistas, ativistas, intelectuais, dirigentes de movimentos sociais e partidos e parlamentares em uma noite vibrante de celebração e reflexão política sobre o papel estratégico da cultura na construção de um Brasil soberano, plural e democrático.
Ao lado da cineasta Tata Amaral e do rapper Rappin Hood, Jandira compartilhou sua trajetória de militância, os bastidores do livro e uma mensagem clara: a cultura é um campo de disputa de valores, e sem sua valorização não há transformação social possível.
“Escrever é se expor. Essas são ideias construídas a partir de uma vida inteira de militância, leituras, escuta e ação. Eu não venho da academia, venho da política, da prática. E escrevi este livro para provocar o debate sobre a centralidade da cultura como força de resistência e emancipação”, afirmou.
Cultura é a forma de exercer poder no dia-a-dia

Dois expoentes da arte e da cultura nacional deram declarações ao Portal Vermelho sobre a importância da obra e da mensagem que ela carrega: Rappin Hood, um dos nomes históricos do hip hop brasileiro, e a cineasta Tata Amaral, referência no cinema de resistência.
Para o rapper paulistano Rappin Hood, o livro de Jandira sintetiza, no título, o que milhões de artistas brasileiros reivindicam há décadas: “Ela conseguiu sintetizar em uma frase tudo o que a gente quer exercer. A gente quer exercer esse poder. Fazer com que a cultura aconteça no nosso país. Essa é a luta de milhões de artistas, de todos os segmentos.”
O artista destacou ainda que a cultura não é apenas uma ferramenta simbólica, mas um setor com impacto real na economia do país. “A cultura fortalece muito o PIB brasileiro. Então é preciso que isso se traduza também em respeito e valorização institucional”, disse.
A cineasta Tata Amaral celebrou o debate proposto por Jandira como fundamental para que o Brasil reconheça a cultura como parte central da soberania nacional. “Cultura é poder, sim. É você se munir da sua própria cultura, das suas raízes, do seu cotidiano, do seu modo de viver. Isso nos torna menos vulneráveis à fagocitação da cultura dominante.”
Tata afirmou que a cultura não se limita à arte, mas está presente nas escolhas diárias: na comida, nas relações, na linguagem, nos rituais. “Empoderar-se disso tudo é o que nos protege e nos fortalece como povo”, disse.
Para ambos, o livro de Jandira Feghali chega como um grito de alerta e um gesto de esperança. Ao final do evento, ficou clara a convergência entre artistas e parlamentares ali presentes. “Fazer a cultura acontecer é a nossa forma de resistir. E resistir, nesse país, é continuar criando”, resumiu Tata Amaral. “Cultura é poder. E a gente vai seguir lutando para exercer esse poder no dia a dia do nosso povo”, concluiu Rappin Hood.
Cultura como trincheira e horizonte

O livro, que articula reflexão teórica e prática legislativa, é dividido em duas partes: na primeira, Jandira apresenta sua visão sobre cultura como fundamento da disputa civilizatória e campo estratégico da luta de classes; na segunda, narra sua experiência como parlamentar e gestora cultural, com destaque para a formulação de políticas como as Leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo.
“Estamos vivendo uma guerra cultural. A extrema-direita sabe o poder simbólico da cultura e atua para desmobilizá-la. A cultura não é cereja do bolo, é o bolo inteiro”, defendeu a deputada.
Para Jandira, que foi baterista na juventude para ajudar nas despesas de casa e comprar livros de medicina, a cultura é também sobrevivência e consciência crítica: “Nunca mais ouvi uma música sem pensar no técnico de som, no músico, no contratante. A arte me deu consciência de classe.”
Rappin Hood: “Cultura é o sangue do povo”

Convidado especial do evento, o rapper Rappin Hood celebrou a obra como um manifesto necessário e urgente: “O título já diz tudo: Cultura é Poder. É isso que a gente quer exercer. Essa é a luta de milhões de artistas nesse país.”
Ele lembrou os desafios enfrentados por quem faz arte nas periferias, criticou os algoritmos das plataformas que invisibilizam a produção nacional e defendeu o hip hop como ferramenta de educação e cidadania:
“Hoje você tem que rodar dez páginas na Netflix para achar um filme nacional. Nosso conteúdo tá escondido. E nas quebradas falta tudo: equipamento, espaço, apoio. Como o moleque vai virar DJ se uma picape custa mais de seis mil reais?”
O músico fez um paralelo entre o avanço do breaking como modalidade olímpica e a urgência de dar suporte à juventude da periferia: “Cadê a Fadinha do breaking? A menina que vai representar o Brasil lá fora? A gente precisa achá-la, apoiá-la, garantir que possa brilhar”, comparou, referindo-se à skatista Rayssa Leal que encantou o mundo desde as Olimpíadas de Tóquio 2020.
Tata Amaral: “Criar é existir — e resistir”

A cineasta Tata Amaral foi pedagógica ao fazer um depoimento sobre sua filha pequena, que, ao ver um filme norte-americano, antecipou a morte do único personagem negro. O episódio marcou a diretora e a fez refletir sobre o impacto da cultura na formação de subjetividades:
“A cultura coloniza sem que a gente perceba. Por isso a obra da Jandira é tão necessária. Cultura é soberania. E a soberania brasileira está em risco.”
Tata alertou para os perigos da desregulamentação digital e da concentração do audiovisual nas mãos de poucas plataformas:
“Estamos sendo catequizados por algoritmos. Se não houver regulação, perderemos nossa capacidade de contar nossas próprias histórias.”
Leci Brandão: “Cultura é o que nos emancipa”

Impossibilitada de comparecer por conta de um contratempo de saúde, a deputada estadual e sambista Leci Brandão enviou uma carta lida por sua assessora, em que parabenizou Jandira pela obra e destacou o papel da cultura na formação política, na educação das novas gerações e na memória histórica do povo negro.
“A cultura nos forma como povo e como classe. Foi ela que resistiu ao apagamento, que preservou o samba, a capoeira, os terreiros. E por isso seguimos honrando nossos ancestrais.”
A deputada celebrou o novo momento político no país e defendeu a cultura como motor da economia criativa, da autoestima e da unidade nacional: “A cultura não nos divide. A cultura nos une. E ela anda lado a lado com a educação, com a solidariedade e com a democracia.”
Cultura como base da soberania

Ao final do lançamento, Jandira Feghali convocou o público à mobilização pela defesa da cultura como eixo de um projeto nacional de desenvolvimento: “Não existe país desenvolvido sem soberania cultural. Cultura é memória, é identidade, é projeto de futuro. É por ela que se começa qualquer transformação.”
A parlamentar reafirmou a importância de ocupar também os espaços da produção de pensamento: “A extrema-direita está nas universidades, nas escolas, nas redes. Nós também precisamos disputar essas ideias. Cultura, educação e comunicação democrática: esse é o tripé da emancipação. E é nele que vamos insistir.”

Serviço:
Cultura é Poder – Reflexões sobre o papel da cultura no processo emancipatório da sociedade brasileira
Autora: Jandira Feghali
Editora: Oficina Raquel
Ano: 2024 | 192 páginas

