Existe um Brasil além da Faria Lima.

Quando se lê a mídia, parece que há um país vivo apenas, o da Faria Lima, com seus valores de enriquecimento rápido, aos quais uma parcela mínima da juventude tem acesso.

Hoje em dia, para os não-Faria Limers, entrar na idade adulta traz um conjunto de frustrações. Nem se diga daqueles que não conseguem seu primeiro milhão antes dos 30 anos – como o lema da juventude financeira. Há dificuldades para os jovens casais conseguirem sua primeira moradia. Em outros tempos, havia o FGTS e a caderneta de poupança financiando a primeira moradia. Depois, gradativamente o FGTS foi sendo esvaziado, com distribuições anuais de recursos aos titulares. Agora, a balança depende sempre da taxa Selic, absorvendo a poupança das famílias.

Mesmo assim, há um país vivo, diversificado, pulsando em todos os lugares. Dia desses fui a um show onde havia uma banda composta por cerca de 20 jovens, metade dos quais mulheres. Eram músicos formados no Conservatório de Tatuí, na Escola de Música Tom Jobim, seguindo a profissão de músicos.

Agora, no Recife, assisto e participo da 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). São centenas e centenas de jovens de todo o país, absorvendo os ensinamentos de outros jovens ou de cientistas consagrados. Uma enorme exposição mostra os diversos setores da comunidade científica, desde as instituições, como Finep, até associações, sindicatos, todos trabalhando pelo grande salto do país – mais do que em qualquer outro momento da história, dependendo das pesquisas científicas.

Há reclamações contra o corte de verbas para pesquisadores, pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O estrangulamento do orçamento público, pelas emendas parlamentares e pela política monetária, impede qualquer salto maior.

Na semana passada, fizemos o seminário de lançamento do Projeto Brasil. Todos os conselheiros falaram de suas áreas, das enormes possibilidades abertas, do potencial de pesquisas e da disponibilidade de pesquisaores. Onde tudo esbarra? Na falta de recursos. Com muito custo conseguiu-se o não-contingenciamento do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), mas seus recursos servem apenas para a estrutura física das instituições.

Se houvesse recursos, a esta altura o país estaria turbinando o programa para atrair pesquisadores estrangeiros, especialmente os norte-americanos, e os pesquisadores brasileiros que compuseram o enorme êxodo no período que se seguiu ao golpe do impeachment.

Mesmo assim, a ciência respira e está pronta para responder aos desafios da nacionalidade.

Ontem foi divulgado o pronunciamento da SBPC e da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em defesa da soberania.

“A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), instituições centenárias e reconhecidas por sua atuação em defesa da ciência, da educação e do interesse público, vêm a público expressar sua profunda preocupação e firme repúdio às recentes ações do governo dos Estados Unidos, sob a chefia do presidente Donald Trump, que configuram uma afronta inaceitável à soberania nacional, à democracia brasileira e à estabilidade das relações internacionais.

Entre essas ações, destacam-se as ameaças de imposição de tarifas punitivas e barreiras comerciais unilaterais a produtos estratégicos brasileiros, medidas que comprometem gravemente nossa balança comercial, prejudicam setores essenciais da economia nacional e violam os princípios do comércio justo e das normas multilaterais da Organização Mundial do Comércio.

Além dos danos econômicos, as entidades signatárias denunciam com veemência a tentativa de ingerência em decisões internas do Estado brasileiro, incluindo pressões políticas que atentam contra a autodeterminação dos povos — um princípio fundamental do direito internacional e da convivência entre nações soberanas.

O Brasil é uma nação democrática, com instituições legítimas, e com uma comunidade científica ativa, plural e comprometida com os valores da liberdade, da justiça social e do desenvolvimento sustentável. A ciência tem papel central na construção da soberania e da autonomia nacional, e não pode ser subjugada por interesses externos de natureza política ou econômica.

A ABC e a SBPC manifestam, portanto, seu apoio ao Governo Brasileiro em suas ações legítimas de defesa da soberania nacional e dos interesses estratégicos do país, e conclamam a sociedade brasileira a manter-se vigilante na proteção de seus direitos, sua democracia e sua independência.

Reiteramos nosso compromisso inegociável com a ciência, a democracia, o desenvolvimento social, soberano e o diálogo internacional baseado no respeito mútuo.

Rio de Janeiro / São Paulo, 14 de julho de 2025”.

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Last Update: 15/07/2025