Nesse dia 9 de julho, foi lembrado o aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932. A data foi o gancho jornalístico necessário para que a imprensa pró-imperialista continuasse sua propaganda contra o Brasil.
A sucursal brasileira da britânica BBC, um dos mais nefastos órgãos de imprensa do imperialismo, convidou o professor universitário Jessé Souza para dar seus pitacos sobre a história do Brasil: Paulista se acha melhor que resto do Brasil por herança europeia e passado bandeirante, diz sociólogo. A entrevista foi republicada agora, mas é de 2022.
Os ataques contra o Brasil vêm disfarçados de progressistas, distorcem a história para provar que tudo o que de mais importante aconteceu no país foi obra de exploração, violência, etc. Como se a história do mundo, ou seja, a história das classes sociais em luta, não fosse marcada pela violência. Nem por isso, deixaremos de reconhecer as conquistas da humanidade. Mas no caso brasileiro, parece que nada serve, tudo deveria ser jogado no lixo.
Como está claro no título da entrevista de Jessé Souza, o paulista é um alvo preferencial dos revisionistas históricos pseudo-progressistas. O ataque contra a população do estado mais populoso do país, composta por imigrantes não apenas do mundo todo, mas também de todas as regiões do Brasil, é uma forma de atacar todo o povo brasileiro.
Mas quais os argumentos de Jessé? Depois de algumas considerações sobre o povo brasileiro em geral, ele afirma que “a elite de São Paulo já é a mais poderosa nessa época e ela vai ser contra Getúlio. Ela tenta, com a guerra — o levante de 9 de julho de 1932 — como todo mundo sabe, recuperar o poder. Mas ela é derrotada militarmente. O que essa elite vê? ‘Olha estamos perdidos se fomos para o confronto. O que a gente pode fazer?’”
Qual seria essa “elite” de São Paulo? Na verdade, Jessé troca a análise das classes sociais por termos genéricos. A Revolução de 30 se deu contra a oligarquia paulista que dominava a República Velha juntamente com outras oligarquias. Mas não foi exatamente essa “elite” que conduziu a chamada Revolução Constitucionalista. Foi uma armadilha plantada contra a ala esquerda do governo Vargas, formada pelo movimento tenentista, que foi a base da Revolução de 30. Portanto, essa armadilha foi plantada não diretamente contra Vargas, como afirma Jessé.
Vargas havia colocado um tenente como interventor em São Paulo. A burguesia paulista, a essa altura comandada já pela burguesia industrial, armou uma provocação. O governo interventor acaba reprimindo uma mobilização, causando a morte de quatro estudantes e isso será o estopim para a guerra. A reivindicação de Assembleia Constituinte, que dois anos depois acaba ocorrendo, era uma política da burguesia industrial para dar uma base mais conservadora ao regime político, ou seja, derrotar a ala esquerda representada pelo tenentismo.
Jessé falar em “elite paulista” o que confunde na hora de analisar as forças sociais reais em luta. A Revolução de 30 não foi contra uma “elite paulista”. Ele foi contra a oligarquia da República Velha, comanda pela paulista. Mas a burguesia industrial paulista foi uma das forças beneficiadas pela Revolução de 30, ou seja, ao menos esse pedaço da “elite paulista”, a industrial, não era contra Vargas. Jessé, porém, mistura as coisas como se tudo fosse igual, originando uma análise confusa.
Ao confundir a análise das classes, Jessé parte para uma análise cultural ainda mais confusa: “então se cria a ideia de que o paulista é diferente — é algo que foi pensado, planejado é aí que entra o excepcionalismo paulista. É a época em que surge a ideia de homem cordial de Sergio Buarque, mas esse homem cordial não é o brasileiro em geral — o excepcionalismo paulista prega que os paulistas, e os brancos do Sul, são diferentes.”
Para justificar sua tese, Jessé levanta a questão do bandeirantismo. Segundo ele, “os bandeirantes [que ‘desbravaram’ o estado] vão ser percebidos como pessoas que vão ter iniciativa, empreendedorismo, que vão montar o mundo pelas próprias mãos”. Para Jessé, o mundo é explicado pelas ideias, não pela realidade.
Por isso, para ele é mais importante o que supostamente a “elite paulista” fala sobre si mesma do que a realidade em si. Se a burguesia de São Paulo usou o bandeirantismo para fazer propaganda de sua suposta superioridade, seria precisa antes explicar qual é a verdadeira importância dos bandeirantes.
Assim, para refutar algo que a “elite paulista” disse há quase um século, Jessé não explica o que foram os fenômenos reais. Por exemplo, os Bandeirantes foram ou não importante, independentemente do que falou ou deixou de falar a “elite paulista”?
Ao analisar o problema concretamente é possível combater qualquer ideia errada que possa ser difundida. O que Jessé faz, no entanto, é, em nome de denunciar uma suposta supremacia paulista é distorcer totalmente a história.
Os bandeirantes não foram importantes para São Paulo, mas para o Brasil todo. São eles que transformaram o Brasil das dimensões que têm hoje e isso não é um problema de ser paulista ou mineiro, mas de conhecer a história do Brasil. Se a “elite paulista” usa isso indevidamente, é preciso mostrar a realidade. O que Jessé faz, no entanto, é avacalhar não apenas a história do Brasil, mas a população de um estado inteiro.
O “paulista se acha melhor do que o resto do Brasil”. Com base em que? Qual o interesse em atacar 40 milhões de brasileiros?
A política progressista não é reforçar uma divisão do país mostrando que o paulista é superior ou é cafajeste porque se acha superior. Na realidade, nenhuma das duas coisas é correta. Ambas são lados da mesma moeda que visa atacar o Brasil e seu povo. O paulista é parte do povo brasileiro como qualquer outro povo de qualquer outro estado da nação.
O que fica disso tudo é qual o interesse da BBC em reproduzir ideias que reforçam a divisão do país. E é apenas a esse interesse que serve a análise de Jessé. O imperialismo britânico adora essa ideia.