Há cem anos, cartas de vinhos de restaurantes europeus eram dominadas por rótulos alemães de riesling. Elegantes e respeitados, competiam de igual para igual com os grandes nomes franceses — tanto em prestígio quanto em preço. Mas tudo mudou nas décadas de 1970 e 1980, quando vinhos doces e baratos como o Liebfraumilch — em sua icônica garrafa azul — invadiram gôndolas, do Brasil à Europa. 

Responsável por até 60% das exportações viníferas da Alemanha, o Liebfraumilch acabou marcando negativamente a imagem do vinho alemão mundo afora. Muitos, até hoje, torcem o nariz, associando esses vinhos à baixa qualidade e às inevitáveis dores de cabeça. Viraram caso internacional de como não se fazer marketing. Mas isso está mudando. A Alemanha tem muito mais a oferecer — espumantes vibrantes, brancos elegantes, tintos surpreendentes, mesmo nos rótulos mais simples e mais baratos.  

Ex-consultor da área financeira, Marcio Morelli trocou números por vinhedos e fundou a importadora Cave Leman, com foco em rótulos alemães e franceses. Seu objetivo? Tornar vinhos de excelência mais acessíveis ao consumidor brasileiro.

A virada aconteceu num jantar em São Paulo, dois anos atrás. Um amigo levou um pinot noir da região de Baden, nas margens do Reno. O vinho era de Jürgen von der Mark, enólogo conhecido por sua defesa do terroir local. Marcio se encantou. Em 2024, decidiu visitar pessoalmente o produtor — e voltou apaixonado. O primeiro contêiner com dois rótulos tintos de Von der Mark desembarcou no Brasil neste ano. Em um momento em que pinots franceses ficam cada vez mais caros, esse vinho de entrada oferece uma porta de entrada elegante e autêntica à uva que ganhou os holofotes com o filme Sideways.

“Em Baden, muitos produtores buscavam imitar os franceses. Mas Jürgen sempre foi fiel ao estilo alemão, ao solo, ao clima da região”, diz Morelli. Outro nome no portfólio da Cave Leman vem do Rheingau — também terra clássica de riesling —, onde Hans Josef Becker, ou simplesmente Ha-Jo, cultiva vinhedos com pouco mais de dez hectares, 80% deles dedicados à riesling. Seu vinho de entrada resume bem o que a Alemanha vinícola tem a dizer: elegância, precisão e identidade, sem excessos. Perfeito frutos do mar.

Na Worldwine, um destaque é o produtor Markus Molitor, cujos vinhedos são no Mosel, considerada por muitos o coração da riesling alemã. Seus vinhedos, plantados em encostas íngremes com inclinações de até 80 graus, são impossíveis de mecanizar. Tudo é feito à mão: poda, colheita, seleção dos cachos. Muitas dessas vinhas são antigas, de baixo rendimento, mas com enorme concentração e complexidade. Há de vinhos mais secos a mais doces, tudo com equilíbrio. 

Outra estrela do Mosel é a tradicional família Selbach-Oster, cujos rótulos chegam ao Brasil pela Mistral. Com raízes que remontam ao século XVII, a vinícola combina história e excelência na produção de brancos elegantes — com destaque, é claro, para a riesling, cuja versatilidade à mesa é ímpar, harmonizando seja com pratos de peixes e frutos do mar, seja com porco. Da comida chinesa ao pernil brasileiro, a depender do grau de açúcar. 

Na região do Palatinado (Pfalz), mais ao sul de outras regiões vinícolas da Alemanha, ao norte de região francesa da Alsácia, a vinícola Koehler-Ruprecht é uma das referências, com destaque para rieslings mais secos e tintos com a pinot noir. Vendido pela Cave Prime (caveprime.com.br).

Os rieslings também podem ser uma opção para quem gosta de comida japonesa. Sua alta acidez, leveza, frescor e um toque de mineralidade combinam para a harmonização. Ainda contrapõe a maresia e a salinidade do prato (molho shoyu).

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Last Update: 14/07/2025