A Comissão Palestina para Assuntos dos Detentos e Ex-Detentos denunciou neste domingo (13) que o jornalista Nasser al-Lahham, chefe do escritório da emissora Al Mayadeen na Palestina ocupada, está sendo mantido sob risco de vida na prisão de Ofer. Aos 60 anos, al-Lahham sofre de problemas cardíacos graves — já foi submetido à implantação de seis stents —, mas está encarcerado em condições que colocam sua vida em perigo imediato.
Segundo o comunicado oficial, al-Lahham está confinado na cela 19 da Seção 21 de Ofer, onde o ambiente é descrito como insalubre e superlotado. A alimentação é inadequada, os detentos sofrem com surtos de infecções de pele e o atendimento médico é sistematicamente negado. Mesmo nessas condições, al-Lahham tem apenas 10 minutos diários de acesso ao ar livre.
A prisão ocorreu no último dia 7 de julho, de forma violenta, e foi precedida por anos de perseguição sistemática ao jornalista. Em outubro de 2023, soldados da ocupação invadiram sua casa, espancaram sua esposa e filhos e prenderam seus dois filhos, Basil e Basel. Agora, o regime sionista tenta manter al-Lahham detido sem acusação formal, lançando mão do expediente da chamada “detenção administrativa”.
Em entrevista à própria Al Mayadeen, Shawan Jabarin, diretor da organização palestina Al-Haq, denunciou a manobra como tentativa de fabricar acusações. “Parece que a ocupação está pressionando para colocar nosso colega sob detenção administrativa, uma medida arbitrária usada para silenciar vozes dissidentes”, declarou. Para Jabarin, a detenção equivale a “lutar contra o vento”: não há crime, nem evidência, apenas a arbitrariedade da repressão.
A detenção administrativa é uma ferramenta legal da ditadura sionista que permite manter prisioneiros palestinos sob custódia por até seis meses sem acusação formal, com renovações indefinidas. O conteúdo das supostas “provas” é mantido em sigilo até mesmo dos advogados de defesa. Testemunhos de ex-detentos e de advogados revelam que o sistema é marcado por torturas, humilhações, abusos sexuais, espancamentos e outras formas de tratamento desumano.
A prisão de al-Lahham gerou imediata reação da Al Mayadeen, que publicou uma nota oficial exigindo sua libertação. A emissora denunciou o caso como parte de uma “campanha sistemática de repressão” da entidade sionista contra jornalistas palestinos. “Não nos surpreendem as práticas sádicas da ocupação, nem sua hostilidade permanente contra o jornalismo, os jornalistas e o direito de dizer a verdade”, afirmou a nota.
A Al Mayadeen ressaltou que al-Lahham é um dos jornalistas mais reconhecidos do mundo árabe, com mais de três décadas de atuação. “Para nós, Nasser é mais do que um chefe de escritório. Ele é uma voz de liderança no jornalismo palestino, um símbolo do compromisso com a verdade e um defensor inabalável dos direitos de seu povo”, disse a emissora.
Segundo Abdullah al-Zaghari, chefe do Clube dos Prisioneiros Palestinos, al-Lahham foi transferido para o centro de detenção de Moskobiya, onde passou por interrogatórios antes de comparecer ao tribunal militar de Ofer. O tribunal decidiu, neste domingo, estender sua detenção até a próxima terça-feira (15), sob o pretexto de “prosseguir com a investigação”. Segundo al-Zaghari, há três cenários possíveis: libertação, nova extensão da detenção ou sua transformação em detenção administrativa.
A prisão de al-Lahham é parte de uma ofensiva mais ampla contra a imprensa palestina. Desde o início do genocídio em Gaza, iniciado em outubro de 2023, pelo menos 193 jornalistas foram presos pela ocupação sionista, segundo relatório conjunto da Comissão Palestina para Assuntos dos Detentos e do Clube dos Prisioneiros Palestinos. Desses, ao menos 50 seguem detidos.
As entidades alertam que a repressão tem como objetivo silenciar a cobertura dos crimes cometidos pela ocupação sionista em Gaza e na Cisjordânia. As detenções arbitrárias são acompanhadas por medidas de emergência e repressão que ignoram completamente qualquer padrão legal ou direito humano básico. Vários jornalistas libertados relataram espancamentos, assédio sexual, humilhações públicas e até mesmo sessões de tortura.
A repressão ganhou repercussão internacional. Durante uma coletiva de imprensa, o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, declarou estar “seriamente preocupado” com a situação dos jornalistas nos territórios palestinos ocupados. “Não há apenas escassez de jornalistas em Gaza, como também há assédio contínuo contra os profissionais da imprensa, tanto em Gaza quanto na Cisjordânia”, afirmou.
Dujarric confirmou que a ONU recebeu uma carta da Al Mayadeen solicitando posicionamento claro de António Guterres sobre a detenção de al-Lahham. A carta, enviada no dia da prisão, não recebeu resposta oficial até o momento. No dia 7 de julho, a emissora voltou a cobrar uma posição pública da ONU.