O presidente argentino Javier Milei sofreu, nesta quinta-feira (10), uma das maiores derrotas políticas de seu mandato. Em uma sessão tumultuada, o Senado aprovou, por ampla maioria, o aumento de 7,2% nas aposentadorias e pensões, além da elevação do bônus mínimo de 70 mil para 110 mil pesos — medidas que desafiam diretamente sua rígida política de austeridade fiscal.

A votação expôs não apenas a fragilidade da base governista, mas também as fissuras internas na cúpula do poder. Milei, que se elegeu com o discurso de cortar gastos e “enfrentar a casta política”, viu parte do Congresso se unir para ampliar benefícios sociais, com 52 votos favoráveis, nenhuma rejeição e apenas cinco abstenções.

Milei ataca vice-presidente após sessão

O momento mais simbólico da crise veio após o resultado. Em discurso, Milei acusou publicamente sua vice-presidente e presidente do Senado, Victoria Villarruel, de traição.

Fizemos 2.500 reformas estruturais. Não só tivemos um programa de estabilização mais bem-sucedido que a convertibilidade, como também fizemos 25 vezes mais reformas com apenas 15% da Câmara dos Deputados, sete senadores e uma traidora [Victoria Villarruel]”, disparou.

A fúria de Milei se deu porque Villarruel, que presidia a Casa, não impediu o avanço do projeto. Apesar de ter tentado barrar a deliberação sob alegação de irregularidades, sua autoridade foi contestada pela oposição.

Segundo o La Nación, ela estava presente durante o debate que aprovou não só o reajuste previdenciário, como também a prorrogação da moratória, que permite a aposentadoria de pessoas que não contribuíram o tempo mínimo exigido.

Um racha anunciado

O atrito entre o presidente e a vice não é novo. Em novembro de 2024, Milei já havia dito que Villarruel “não tem nenhuma ingerência na tomada de decisões” e a acusou de estar próxima do que chama de “círculo vermelho”, uma expressão usada para se referir aos setores tradicionais da política argentina.

Victoria Villarruel tem um histórico polêmico. Vinda de uma família militar, é considerada por grupos de direitos humanos uma “negacionista” dos crimes da ditadura argentina (1976–1983). Fundadora do CELTYV, associação que relativiza os crimes do regime militar, ela propôs rever indenizações às vítimas do período, contrariando mais de mil condenações judiciais por crimes contra a humanidade.

Sessão manual, apoio provincial e resistência judicial

A sessão desta quinta ocorreu em clima anormal: com o sistema eletrônico de votação fora do ar, cada senador teve de declarar seu voto oralmente. A manobra da oposição peronista, articulada com partidos menores e respaldada por governadores provinciais, conseguiu aprovar não só o reajuste das aposentadorias, como reformas na distribuição dos Adiantamentos do Tesouro Nacional e a coparticipação do Imposto sobre Combustíveis Líquidos.

Milei promete veto e fala em judicialização

Diante da derrota, Milei afirmou que vetará os projetos aprovados. “Vamos vetar. E, se por acaso o veto cair, o que não acredito, vamos judicializar. Mesmo que a Justiça fosse surpreendentemente rápida, o dano seria mínimo. Uma simples mancha que reverteremos em dois meses”, declarou.

O chefe de gabinete, Guillermo Francos, endossou a estratégia e anunciou que o governo questionará a legalidade da sessão. Já a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, também criticou Villarruel por ter permitido o andamento da votação.

Congresso na mira e campanha antecipada

Isolado e em minoria no Legislativo, Milei intensifica o embate com o Congresso, mirando as eleições de outubro. Seu plano é ampliar a representação da coalizão La Libertad Avanza para garantir maior governabilidade. Em mais um ataque retórico, o presidente se referiu ao Parlamento como “ninho de ratos” e “covil imundo”.

Acompanhe as últimas notícias:

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 11/07/2025