Em entrevista a veículos de imprensa, nesta quinta-feira (10), ministro da Fazenda afirmou que decisão dos EUA contra o Brasil não se justifica: “Nos últimos 15 anos, tivemos um déficit de mais de US$ 400 bilhões”
Em entrevista coletiva concedida nesta quinta-feira (10) a veículos da mídia independente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou como “um ataque político” a decisão do presidente Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A entrevista foi conduzida por Larissa Gould, coordenadora do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, e contou com a participação dos veículos Fórum, Brasil 247, CartaCapital, Diário do Centro do Mundo e TVT News.
Segundo Haddad, a medida de Trump não tem base econômica e só pode ser explicada por interesses políticos internos do Brasil. “Essa decisão é uma decisão eminentemente política, porque não parte de nenhuma racionalidade econômica”, afirmou.
Para o ministro, a balança comercial entre os dois países demonstra que o Brasil é deficitário em bens e serviços, o que derruba qualquer justificativa técnica para a tarifa. “Nos últimos 15 anos, tivemos um déficit de mais de US$ 400 bilhões com os Estados Unidos.”
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Ele acusou diretamente a família Bolsonaro de articulação internacional contra o país. “A única explicação plausível para o que foi feito ontem é porque a família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil com um objetivo específico, de escapar do processo judicial que está em curso.”
Haddad mencionou uma declaração de Eduardo Bolsonaro, que afirmou que “se não vier o perdão, as coisas tendem a piorar”, como evidência do envolvimento da extrema direita brasileira.
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O ministro também criticou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que minimizou os impactos da medida. “Ou a pessoa é candidata a presidente ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem. Desde 1822 isso acabou.”
Apesar das tensões com os EUA, Haddad ressaltou que a política externa brasileira continua multilateral e pragmática. “O Brasil é grande demais para ser apêndice de um bloco econômico. Os nossos interesses com a Europa, com a China, com os Estados Unidos são de tamanho equivalente.” Ele ressaltou que o país busca acordos com diversas regiões do mundo, incluindo o bloco europeu, países asiáticos e o Oriente Médio. “Estamos negociando com a União Europeia, com a China, com os Emirados Árabes, com a Indonésia. É uma postura que respeita os interesses nacionais e evita uma nova bipolarização global.”
Ouça a íntegra da entrevista:
Reforma tributária
Durante a coletiva, Haddad também falou sobre a reforma tributária e a proposta de correção do imposto de renda para pessoas físicas. Ele apontou as distorções do sistema atual, que penaliza os mais pobres.
“A professora de escola pública paga 10% de imposto de renda retido na fonte. E uma pessoa que ganha 1 milhão por ano não está disposta a pagar 10%. Tem alguma coisa de muito errado no Brasil.”
O ministro explicou que o governo Lula já conseguiu aprovar medidas como a taxação de fundos exclusivos e recursos em offshores, e agora pretende avançar sobre as brechas que permitem a evasão fiscal dos mais ricos.
“Estamos fechando as brechas que permitem que super-ricos escapem da tributação. A alíquota média deles é de 2,6%. Queremos que paguem pelo menos 10%.”
A mobilização popular por mudanças na escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho também foi destacada pelo ministro. Haddad afirmou que o governo Lla está atento à pauta e reconhece a legitimidade do debate.
“Com tanta tecnologia, tanta inteligência artificial, para que tudo isso se não for para dar mais tempo livre para as pessoas? Para a família, a arte, a política, a ciência?” Para ele, esse é um tema que está voltando à agenda global e será inevitável no Brasil. “Do mesmo jeito que a Revolução Industrial levou ao debate sobre a jornada de trabalho, a Revolução Digital também vai levar.”
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IOF
Sobre a derrubada do decreto do IOF pelo Congresso Nacional, o ministro defendeu a prerrogativa do Executivo na matéria, mas ressaltou que o governo mantém boa relação com o Parlamento e está comprometido com o diálogo.
“Já houve várias decisões de que IOF é prerrogativa do Presidente da República. […] Mas nós nunca saímos da mesa de negociação.”
Ele destacou a aprovação da reforma tributária e da taxação de grandes fortunas como exemplos da colaboração com o Congresso. “Estamos há dois anos e meio aprovando projetos com esse Congresso. Nunca deixamos de negociar.”
Haddad reiterou ainda que o ajuste fiscal do governo não será feito em cima dos mais pobres. “O ajuste fiscal é necessário, mas ele não pode mais uma vez ser feito em cima da base da pirâmide.”
O ministro defendeu uma reforma que amplie a base de arrecadação e enfrente os setores que historicamente escapam da tributação. “Se super-rico, bet ou fintech não puder pagar imposto, vai ficar difícil fazer o ajuste. Quem tem que colaborar é o morador da cobertura que não paga o condomínio.”
Ao final da entrevista, Larissa Gould questionou o ministro sobre o papel da comunicação popular na disputa de narrativas. Haddad destacou a importância de ocupar as redes com informação qualificada e projetos que dialoguem com o povo.
“A desinformação é o reflexo do vácuo deixado pela esquerda nas redes sociais. O maior antídoto contra fake news é ocupar com militância correta, com verdade, com projeto de futuro.”
Segundo ele, a esquerda precisa voltar a apresentar sonhos possíveis ao povo brasileiro. “Hoje, todo mundo tem medo de não conseguir dar aos filhos uma vida melhor do que teve. Para vender um sonho, é preciso ter um projeto. Caso contrário, vira delírio.”
A entrevista com o ministro Fernando Haddad foi transmitida ao vivo pelo canal do Barão de Itararé no YouTube e reuniu jornalistas dos veículos Fórum, Brasil 247, CartaCapital, Diário do Centro do Mundo e TVT News.
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