O economista José Roberto Mendonça de Barros avaliou como política e sem fundamento econômico a decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar tarifas sobre produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano. As declarações foram publicadas na coluna da jornalista Míriam Leitão, em O Globo.

Mendonça de Barros classificou a medida como “burra do ponto de vista econômico e 100% política”, ao comentar os efeitos da nova política tarifária. Para ele, a decisão pode ter impacto limitado sobre alguns segmentos do agronegócio brasileiro, mas tende a gerar consequências diretas para os consumidores dos Estados Unidos, especialmente no setor de alimentos.

No caso de produtos como café e suco de laranja, que lideram a pauta exportadora do Brasil para os EUA, o economista avalia que as tarifas não devem interromper o fluxo comercial no curto prazo. Isso porque, segundo ele, os norte-americanos não têm alternativas viáveis para substituir esses itens de maneira imediata.

Apesar disso, Mendonça de Barros afirma que o mercado deve reagir com cautela e que há tendência de redução temporária nas vendas de café, enquanto se aguarda o desenrolar das negociações entre os dois países. Ele observa que os importadores norte-americanos podem optar por adiar novas encomendas até que haja maior clareza sobre a política comercial de Washington.

O economista também comentou os efeitos sobre a exportação de carnes brasileiras, que vinha registrando aumento devido a restrições na produção interna dos Estados Unidos. Segundo ele, a imposição de tarifas tende a pressionar os preços no varejo norte-americano. “Isso vai aparecer nos supermercados”, afirmou, destacando que o impacto recairá diretamente sobre os consumidores dos EUA.

Quanto à soja, Mendonça de Barros lembrou que o principal destino das exportações brasileiras é a China, e não os Estados Unidos. O motivo, segundo ele, está no fato de que os próprios norte-americanos são grandes produtores dessa commodity, o que torna esse mercado menos relevante para o Brasil nesse segmento específico.

Já no setor industrial, o economista afirmou que as exportações brasileiras para os EUA não competem com a produção local, mas funcionam de forma complementar. Ele citou como exemplo as placas de aço utilizadas por montadoras de automóveis e pela indústria aeronáutica, incluindo peças para aviões da Embraer, que atendem companhias aéreas norte-americanas.

Para Mendonça de Barros, a imposição de tarifas sobre esses produtos pode afetar negativamente empresas dos próprios Estados Unidos, que dependem de insumos vindos do Brasil. Segundo ele, a medida compromete cadeias produtivas integradas e pode gerar aumento de custos para a indústria norte-americana.

As declarações do economista ocorrem em meio à intensificação das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos. A decisão de Trump de aplicar tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA foi anunciada durante coletiva de imprensa na Casa Branca. O ex-presidente norte-americano alegou motivos comerciais e políticos para justificar a medida.

Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Trump afirmou que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma “caça às bruxas” e criticou o tratamento dado ao ex-mandatário brasileiro. A comunicação oficial também incluiu críticas ao Supremo Tribunal Federal e à atuação do ministro Alexandre de Moraes.

A repercussão foi imediata em veículos de imprensa internacionais e levou o governo brasileiro a considerar medidas de reciprocidade. Entre as opções estudadas estão a adoção de tarifas sobre produtos norte-americanos e a abertura de contencioso na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O posicionamento de Mendonça de Barros soma-se a outras análises econômicas que apontam inconsistências nos argumentos apresentados por Trump. Dados do Departamento de Comércio dos EUA indicam que o país teve superávit de aproximadamente US$ 7,4 bilhões nas trocas comerciais com o Brasil em 2024, contradizendo a alegação de déficit.

A medida também levanta dúvidas sobre os efeitos internos nos Estados Unidos. Além dos impactos nos preços ao consumidor, economistas apontam risco de instabilidade em cadeias produtivas e prejuízos para empresas que dependem de insumos importados do Brasil.

O cenário ainda é incerto e dependerá da postura que será adotada pelos dois países nos próximos dias. O governo brasileiro já sinalizou que buscará preservar setores estratégicos da economia e reforçar sua presença em fóruns multilaterais de comércio.

Enquanto isso, especialistas como Mendonça de Barros alertam que a decisão pode ter efeitos mais profundos para os Estados Unidos do que para o Brasil, especialmente nos setores em que os produtos brasileiros são considerados insubstituíveis no curto prazo.

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Last Update: 10/07/2025