O diretor-geral da Polícia Federal disse que as operações da corporação têm só, única e exclusivamente, a base na Constituição e nas leis.

 

Em audiência pública na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (9/7), o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, detalhou as prioridades de sua gestão, baseadas em “integridade, inovação e eficiência”. Ele criticou práticas do passado, como a exposição midiática de investigados e a personalização de ações policiais. Destacou ainda avanços como a reestruturação da corporação, a ampliação de delegacias e a realização de concursos públicos.

Andrei também negou haver politização e interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas ações da instituição. “As nossas operações têm só, única e exclusivamente a base na Constituição e nas leis. Nós não olhamos laços políticos”.

Espetacularização de operações

Rodrigues afirmou que a PF encerrou a “espetacularização” de operações. “Pusemos fim à criminalização da política, ao achincalhe a investigados, a jornalistas na porta de casas antes mesmo da PF chegar, e aos ‘heróis’ que se destacavam pessoalmente em detrimento da instituição”. Como exemplo, citou a prisão do ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, preso em abril deste ano. “Nós prendemos um ex-presidente da República há pouco tempo em um local público, em um aeroporto. Ninguém viu nenhuma foto, nenhum vídeo, nenhuma imagem da prisão”, declarou.

“Eu tenho dito, reiterado às vezes, que segurança pública é combatida somente com estratégia, com inteligência, com integração, com cooperação. Não é com frases de efeito ou com mais violência. É com muito trabalho e com valorização das instituições. Não é mais com espetáculo, mas com sabedoria e responsabilidade”, declarou Andrei.

Autonomia e imparcialidade

Rodrigues garantiu que as operações não consideram laços políticos: “Fizemos buscas contra aliados do governo e oposição. O único critério é o técnico-jurídico”.

Ele explicou que a PF passa por um “novo momento” e que o “respeito à autonomia investigativa” é um dos pilares do cumprimento da segurança pública. De acordo com o diretor, “não tem ninguém mais interessado” em apurar supostas irregularidades na atuação da instituição do que ele. “Eu não tolero, não aceito, não admito desvios de comportamento, desvios de conduta e uso da instituição para fins que não sejam uso institucionais e retidão naquilo que a gente faz”, frisou.

O delegado contou que, quando assumiu o cargo em janeiro de 2023, teve “plena autonomia” para escolher todos os 14 diretores da PF, assim como os 27 superintendentes estaduais.  Andrei também mencionou a quarentena para policiais federais que queiram se candidatar a cargos eletivos, aprovada pelo Congresso.

Intimidação

Lindbergh Farias durante audiência na Comissão de Segurança: críticas à oposição bolsonarista. Foto: Gabriel Paiva

O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), repudiou o convite para que o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, comparecesse à Comissão, classificando o ato como “tentativa de intimidação” à autonomia da instituição. “Um diretor da PF não deveria estar aqui. Isso é desrespeito. Os senhores têm poder de chamar o ministro da Justiça, mas a PF precisa ser protegida de pressões políticas”, disse.

O parlamentar vinculou a audiência ao julgamento iminente de Jair Bolsonaro e citou ataques de Eduardo Bolsonaro ao delegado Fábio Shor, responsável por investigações como a das joias — chamado publicamente de “putinha do Alexandre de Moraes” pelo deputado bolsonarista. “Isso não é liberdade de expressão, é crime. Querem intimidar a PF porque ela age contra seus interesses”, disparou.

Defesa da autonomia

Lindbergh contrastou a atual gestão da PF com à do Governo Bolsonaro. Ele lembrou casos como o afastamento do delegado Ricardo Saadi, que investigava milícias no Rio de Janeiro, e de Alexandre Saraiva, removido após denunciar Ricardo Salles. “Antes de Lula, a PF fazia seis investigações por ano. Hoje, tem autonomia para agir sem interferência”, constatou. O petista acusou a oposição de “desvio de finalidade”: “Estão incomodados porque a PF não é mais instrumento de perseguição. Querem arquivar inquéritos, mas não vão conseguir”.

INSS

Sobre as fraudes no INSS, o diretor afirmou que em 2018 já havia alertado sobre as fraudes e que foi sob sua gestão que foram realizadas as investigações. “A PF já alertava sobre vulnerabilidades desde 2018, quando eu era coordenador-geral da polícia fazendária. Encaminhamos mais de 25 sugestões como identificação biométrica e análise de conformidade”. Ele citou inquéritos instaurados em 2020 e em 2021, durante o Governo Bolsonaro, e que foram arquivados.

E que, só agora, em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU) a operação foi de fato instaurada e investigada. “Foi na nossa gestão que enfrentamos esse problema. Nós instauramos inquérito policiais, articulamos com a CGU, obtivemos dados a respeito dessa situação e levamos a efeito a maior operação em relação à proteção dos aposentados e pensionistas do INSS”.

De acordo com o diretor-geral muitos dos valores já foram divulgados, apurados e ainda são mais de 15 inquéritos que estão em curso. “Então, há desdobramentos dessas ações, seguramente, a partir das análises de material que estamos fazendo”, observou Andrei Rodrigues.

PEC da Segurança

O líder petista também defendeu a proposta que constitucionaliza fundos para segurança pública ao garantir mais verbas à PF e ao Ministério da Justiça. “Nenhuma polícia estadual combate sozinha o PCC. A PEC da Segurança Pública assegura que a União atue em crimes transnacionais sem federalização”, argumentou. E finalizou com um apelo: “Este Parlamento precisa respeitar a Constituição e parar com o achincalhamento às instituições”.

Estrutura e investimentos

Entre as ações concretas, realizadas pela Polícia Federal, Andrei destacou a criação de novas diretorias para tratar de crimes cibernéticos e da Amazônia e meio ambiente; Autorização para delegacias em Feira de Santana (BA), Humaitá (AM) e Tailândia (PA); em relação ao controle de armas, a PF assumiu em julho o registro de mais de 1 milhão de CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores); e concurso público para preencher 100% dos cargos policiais até 2026.

Reconhecimento

De acordo com a Pesquisa Atlas/CNN, a Polícia Federal é a instituição de maior credibilidade do País em 2024. “Trabalhamos para estar na primeira prateleira das polícias do mundo”, apontou.

 

Lorena Vale

 

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Last Update: 09/07/2025