O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta terça-feira (8) prorrogar por mais 60 dias o inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A apuração trata de uma possível articulação do parlamentar, diretamente dos Estados Unidos, contra instituições e autoridades brasileiras, em especial o próprio Supremo.
A decisão atende a um pedido da PF, que alegou a existência de diligências pendentes e a necessidade de aprofundar as investigações. “Considerando a necessidade de prosseguimento das investigações, com a realização de diligências ainda pendentes […], prorrogo a presente investigação”, escreveu Moraes.
Suspeita de articulação golpista no exterior
A abertura do inquérito foi solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), com base em uma representação criminal apresentada pelo deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), que apontou indícios de que Eduardo Bolsonaro tenha atuado para pressionar autoridades dos EUA a impor sanções contra integrantes do STF, como o próprio Moraes, além do uso de redes sociais e entrevistas para amplificar essa ofensiva.
Entre os crimes inicialmente investigados estão coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Segundo o procurador-geral Paulo Gonet, tais ações podem ter sido orientadas para proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pai de Eduardo, que responde por tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Bolsonaro admitiu envio de recursos ao filho
No último dia 5 de junho, Jair Bolsonaro prestou depoimento no âmbito do inquérito e confirmou ter enviado R$ 2 milhões ao filho, alegando que os recursos foram transferidos por meio legal para evitar que Eduardo passasse “necessidade” nos Estados Unidos. A fala reforça a suspeita da PGR de que o ex-presidente tenha sido diretamente beneficiado pelas ações do filho no exterior.
Apesar das tentativas da PF de notificá-lo oficialmente, Eduardo ignorou os primeiros contatos da corporação. Segundo relato da própria polícia, houve tentativas por e-mail, WhatsApp e ligações ao gabinete do deputado, todas sem retorno.
Pressões e retórica nos EUA ganham destaque
Mesmo sob investigação, Eduardo Bolsonaro segue ativo nas redes e nos bastidores. Na última segunda-feira (7), o deputado agradeceu publicamente Donald Trump, que publicou uma nota em defesa de Jair Bolsonaro, alegando que ele é vítima de “perseguição” no Brasil.
Em sua publicação, Eduardo afirmou que “não será a única novidade vinda dos EUA neste próximo tempo”, em tom sugestivo.
A declaração de Trump provocou resposta imediata do Palácio do Planalto e do presidente Lula, que rejeitou qualquer tipo de “interferência ou tutela” externa nas instituições brasileiras.
Ao final da investigação, o procurador-geral poderá apresentar denúncia ao STF — ou arquivar o caso, caso não veja elementos suficientes.