O deputado estadual do Paraná Renato Freitas (PT) não poderá falar na tribuna, apresentar projetos ou participar de comissões pelos próximos 30 dias. A razão é que ele foi acusado de ajudar professores a protestarem contra o projeto de privatização de escolas públicas dentro da Assembleia do Paraná, em junho de 2024.
“Como dizia o Malcom X, a criação mais perigosa da sociedade é uma pessoa sem nada a perder, e eu sou isso. Eu sou filho de empregada doméstica e de presidiário, um pai desconhecido que eu nem vi. Eu sou criado nas ruas de terra, nos barracos de madeira, um efeito colateral do desemprego crônico, da migração, da seca do sertão da Paraíba, do racismo brasileiro. Não que eu sou mais ou menos, eu sou só mais um. Eu sou estatística igual a muitos. Esse é o Brasil real. E esse Brasil real, quando entrou na Assembleia, teve esse choque do fascismo e hoje a gente está sendo cassado, eu tendo os nossos direitos suspensos por causa de um subterfúgio que foi uma manifestação dos professores.”
Para Renato Freitas, a punição ao episódio que ocorreu há mais de um ano é, na realidade, o “silenciamento”, um “preço alto a pagar” por enfrentar o “laboratório das piores políticas do país”.
Assim descreveu o parlamentar a política paranaense, em entrevista à TVGGN, narrando as políticas que “transformam a educação em um grande negócio” e o modelo de segurança pública baseado em “bandido bom é bandido morto”:
“É esse fascismo de tempero brasileiro que tem no bandido pessoas como nós: negros, jovens da periferia, que não somos filhos de ninguém, em um país do ‘Você sabe com quem está falando’.”
Freitas enfatizou que sua atuação combativa em defesa da educação pública e dos direitos sociais o tornou alvo da extrema direita e de setores bolsonaristas na Assembleia, que promovem uma tentativa de silenciamento. Ele vê a suspensão, determinada pelo Conselho de Ética na última semana, como o preço a se pagar por enfrentar esse sistema.
Segundo o deputado, a lógica é tentar “assassinar a sua reputação” e miná-la perante o público, usando o racismo implícito, ao associar ele a protótipos de “agressivo” e “bandido”.
Essa não é a primeira vez que Renato Freitas é alvo de tentativas de silenciamento. Em 2022, enquanto vereador, ele foi cassado após um protesto em uma Igreja. A cassação foi revertida na Justiça, que considerou o processo irregular e o reconduziu ao cargo.
O parlamentar entende que este e o atual episódio são parte de um modelo de reprodução do próprio contexto histórico do país e do sul brasileiro:
“Um país que já tem essa veia autoritária pelo seu passado de organização política escravocrata e, de repente, encontra num estado como o Sul um ambiente propício para a meritocracia. Porque as pessoas precisam justificar que elas fazem parte de um extrato médio alto, tão grande e consolidado, como é aqui em Curitiba, essa classe média branca, e se consolida sobre nós, negros, pobres e demais imigrantes. Eles têm que se justificar naquela história do ‘meu avô veio da Itália, no porão do navio, trabalhou muito arduamente com criatividade e esforço, hoje tem uma concessionária de carros, uma rede de hotéis, é prefeito, é governador’. Essa ideologia meritocrática levada ao extremo, que é o capitalismo, gera o fascismo. Porque não é só você se considerar melhor que o outro, porque você tem méritos, é você considerar que a sua vida tem mais valor que a outra.”
O deputado, que vem se destacando em sua atuação combativa em um nicho altamente conservador da política brasileira, diz que mesmo a acusação que pesa contra ele é ilegal, uma vez que ele apenas informou os professores manifestantes sobre o procedimento de votação do projeto de terceirização das escolas, o que não pode ser considerado um crime ou incitação à violência.
Freitas afirmou que agiu dentro das prerrogativas de seu mandato, que lhe são garantidas como deputado estadual, e que sua atuação se deu de forma legítima, em consonância com o direito de representação institucional. Ele pretende recorrer da decisão e, inclusive, incitar o Supremo Tribunal Federal (STF) no que se configurou uma censura a sua voz e atuação na ALEP.