Políticas sociais reacendem a base de apoio do governo, mas a reforma travada e a inflação ainda são pedras no caminho do Planalto


O primeiro semestre de 2024 termina com um respiro para o governo Lula. A mais recente pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, divulgada nesta terça-feira (8) pelo portal Latam Pulse, mostra que a aprovação ao presidente subiu para 47,3% em junho — o melhor índice desde janeiro. O número, ainda que dentro da margem de erro de dois pontos percentuais, sugere uma estabilização após meses de oscilações.

A desaprovação ao mandato também recuou: de 53,7% em maio para 51,8% no último levantamento. Na avaliação geral, porém, o cenário permanece praticamente estagnado. Para 51,2% dos entrevistados, o governo é “ruim” ou “péssimo” (ante 52,1% no mês anterior), enquanto 41,6% o consideram “ótimo” ou “bom” — uma leve queda frente aos 41,9% registrados em maio.

Pesquisa Atlas / Bloomberg: Gráfico com a aprovação do presidente Lula
A aprovação do presidente Lula se recuperou em junho e atingiu o maior patamar do ano / Pesquisa Atlas / Bloomberg

Os números revelam um presidente que, mesmo enfrentando heranças fiscais difíceis e um cenário internacional turbulento, consegue manter uma base de apoio estável. A polarização, no entanto, segue como pano de fundo — e já começa a moldar o tabuleiro eleitoral de 2026.

2026: Lula e Bolsonaro em empate técnico, mas direita ainda não tem nome forte

A pesquisa trouxe um primeiro ensaio sobre as possíveis configurações da disputa presidencial daqui a dois anos. Num cenário que reproduz o primeiro turno de 2022, Lula aparece com 44,4% das intenções de voto, contra 46% de Jair Bolsonaro (PL). A diferença de 1,6 ponto percentual — dentro da margem de erro — configura um empate técnico.

Lula permanece estável na liderança em intenções de voto para o 1º turno de 2026, em um cenário contra Tarcísio de Freitas / Pesquisa Atlas / Bloomberg

O dado chama atenção porque, no levantamento anterior, essa distância era maior (2,8 pontos). A aproximação entre os dois polos sugere que, mesmo após um ano e meio de governo, o eleitorado continua profundamente dividido.

Se Bolsonaro não for candidato, o quadro muda pouco para Lula (44,6%), mas expõe as fissuras da direita. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), emerge como principal alternativa, com 34%. Outros nomes — como os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO) e Eduardo Leite (PSD-RS), além do controverso Pablo Marçal (PRTB) — não passam de 5% individualmente, evidenciando a falta de um projeto unificado.

Num terceiro cenário, sem Bolsonaro e Tarcísio, Michelle Bolsonaro surge como liderança conservadora (30,4%), mas ainda bem atrás de Lula (45%). A mensagem é clara: sem os principais expoentes do bolsonarismo, a direita patina na construção de uma alternativa viável.

A aposta do governo: programas sociais e retomada de bandeiras históricas

Realizada entre 27 e 30 de junho com 2.621 entrevistados (nível de confiança de 95%), a pesquisa faz parte de um estudo mais amplo sobre tendências políticas na América Latina. No Brasil, os dados mostram que Lula tem conseguido manter sua base mobilizada, mesmo num ambiente hostil.

Parte dessa resistência vem da retomada de políticas sociais. O relançamento do Minha Casa, Minha Vida, a ampliação do crédito rural para pequenos produtores e o fortalecimento do Auxílio Brasil são peças-chave nessa estratégia. São medidas que ecoam discursos passados, mas que ainda ressoam em parte do eleitorado.

Já a oposição enfrenta um dilema: como construir uma narrativa além do antipetismo? Sem conquistas concretas para apresentar, o campo conservador segue refém de figuras já conhecidas — e desgastadas. Enquanto não surgir um nome capaz de unificar as várias correntes da direita, o caminho para 2026 parece estreito.

O que vem pela frente: os desafios do segundo semestre

O governo entra na segunda metade de 2024 com números que, ainda que modestos, indicam certa resistência. Mas os desafios são muitos: a economia ainda patina, a reforma tributária segue emperrada e o Congresso mostra-se cada vez mais arredio a agendas progressistas.

Para Lula, o jogo agora é de consolidação. Se conseguir avançar em políticas que gerem impacto direto no bolso do eleitor — como controle da inflação e geração de empregos —, pode chegar a 2026 em posição confortável. Se tropeçar, a oposição, por mais fragmentada que esteja, pode encontrar brechas.

Uma coisa é certa: o ano que vem será decisivo. E a polarização, como mostra a pesquisa, está longe de arrefecer.

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Last Update: 08/07/2025