No último dia dois de julho, foi publicado no blog do Juntos!, corrente do PSOL que se reivindica trotskista, uma matéria intitulada Para romper a apatia, é necessário superar o projeto nacional-desenvolvimentista que hoje só destrói direitos e a natureza, assinada por Fabiana Amorim, que se apresenta como “militante em São Paulo e da Coordenação Nacional do Juntos!”.

Segundo a matéria, a solução para vencer a extrema direita seria apostar no fim do “projeto nacional-desenvolvimentista”, deixando de desenvolver o Brasil economicamente, pois isso seria um tipo de conciliação com a burguesia local e se afastando de países como a Rússia e a China, que na visão da autora, seriam débeis em lutar contra a extrema direita, o que é um pensamento ridículo e que analisaremos mais para a frente.

O texto se inicia com:

A União Nacional dos Estudantes é dirigida há quase 40 anos pelo campo governista, PCdoB e PT, que defendem um velho projeto de esquerda incompatível com a crise climática. Por isso o Juntos! não é apenas oposição a gestão da entidade, mas propõe para esse Congresso da UNE o Encontro dos Estudantes Ecossocialistas e Internacionalistas, para que tenhamos uma esquerda à altura das necessidades históricas da nossa geração.

Ou seja, o problema principal no controle da UNE por PT e PCdoB, não seria a completa paralisação do movimento estudantil, mas sim, sua incompatibilidade com a crise climática. O que quer dizer a autora é, na verdade, que o PT e o PCdoB apostariam em uma política de desenvolvimento do Brasil, ou seja, apostam na industrialização do País, deixando de lado o clima e o meio ambiente, enquanto o Juntos! estaria propondo o exato contrário, desindustrializar o Brasil para combater as mudanças climáticas.

Por que os estudantes brasileiros defenderiam a desindustrialização do País? A resposta que o Juntos! nos dá é a de que a defesa da industrialização é uma política de conciliação de classes com a burguesia nacional, que não acaba com as desigualdades e que praticamente levariam o mundo ao seu fim em breve.

O que o Juntos! não percebe é que sua política também é uma política de conciliação de classes, não com a burguesia nacional brasileira, mas sim com o imperialismo, pois, é justamente o imperialismo e seus capangas dentro do Brasil que insistem em que o país não possa mais crescer.

Por exemplo, quando a discussão sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte começou, era justamente o imperialismo que insistia que o Brasil não deveria realizar sua construção. A burguesia doméstica do Brasil, por sua vez, apesar de se ver beneficiada com o projeto, não era exatamente a classe que exigia sua construção, pois, por medo do imperialismo, não tentam levar adiante projetos do tipo.

Quem pesava para a construção da usina era a própria classe operária brasileira, do mesmo jeito que exigia a construção de todas as obras do PAC. Ou seja, apesar de que a política de desenvolvimento nacional seja uma tarefa histórica da burguesia, hoje, quem o leva adiante são os operários, setores da pequena burguesia e do campesinato.

Um outro ponto importante para a discussão é a própria ideia do socialismo. Marx, por exemplo, jamais diria que é necessário deixar de desenvolver os meios de produção pois isso seria conciliação de classes. Para se ter uma ideia, Marx comemorou a vitória do norte dos EUA durante a Guerra Civil Americana pois sabia que a burguesia desenvolveria o país industrialmente, se livrando da escravidão e abrindo caminho para a vitória operária e o socialismo no futuro.

Isso, porque o socialismo é um regime de abundância, que necessita da industrialização a nível muito avançado para se concretizar.

No entanto, apesar de falar sobre o socialismo, o objetivo do  juntos não parece ser esse, mas sim, o de acabar com a extrema direita, como podemos ver no parágrafo seguinte. A  dúvida que fica é, como essa proposta de desindustrializar o Brasil auxiliaria contra a extrema direita?

Apesar das tentativas de defesa de que hoje não é mais necessário existir uma oposição dentro da UNE, a partir da justificativa da existência da extrema-direita, acreditamos que é justamente por isso, pela urgência e complexidade da situação que vivemos, que é necessário debater qual PROJETO é capaz de derrotar a extrema-direita e conquistar um futuro diferente para a maioria da população.

O capitalismo vive uma crise mundial desde 2008 ainda não resolvida. A existência da extrema-direita hoje representa a busca de um setor da burguesia por uma saída mais radical para resolver a crise, se necessário exterminando povos, direitos e natureza – com sua principal representação hoje sendo o que faz o Estado de Israel na Faixa de Gaza, apoiado pelo governo Trump.

O trecho acima, além de tudo, é cínico. Não foi o governo de Trump quem varreu Gaza com mísseis, mas sim, o governo de Joe Biden e Kamala Harris, nos EUA, mas também os governos “democráticos” da Itália, da França, da Inglaterra, da Alemanha,  do Japão, de Portugal, da Espanha e dos demais países imperialistas. Essa distinção, portanto, de que a extrema direita estaria a favor de eliminar povos inteiros, não deveria dar mais raiva do que a direita tradicional, que faz, no mínimo, a mesma coisa.

Continuando o texto, vemos como o Juntos! não faz ideia do que faz e  fala:

A burguesia já não aceita mais quase nada para os debaixo. O agronegócio não satisfeito em arrastar centenas de bilhões de reais do governo federal de orçamento para o desenvolvimento desse setor (notadamente apoiador da tentativa de golpe de Bolsonaro), precisa também do PL da devastação, para avançar ainda mais seu projeto de destruição que só enriquece poucos a custas da fome, da morte e da devastação ambiental.

O que o agronegócio teria a ver com o “nacional-desenvolvimentismo”? O latifúndio, palavra sempre utilizada pela esquerda no lugar de “agronegócio”, é uma classe social que não tem tarefas a cumprir no Brasil, sendo, inclusive, antagônica à burguesia nacional. Sendo assim, para se manter, o latifúndio necessita de uma aliança com o imperialismo, não justificando, portanto, nenhuma crítica ao “agronegócio” como crítica à burguesia nacional brasileira.

O centro de toda a questão, no entanto, vem mais abaixo:

“Mas essa construção de projeto comum que o campo governista tem com setores da burguesia, não se limita à esfera nacional. A referência e apoio aos governos russos e chinês, também escancaram o projeto envelhecido de esquerda que precisa ser superado. Esses países, que aliás demonstram seu fracasso enquanto “alternativa” no combate à extrema-direita mundial, ao não tomar nenhuma medida enfática na defesa do povo palestino diante do cinismo das principais instituições da burguesia liberal, também impulsionam projetos que contribuem para o mesmo desenvolvimento de forças produtivas de destruição, como a guerra imperialista deflagrada pela Rússia contra a Ucrânia e o plano de expansão do Agronegócio brasileiro impulsionado pela China.”

O parágrafo acima mostra como o Juntos! tem como aliado o próprio imperialismo na luta contra a população brasileira, e contra todos os povos do mundo. Isso porque a matéria ataca justamente dois dos três países principais na luta contra o imperialismo. Faltou falar do Irã, mas como os persas ficaram muito em evidência ao atacar e quase eliminar fisicamente “Israel” do mapa, o melhor que o Juntos! faz é fingir que o país não existe.

Sobre a Rússia, Fabiana Amorim “esquece” de comentar, enquanto fala do “fracasso” de combater a extrema direita, que o país está literalmente em guerra com o nazismo, já que, um dos objetivos estratégicos da Rússia na guerra é justamente a desnazificação da Ucrânia. É lógico, lembrar que o golpe orquestrado pelo imperialismo na Ucrânia levou nazistas ao poder, obrigaria também Fabiana de lembrar que quem sustenta a Ucrânia na guerra é o mesmo imperialismo, o mesmo que faz o genocídio em Gaza e que bombardeou o Irã.

Fabiana também se esquece que foi a Rússia o único país que lutou contra os nazistas que tomaram o poder na Síria, com o apoio de “Israel” e que a Rússia defende a soberania do Irã e, inclusive, têm acordos militares com o único Estado que se levantou contra “Israel”.

Em relação à China, é interessante como Fabiana também se esqueceu que um dos pontos centrais da política de Trump é contra o gigante asiático. Lógico, Trump tem uma política moderada em relação ao que Biden gostaria de fazer, que é entrar em guerra contra o país, mas, aqui não exigimos do Juntos! que lute contra o imperialismo, mas, pelo menos, tente lutar contra a extrema direita, que é o que o próprio Juntos! propõe.

Mas, em relação a que nem a Rússia, nem a China, conseguiram parar “Israel”, é importante destacar que o argumento de Fabiana é oportunista e hipócrita. Se utiliza do genocídio em Gaza para atacar a Rússia, a China e a exploração do petróleo no Brasil (como no parágrafo abaixo), mas, no que diz respeito à defesa da Palestina, só é possível encontrar uma única matéria dedicada ao tema no site do Juntos! desde o começo do ano.

Isso enquanto ocorre um genocídio. Para piorar, essa única matéria fala não do genocídio em si, mas sim, da  embarcação Madleen, também conhecida como Flotilha Liberdade, que tentou entrar em Gaza com ajuda aos palestinos. Ou seja, só se lembram da Palestina quando é conveniente com sua política.

Essa defesa não se resume a um debate abstrato de conceitos, mas como se posicionam sobre os temas mais centrais e estratégicos para combater a crise climática. Se hoje compreendemos que este é um dos principais problemas da nossa geração, é necessário ir à raiz e sermos consequentes na defesa de um programa independente. Sabe-se, que para frear o colapso ambiental, é necessário frear o desmatamento e o gasto excessivo de combustíveis fósseis. Durante muito tempo, o símbolo de sucesso do governo Lula, defendido pelos governistas, foi a expansão da perfuração de terra para exploração de petróleo nas costas brasileiras. A consequência desse crescimento desenfreado, foi o histórico acidente nas praias do nordeste brasileiro, afetando milhares de trabalhadores e espécies marinhas. Esse projeto, segue sendo levado adiante com o Leilão de diversos novos postos de perfuração de petróleo pelo país, sendo um deles rifado para o Centrão na Foz do Rio Amazonas, mesmo com todos os alertas contrários do IBAMA. Esse mesmo petróleo, segue sendo exportado para o Estado de Israel abastecer seus tanques contra o povo palestino.”

Além de lembrar da Palestina para justificar sua política impopular, o Juntos! não lembra também que o IBAMA somente ficou contra a exploração brasileira do petróleo, mas não contra a exploração por parte do imperialismo.

Por fim, trazemos um parágrafo engraçado:

  1. A ideia de que é possível construir grandes Estados Nacionais de Bem-Estar Social, que desenvolvam suas forças produtivas e tecnológicas para combater a desigualdade é uma fórmula que no passado já nos levou a derrotas, e que na atualidade, significa ainda mais o acirramento da crise climática e das desigualdades, pois demanda um crescimento e expansão econômica incompatível com o esgotamento dos recursos naturais – sabemos, para os mais pobres, que sofrem com o racismo climático.”.

Ou seja, a ideia de que desenvolver o País ajuda a acabar com as desigualdades é absurda, mas a de que devemos acabar com a indústria brasileira não? Qual seria o benefício para todas as pessoas que moram na rua? Para todos os trabalhadores que perderam  seus empregos, justamente, pela desindustrialização forçada pelo imperialismo durante os governos de FHC e Temer?

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Last Update: 08/07/2025